Guterres, que se emocionou, está "profundamente chocado" com os "relatos de violência e violações sexuais" em Bucha: "Nunca vou esquecer"

5 abr 2022, 16:30
António Guterres (LUSA)

Secretário-geral da ONU anuncia abertura de investigação

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) voltou a apelar ao fim da guerra na Ucrânia, nomeadamente através de negociações de paz que diz serem urgentes. Emocionado, referiu-se às imagens que chegaram da cidade ucraniana de Bucha, onde dezenas de corpos foram encontrados, muitos deles de civis alegadamente mortos pelas tropas russas. A narrativa do Kremlin fala de uma encenação ucraniana, mas imagens de satélite comprovam que os corpos já lá estavam há várias semanas.

“Nunca vou esquecer as horríveis imagens de civis mortos em Bucha”, afirmou António Guterres, anunciando a abertura de uma investigação para se apurar ao certo o que aconteceu naquela localidade nos arredores de Kiev. Para o principal rosto da ONU, esta guerra é um dos principais desafios desde a criação da organização: “Por causa da sua natureza, intensidade e consequências”, explicou.

“Também estou profundamente chocado com testemunhos pessoais de violência e violações sexuais”, acrescentou, lembrando que em cima da mesa estão possíveis crimes de guerra e violações dos direitos humanos. Tudo isto numa altura em que mais de 10 milhões de pessoas foram deslocadas, naquele que foi o “movimento forçado mais rápido de população desde a Segunda Guerra Mundial”.

Lembrando que os danos vão muito para lá das vidas humanas que se perdem todos os dias, António Guterres referiu a crise económica, sobretudo na subida dos preços de alimentos, combustíveis e fertilizantes, uma vez que Rússia e Ucrânia são países-chave neste tipo de produtos.

De resto, e segundo o secretário-geral da ONU, existem 74 países em vias de desenvolvimento, com uma população total de 1,8 mil milhões de pessoas, que estão “particularmente vulneráveis” ao aumento dos preços da energia e dos alimentos.

"No que diz respeito aos alimentos, pedimos a todos os países que mantenham os mercados abertos, resistam a ataques injustificados e restrições desnecessárias à exportação e disponibilizem reservas para países em risco de fome. Não é hora de protecionismo. (...) A nossa análise indica que 74 países em desenvolvimento, com uma população total de 1,8 mil milhões de pessoas, são particularmente vulneráveis ao aumento dos custos de alimentos, energia e fertilizantes", salientou Guterres.

“Por todas estas razões, é cada vez mais urgente calar as armas”, acrescentou.

Centenas de civis mortos foram encontrados em Bucha, uma cidade a 60 quilómetros de Kiev, espalhados na rua, nalguns casos com as mãos amarradas atrás das costas e atirados para valas comuns, tendo as autoridades ucranianas e os seus aliados acusado os soldados russos de terem cometido esses crimes quando ocuparam a cidade.

Moscovo rejeitou qualquer responsabilidade e disse tratar-se de uma encenação de Kiev.

Além de referir as vítimas mortais e os danos nas infraestruturas da Ucrânia causados pela guerra, Guterres afirmou que ofensiva russa também levou ao deslocamento de mais de dez milhões de pessoas em apenas um mês, "o movimento populacional forçado mais rápido desde a Segunda Guerra Mundial".

O ex-primeiro-ministro português pediu uma ação urgente do G20 e das instituições financeiras internacionais para aumentar a liquidez e o espaço fiscal para que os Governos possam fornecer redes de segurança para os mais pobres.

"As instituições financeiras internacionais devem entrar em modo de emergência. (...) A reforma que venho pedindo do sistema financeiro global está muito atrasada", disse.

António Guterres lamentou ainda "profundamente (…) as divisões" que têm impedido o Conselho de Segurança de agir não apenas na Ucrânia mas em relação a outras ameaças à paz e à segurança em todo o mundo.

"Exorto o Conselho a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para pôr fim à guerra e mitigar o seu impacto, tanto sobre o povo sofredor da Ucrânia, como sobre as pessoas vulneráveis e países em desenvolvimento ao redor do mundo", concluiu.

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