Grupo Wagner reivindica controlo total de Bakhmut, Ucrânia nega. O que se sabe até agora

CNN Portugal , MJC/JGR
20 mai 2023, 14:45
Cidade de Bakhmut (Libkos/AP)

As alegações russas foram imediatamente negadas pelas forças ucranianas: "Isso não é verdade. As nossas unidades estão a lutar em Bakhmut", disse o porta-voz militar Serhiy Cherevatyi à Reuters

Yevgeny Prigozhin, o fundador do grupo de mercenários russos Wagner, que tem estado na dianteira dos combates pela conquista de Bakhmut, anunciou este sábado o "controlo total" da cidade de Bakhmut, na região de Donetsk. A notícia está a ser avançada pela agência Reuters.

As alegações russas foram imediatamente negadas pelas formas ucranianas: "Isso não é verdade. As nssas unidades estão a lutar em Bakhmut", disse o porta-voz militar Serhiy Cherevatyi à Reuters. Também a vice-ministra da Defesa. Hanna Maliar, afirmou que "a situação é crítica" e que prosseguem os "combates intensos" em Bakhmut. "Os nossos defensores controlam algumas instalações industriais e de infra-estruturas", especificou numa mensagem no Telegram.

Prigozhin fez o anúncio num vídeo em que parece estar na linha da frente, com os combatentes a segurarem bandeiras russas e do grupo Wagner. “Hoje, ao meio-dia, Bakhmut foi completamente tomada. Tomámos a cidade inteira, casa a casa", disse Prigozhin. Acrescentou que as suas forças vão deixar a cidade a 25 de maio, transferindo o controlo para unidades do exército russo. Explosões distantes podiam ser ouvidas ao fundo enquanto Prigozhin falava durante o vídeo. A declaração do líder do grupo de mercenários não foi ainda confirmada de forma independente pelas agências internacionais.

O anúncio da tomada de Bakhmut era esperado a qualquer momento, como salientou o major-general Agostinho Costa em declarações esta manhã à CNN Portugal, sublinhando que até segunda-feira a cidade deixaria de ser ucraniana e passaria a ser russa. É, portanto, esperada a mudança de nome para Artemovsk, como lhe chamam os russos. 

"A cidade [Bakhmut] é um centro importante para a defesa das tropas ucranianas no Donbass. Tomar a cidade vai permitir lançar novas ações ofensivas dentro das linhas defensivas da Ucrânia", argumentou o ministro da defesa russo, Serguei Shoigu, numa declaração televisiva em março passado. Shoigu considerava que a cidade é crítica para a Rússia poder “furar” a linha defensiva ucraniana e poder conduzir operações no interior do território ucraniano.

A solução encontrada pelas chefias militares russas foi idêntica à encontrada noutros locais: bombardear posições inimigas até à exaustão, lançando em seguida investidas de infantaria apoiada por veículos blindados. Um potente cocktail de munições de 152 mm, explosivos de fósforo branco e bombas termobáricas choveram sobre os edifícios da cidade ininterruptamente, sete dias por semana, 24 horas por dia. Mas qualquer investida russa contra as posições ucranianas encontravam uma feroz resistência.

O número de baixas foi descrito como “bastante significativo” e as imagens que chegaram fizeram lembrar o desastre de Mariupol. Em dezembro, Zelensky acusou a Rússia de transformar “outra cidade do Donbass em ruínas”.

“Esta batalha faz-nos lembrar o cerco de Mariupol, com um nível de destruição da cidade quase total. A única diferença é que aqui os soldados não estão completamente cercados”, dizia o major-general Isidro de Morais Pereira, em declarações à CNN Portugal.

“É uma clássica batalha de assalto urbano, com a Rússia a fazer grandes assaltos frontais de infantaria contra posições pré-preparadas que resultam em baixas imensas e avanços mínimos, quando sequer os conseguem. A Rússia deve ter tido entre três a quatro vezes mais baixas do que a Ucrânia, mas isso pode não ser decisivo”, referiu o historiador António José Telo.

“É a batalha mais mortífera da guerra da Ucrânia e onde diferentes maneiras de pensar a guerra se cruzaram. Com forças inferiores, a Ucrânia conseguiu resultados militares no terreno que não deviam acontecer, mas aconteceram. É uma grande vitória da Ucrânia continuar a resistir ao fim de nove meses. No entanto, ainda não sabemos se esta manobra se justifica”, afirmava o historiador António José Telo.

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