“Esta criança estava a dormir pacificamente quando um míssil russo atingiu a sua casa". Moscovo bombardeia Kiev no dia em que os líderes do G7 preparam novas sanções

26 jun 2022, 12:22
Criança bombardeada

A capital ucraniana foi novamente bombardeada enquanto nos alpes da Bavaria os líderes das sete economias mais poderosas do mundo debatem como incrementar a pressão sobre os oligarcas russos. O ouro pode virar o jogo, diz Boris Johnson

Desde o início da guerra que Putin tem escolhido os momentos para lançar ataques a cidades históricas ucranianas. Fê-lo um mês após o início da guerra quando atingiu Lviv, que fica a cinco horas de Varsóvia onde Joe Biden estava a discursar. Fê-lo em Kiev quando Guterres visitava a capital após ter testemunhado a devastada e aterrorizada cidade de Bucha. E este domingo, depois de cerca de três semanas sem um ataque idêntico, as forças russas voltaram a bombardear Kiev, atingindo um prédio residencial e um jardim de infância enquanto os líderes do G7 preparam na Baviera para novas medidas diplomáticas para penalizar Moscovo. Mais uma vez, o timing foi escolhido com precisão.

Este último ataque, que fez pelo menos um morto, colocou as equipas de resgate a executar operações contrarrelógio no mesmo prédio onde, no final de abril, uma jornalista da Radio Liberty foi morta por um bombardeamento semelhante. Das operações de emergência, surgiu uma fotografia impactante partilhada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros para apressar Biden, Johnson, Macron, Scholz, Draghi, Trudeau e Kishida a avolumar as sanções à Rússia.

A fotografia, tirada durante as operações de resgate, mostra uma menina de sete anos deitada numa maca e coberta até à zona do peito com uma capa dos serviços de emergência ucranianos. O cabelo claro está encardido com a cinza das explosões. Tem os olhos fechados, sangue por baixo do lábio e a mão presa a uma mão de uma socorrista. “Esta criança estava a dormir pacificamente em Kiev quando um míssil de cruzeiro russo atingiu a sua casa. Muitas mais na Ucrânia estão sob ataque. A reunião do G7 deve responder com mais sanções à Rússia e mais armas pesadas para a Ucrânia. O imperialismo doente da Rússia deve ser derrotado”, escreveu Dmytro Kuleba no Twitter. 

Segundo Vitaliy Klitschko, presidente da câmara de Kiev, a criança está estável e a ser acompanhada pelos serviços de emergência. No seu canal de Telegram, informou que 25 pessoas foram hospitalizadas após o ataque ao prédio residencial. Klitschko também anunciou que os mísseis russos atingiram uma creche na capital, mas revelou que não existiram feridos e os danos concentraram-se apenas numa conduta de água.

Para Sónia Sénica, investigadora em Relações Internacionais no IPRI-NOVA, esta chuva de mísseis que atingiu a capital ucraniana quer passar, por um lado, “a mensagem de grande pressão e de intimidação da população ucraniana”, algo que “já faz parte de um playbook conhecido da guerra da Rússia, o de minar a moral dos ucranianaos”, e, por outro lado, “remete para uma mensagem para o G7, mas também para a cimeira da Nato em Madrid, onde se vão tomar decisões importantes sobre o apoio do ocidente à Ucrânia”. 

Enquanto os bombeiros e socorristas entravam no complexo de apartamentos para resgatar vítimas, incluindo a mãe da criança de 7 anos, e combater as chamas, Boris Johnson chegava aos alpes bavarianos e, antes do início da reunião, antecipava um acordo entre o Reino Unido, o Canadá, o Japão e os Estados Unidos para proibir as importações de ouro russo.

A decisão é entendida como uma numa nova tentativa para impedir os oligarcas de comprar o metal precioso e assim contornarem o impacto das sanções contra Moscovo, segundo disse o primeiro-ministro britânico no domingo. Esta ação conjunta "irá atingir directamente os oligarcas russos e atacar o coração da máquina de guerra de Putin". A mesma ideia foi passada por Joe Biden antes de entrar para o Schloss Elmau, um luxuoso resort e spa e também o local dos três dias de encontro do G7.

Na antecipação desta reunião, o chanceler da Alemanha já tinha avisado que “certamente, não vamos conseguir mover montanhas”. É uma apreciação “realista”, explica Sónia Sénica, garantindo, no entanto que, após estes recentes bombardeamentos, Zelensky vai novamente fazer pressão para agilizar a execução de sanções mais violentas à Rússia, mas também novos pedidos de armamento. “Os pedidos de armamento vão sair mais reforçados e vão ter mais legitimidade após este ataque a Kiev, cada míssil vai servir também como um novo argumento”, afirma Sónia Sénica, referindo também que “é importante notar que o falhanço estratégico para o Kremlin de não ter feito capitular Kiev não está esquecido” e “nenhuma área estará livre de ser atacada de forma intensa e vil pela Rússia”. 

Na manhã de domingo, e num momento em que se continua a ouvir explosões em Kiev, Moscovo adiantou também que nos últimos dias foram utilizadas armas de alta precisão para atacar centros de treino do exército ucraniano nas regiões de Chernihiv, Zhytomyr e Lviv da Ucrânia.

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