Os primeiros quatro caças polacos vão ser entregues a qualquer momento, seguindo-se de forma gradual os que ainda estão em manutenção. Bratislava ficará sem aviões de combate, mas o seu espaço aéreo será protegido pelos países vizinhos
Polónia e Eslováquia anunciaram esta semana que vão enviar caças MiG-29 para a Ucrânia, respondendo finalmente a um dos pedidos mais insistentes de Volodymyr Zelensky desde o início da guerra.
O governo de Varsóvia foi o primeiro a confirmar o fornecimento dos aviões. “Foi tomada uma decisão ao mais alto nível, podemos dizer com confiança que estamos a enviar MiGs para a Ucrânia”, disse o presidente polaco Andrzej Duda na quinta-feira, citado pela CNN Internacional.
Duda afirmou que a Polónia vai enviar quatro MiG-29 imediatamente, enviando os que estão em manutenção de forma gradual durante os próximos meses.
Esta sexta-feira, foi a vez do executivo eslovaco confirmar que foi aprovado o envio dos 13 MiG-29 atualmente ao serviço da força aérea do país. “Estamos do lado certo da história”, afirmou o primeiro-ministro Eduard Heger durante o anúncio.
Pela doação, a Eslováquia vai receber 200 milhões de euros da União Europeia, como compensação por ficar sem aviões de combate. Com os seus caças em terra, por falta de manutenção e peças de substituição, o espaço aéreo da Eslováquia está a ser monitorizado pela Polónia e República Checa, com a Hungria a juntar-se num futuro próximo.
O envio destes aviões enquadra-se num plano de modernização da Força Aérea dos dois países. A Polónia irá substituir os caças soviéticos pelos americanos F-35 e pelos aviões sul-coreanos FA-50, enquanto Bratislava já estabeleceu um acordo para a compra de 14 F-16, a serem entregues em 2024.
Porquê os MiG-29?
Estes aviões de combate foram construídos na União Soviética e fornecidos aos países do Pacto de Varsóvia durante a década de 80. Muitas das forças aéreas destes países, incluindo a da Ucrânia, continuam a operar estes aviões, pelo que os pilotos não necessitam de treino específico e tempo de adaptação para os utilizar nos céus de batalha.
Logisticamente, é também mais fácil para a Ucrânia manter os MiG-29 no ar, dada a disponibilidade de peças de substituição e a preparação dos mecânicos para lidar com estes aviões.
Ainda assim, o presidente Volodymyr Zelensky não ficará totalmente satisfeito, uma vez que os aviões que mais pretende são os F-16. No entanto, tanto os Estados Unidos como os restantes aliados mais poderosos do Ocidente continuam firmes na sua posição de não enviar estes caças.
“Não muda a nossa posição em relação ao envio dos F-16”, afirmou John Kirby, do Conselho de Segurança Nacional, em reação ao anúncio do presidente polaco. "Estas são decisões soberanas que qualquer país deve tomar e nós respeitamos essas decisões soberanas. Eles podem determinar não só o que vão dar, mas também como o vão caracterizar”, disse, referindo também que o presidente Joe Biden não se vai deixar influenciar pela decisão.
Também o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, descartou o envio de F-16. "Até agora, todos concordaram que não é o momento de enviar aviões de combate", disse, citado pela Time.
Ainda assim, os especialistas acreditam que a decisão inédita tomada pela Polónia e pela Eslováquia vai pressionar os aliados mais poderosos da Ucrânia. "Isto pode ser um ponto de viragem para quando as capitais ocidentais começarem a reavaliar as suas decisões anteriores, de recusar o envio de aviões de combate para a Ucrânia”, considera George Barros, analista do Institute for the Study of War, à revista americana.
"Nós, o Ocidente coletivo, temos vindo lentamente a aperceber-nos de que as exigências do campo de batalha ucraniano são tão intensas, e estes sistemas preencheram de facto as lacunas de capacidade, que se queremos que os ucranianos ganhem - como dizemos que vai acontecer - precisamos realmente de lhes dar mais coisas”, completa.
Barros nota, no entanto, que há um grande receio de enviar estes aviões uma vez que, ao contrário de outros tipos de armamento já fornecidos, podem ser usados para atacar o território russo com maior facilidade, o que levaria, possivelmente, a uma escalada ainda maior do conflito. Também o treino dos pilotos ucranianos, que deverá durar nove meses, pode inviabilizar o impacto imediato de uma doação.
Também sem tremer, mas por razões diferentes, está o Kremlin. Esta sexta-feira de manhã, instado a comentar as doações dos países da NATO, o porta-voz Dmitry Peskov limitou-se a dizer que estes aparelhos “vão ser destruídos, à semelhança do que aconteceu com outros”.