Energodar resiste. A importância da cidade que tem a maior central nuclear da Europa

CNN Portugal , MJC
2 mar 2022, 15:31
Central nuclear de Energodar, Ucrânia (Arquivo AP)

A população de Energodar defende os acessos à cidade, mas os russos garantem que já controlam o "território em volta da central nuclear de Zaporizhzhia". Rafael Grossi, diretor da Agência Internacional de Energia Atómica, assume a preocupação: "Um acidente nuclear pode ter um impacto grave além das fronteiras do país"

Apesar de Rússia ter anunciado ter já o controlo da cidade ucraniana de Energodar, ao final do dia de terça-feira o presidente da Câmara de Energodar, Dmytro Orlov, publicou nas redes sociais a informação de que a cidade resistia aos avanços russos: "Por mais de duas horas, uma fila de moradores desarmados de Energodar, com um quilómetro de extensão, não permitiu que a coluna do agressor entrasse na cidade. Energodar foi e permanece sob as bandeiras da Ucrânia. Agora, um grande número de armas inimigas está localizado perto da cidade. Portanto, é impossível reduzir a vigilância!".

Um vídeo que está a ser partilhado nas redes sociais mostra os moradores a defenderem os acessos à cidade. Foram colocados camiões do lixo nas estradas e formadas trincheiras para impedir o avanço dos tanques. Defendem a sua cidade, mas defendem também a central nuclear que ali está instalada. 

Energodar é uma cidade no sul da Ucrânia, localizada na margem esquerda do rio Dnieper, perto do reservatório de Kakhovka. A cidade foi fundada em 12 de junho de 1970 para servir a Central Nuclear de Zaporizhzhia, a maior central de energia da Europa. Além da central nuclear, o outro grande empregador da região é a central termoelétrica a carvão propriedade da empresa ucraniana DTEK. 

A Ucrânia tem quatro centrais nucleares ativas: Zaporizhzhia, Rivne, Khmelnytsky e South-Ukraine. No total, as quatro centrais nucleares têm 15 reatores, seis dos quais encontram-se em Zaporizhzhia. Os 15 reatores nucleares produzem metade da energia que o país produz. 

Até ao momento, os relatórios feitos à Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) confirmam que a produção nuclear da Ucrânia se mantém “estável ​​e em operação normal”. De acordo com o comunicado desta quarta-feira do diretor-geral Rafael Mariano Grossi, o pessoal da central continua o seu trabalho, "garantindo a segurança nuclear e monitorização da radiação, operando de modo normal". "Os níveis de radiação permanecem normais". 

"A situação na Ucrânia não tem precedentes e continuo seriamente preocupado. É a primeira vez que um conflito militar está a acontecer junto às instalações de um grande programa de energia nuclear, que neste caso também inclui o local do acidente de 1986 na central nuclear de Chornobyl", diz Rafael Grossi. E alerta: "A segurança das instalações nucleares na Ucrânia não deve, em nenhuma circunstância, ser ameaçada".

"Apelei à contenção de todas as medidas ou ações que possam comprometer a segurança do material nuclear e outros materiais radioativos, e a operação em segurança de quaisquer instalações nucleares na Ucrânia, porque qualquer incidente desse tipo pode ter consequências graves, agravando o sofrimento humano e causando danos ambientais."

Grossi confirma que a Rússia informou ontem a agência de que assumiu o controlo do "território em volta" desta central nuclear. E deixa o aviso: "É de importância extrema que o conflito armado e as atividades no terreno em volta da central nuclear de Zaporizhzhya e de qualquer outra instalação nuclear da Ucrânia não interrompam ou coloquem em perigo as instalações ou as pessoas que trabalham nelas ou nas suas proximidades". O diretor da AIEA recorda que "um acidente nuclear pode ter um impacto grave além das fronteiras do país em que ocorre".

Update 6: #Russia tells IAEA its military forces have taken control of territory around #Ukraine’s #Zaporizhzhia Nuclear Power Plant, Director General @RafaelMGrossi says. https://t.co/oTChJY2Kkj pic.twitter.com/o5LUNM9y24

— IAEA - International Atomic Energy Agency (@iaeaorg) March 2, 2022

À CNN Portugal, Romão Ramos, do Movimento Ibérico Antinuclear, explicou que, no caso de alguma das centrais nucleares ucraniana ser atingida por um míssil, poderia ocorrer um acidente semelhante ao de Chernobyl em 1986, com o levantamento de uma nuvem de radiotividade e com os efeitos a fazerem-se sentir na Ucrânia mas também noutros países, sobretudo a norte, como a Bielorrússia, a Suécia, a Finlândia e a Noruega e, eventualmente, a Alemanha e a Áustria.

Além da preocupação com os danos nas centrais nucleares, os especialistas referem ainda a dificuldade de garantir a operação em segurança nas centrais, quando muitos funcionários não vão trabalhar por terem medo ou por estarem a defender o seu país.

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