Remodelação já tinha sido anunciada, mas houve quem não quisesse esperar e tenha preferido antecipar-se na decisão. Admite-se a saída de mais de 50% do governo
O porta-voz do partido que governa a Ucrânia tinha prometido uma “mudança importante” no executivo, antevendo alterações em “mais de 50% dos membros do Conselho de Ministros”. Mas as mudanças, sobre as quais David Arakhamia não deu justificações, começaram ainda antes do previsto.
Antecipando a jogada, os ministros das Indústrias Estratégicas, da Justiça e do Ambiente e Recursos Naturais, entregaram as suas próprias cartas de demissão ao parlamento ucraniano, cujo presidente deu conta da receção ainda esta terça-feira.
Já se sabia que Alexander Kamishin, Denis Maliuska e Ruslan Strilets, respetivamente, estavam na porta de saída, pelo que os próprios optaram por serem eles a abri-la, até porque o porta-voz do governo tinha anunciado estas saídas para quarta-feira.
No caso de Kamishin, que era responsável por grande parte da produção de armamento, foi o próprio a garantir que vai apenas saltar de responsabilidade, esperando-se que venha a desempenhar um cargo no setor da Defesa, onde vai "continuar a trabalhar, mas com um papel diferente".
Em paralelo, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou a demissão do vice-chefe do gabinete presidencial, Rostyslav Shurma, que estava no cargo desde novembro de 2021. O decreto, publicado na página da presidência, não confirma a razão do despedimento.
Também a vice-primeira-ministra Olha Stefanishyna, que era responsável pela pasta da Integração Europeia, anunciou a sua demissão, isto já depois de se ter sabido da saída antecipadas dos três ministros.
Horas depois foi a vez de Iryna Vereshchuk, também ela vice-primeira-ministra, mas com a pasta da Reintegração dos Territórios, anunciou a demissão, agradecendo a oportunidade a todos os responsáveis, incluindo ao presidente.
Fala-se ainda de uma outra remodelação, esta talvez mais surpreendente. Diz o Pravda ucraniano que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, também pode vir a ser demitido pelo governo.
Esta grande remodelação no governo ucraniano surge numa altura crucial da guerra, com a Ucrânia a forçar a Rússia no seu território, na região de Kursk, mas a perder terreno diariamente na frente de Donetsk, onde a situação está particularmente tensa na cidade de Pokrovsk, considerada essencial para as operações no Donbass.
Zelensky já tinha admitido, de resto, que era possível que viessem aí mudanças. "O outono vai ser extramemente importante. As instituições do Estado devem ser reestruturadas de forma a que a Ucrânia consiga atingir os resultados de que precisa", afirmou.
"Para isso precisamos de fortalecer algumas áreas de governo e mudanças estão preparadas. Também vão existir mudanças no gabinete [presidencial]", reforçou.
Também esta terça-feira, e de acordo com o jornal Pravda, o diretor de supervisão da Ukrenergo, empresa que gere as operações de eletricidade do país, anunciou a sua saída. Com Daniel Dobbeni sai também Peder Anderson, sendo que a carta de demissão assinada pelos dois refere a existência de pressões políticas.
"Acreditamos que esta decisão de sair mais cedo da direção da Ukrenergo foi politicamente motivada e baseada nos resultados do relatório apresentado", refere a carta.