A Rússia proibiu os seus cidadãos de comprarem dólares americanos, completando assim o isolamento de uma economia que outrora teve ambições de se juntar ao clube mundial das potências financeiras.
Não há muito tempo, na crise financeira global de 2008, o presidente russo Vladimir Putin e os seus conselheiros promoveram o rublo como uma potencial alternativa ao dólar americano, argumentando que devia ser uma parte integrante do sistema financeiro global. A Rússia poderia então tornar-se uma das cinco maiores economias do mundo, alegavam.
A cruzada de Putin para dominar os seus vizinhos, a começar pelo ataque à Geórgia em 2008, e continuando depois com a anexação da Crimeia, em 2014, e a invasão à Ucrânia no mês passado, destruiu o que restava dos sonhos económicos do líder autoritário.
No início de 2008, um dólar americano comprava cerca de 25 rublos. Desde então, a moeda russa perdeu bastante valor e as sanções ocidentais impostas em resposta à invasão da Ucrânia colocaram-na em total queda livre. Na quarta-feira, um dólar americano comprava 117 rublos em Moscovo, depois de a moeda ter caído 10% e ter atingido um novo mínimo recorde. Esta semana, o rublo esteve ainda mais fraco no mercado offshore.
A última queda aconteceu depois de o banco central da Rússia ter proibido os russos de comprarem moedas fortes e de ter ordenado aos bancos que limitassem os levantamentos em moeda estrangeira a 10 mil dólares durante os próximos seis meses, medidas que podem ajudar a manter algumas das reservas em dólares do país e também a apoiar o rublo.
Sergey Aleksashenko, antigo Ministro das Finanças da Rússia e funcionário do banco central, descreveu a estratégia como uma “idiotice incrível” que pode levar a uma corrida aos bancos.
“Aparentemente, a saída de depósitos em moeda estrangeira dos bancos russos excedeu as previsões do Banco da Rússia e questionou a capacidade dos bancos de cumprirem as suas obrigações”, escreveu numa newsletter.
“O maior erro que a autoridade monetária pode cometer na Rússia é mexer nas poupanças privadas. Se não houve uma corrida aos bancos até agora, preparem-se”, acrescentou Aleksashenko.
A Rússia tem lutado para evitar o colapso financeiro desde que os Estados Unidos, a União Europeia e outros aliados ocidentais impuseram sanções a grande parte do sistema bancário do país, incluindo o congelamento de reservas no valor de centenas de milhares de milhões de dólares que Moscovo estava a acumular, há anos, para proteger a economia. Os analistas estimam que mais de metade das reservas russas de moeda estrangeira e ouro estejam agora inacessíveis.
O banco central mais do que duplicou as taxas de juros para os 20% e proibiu temporariamente os corretores russos de venderem títulos detidos por estrangeiros. O governo deu ordens aos exportadores para que troquem 80% das suas receitas em moeda estrangeira por rublos e proibiu os cidadãos russos de fazerem transferências bancárias para fora da Rússia.
O rublo está agora sob uma intensa pressão, e o fracasso de Moscovo em defender a sua moeda traduzir-se-á num sofrimento económico. A Rússia é um dos principais exportadores de petróleo e de gás, mas muitos outros setores da economia dependem das importações. À medida que o valor do rublo cai, esses produtos tornar-se-ão muito mais caros, o que fará subir a inflação.
A Fitch Ratings reduziu o rating de crédito da Rússia na terça-feira, e alertou para o facto de um incumprimento ser “iminente”.
“O agravamento das sanções e as propostas que podem limitar o comércio de energia, aumentam a probabilidade de uma resposta política da Rússia que inclui, pelo menos, o não pagamento seletivo das suas obrigações de dívida soberana”, disse a agência de ratings, num comunicado.
Mesmo com a Rússia à beira do incumprimento, os países ocidentais continuam a lançar restrições punitivas destinadas a isolar ainda mais Moscovo. Os Estados Unidos e o Reino Unido proibiram as importações de energia russa na terça-feira, e a União Europeia disse que tentaria reduzir as importações de gás natural em 66% este ano.
Para Moscovo, os custos estão a aumentar. A decisão do banco central de impedir que os russos comprem dólares americanos marca o fim do rublo, segundo Anders Åslund, economista e antigo conselheiro do governo russo.
Russia has suspended the sale of foreign currencies until September 9, the central bank said Wednesday.
— Anders Åslund (@anders_aslund) March 8, 2022
Between March 9 and September 9 "the banks will not be able to sell foreign currencies to citizens." (AFP)
All ruble convertibility is over. Putin has destroyed the ruble.
“A conversibilidade do rublo acabou. Putin destruiu o rublo”, disse Åslund no Twitter.