Luba deita-se todas as noites com a esperança que amanhã seja diferente.
Atravessa sozinha dias, com horas intermináveis Sente o medo de quem nunca está seguro. Perdeu todos os que ama. 2 netos no ataque à estação de comboios, em Kramatorsk, em abril passado. Meses antes da guerra ficou sem o segundo filho.
A dor visita-a sempre em dupla.
Tem 86 anos. Vive,só, num terceiro andar de um bairro pobre em Mikolaivka, a cerca de 45 minutos de Kramatorsk. Vale-lhe a ajuda de vizinhos que em tempos de guerra seguram-se na solidariedade.
O esforço fê-la chegar ao limite. Deixou de ser quem era para passar a ser no que se tornou. Uma mulher dominada pelo medo, perdida no olhar. Desfaz-se em explicações numa ansiedade descontrolada. É a fragilidade em cima da fragilidade .
Luba será a imagem de milhares de idosos na Ucrânia entregues à propria sorte. Quantos não existirão assim, sozinhos, a viver em casas debaixo de bombardeamentos constantes?
Despedi-me dela, dei-lhe um beijo, um abraço, forte. Custou-me muito deixá-la.
A guerra destrói por dentro. Fere tudo o que se move.
Carla Rodrigues e João Franco são os enviados da CNN Portugal a Kramatorsk, na Ucrânia