Cada vez mais irritado, frustrado e fechado numa "bolha de propaganda". O que dizem os EUA sobre Putin

14 mar 2022, 14:27
Vladimir Putin (AP Images)

A invasão russa da Ucrânia dura há quase três semanas, mas Vladimir Putin não dá sinais de querer terminar o conflito. Serviços secretos dos EUA admitem que o presidente russo pode aumentar a violência sem olhar às vidas de civis

As agências de informação norte-americanas têm procurado apurar o estado de espírito de Vladimir Putin, depois de quase três semanas de invasão russa da Ucrânia, para tentarem antecipar as próximas ações do Kremlin. E as conclusões não são animadoras: de acordo com o retrato traçado pelos Estados Unidos, o presidente russo parece projetar cada vez mais raiva e frustração perante as dificuldades dos militares na Ucrânia, demonstrando vontade de causar ainda mais violência e destruição na ofensiva militar a Kiev.

Segundo a agência de notícias AP, altos funcionários das secretas americanas têm dito publicamente nos últimos dias que Putin poderá optar pela escalada de violência para tentar vencer a resistência ucraniana e está isolado naquilo que é descrito pelo diretor da CIA, William Burns, como uma "bolha de propaganda" que o impede de sentir qualquer pressão interna. 

Na semana passada, vários responsáveis dos serviços de informação norte-americanos falaram perante o congresso dos EUA e manifestaram preocupação com as próximas ações de Putin, que nas últimas duas décadas conseguiu impor-se na Rússia de forma total, rodeando-se de um círculo restrito de oligarcas e capaz de eliminar a oposição.

Segundo o que foi divulgado no congresso, o presidente russo esperava dominar Kiev em dois dias e não contava com dificuldades no terreno, mas até agora ainda não conseguiu controlar a capital da Ucrânia e as forças russas terão sofrido perdas significativas. Também o impacto das sanções impostas pelo Ocidente à Rússia estará a contribuir para o agravar do estado de espírito de Putin: as reservas de moeda estrangeira que o Kremlin tinha acumulado contra eventuais penalizações estão agora inacessíveis e congeladas em bancos estrangeiros. 

O diretor da CIA, que é um antigo embaixador dos EUA em Moscovo, disse, perante o congresso, que Putin tem estado "a cozinhar numa combinação inflamável de rancor e ambição por muitos anos". Segundo Burns, que por várias vezes se encontrou com Putin, o presidente russo não está num estado de insanidade, mas sentir-se-á "irritado e frustrado", pelo que é de esperar que tente desgastar o exército ucraniano sem respeito pelas vidas civis. 

E enquanto não há fim à vista para a guerra, Avril Haines, diretora de Inteligência Nacional da Casa Branca, admite que Putin olha para este conflito como uma guerra "que não pode dar-se ao luxo de perder", mas que aquilo que o Kremlin poderá aceitar como vitória "pode mudar ao longo do tempo, dados os custos significativos em que ele está a incorrer".

Com o avolumar das perdas russas, o Ocidente, assinala a AP, está também à procura de brechas na "bolha de propaganda" de Putin. O Levada Center, um centro independente de sondagens russo, quis saber, antes da invasão da Ucrânia, quem é que os russos consideravam os "iniciadores" do conflito: 60% dos inquiridos responderam NATO e Estados Unidos e apenas 3% consideraram que era a Rússia.

A sondagem foi conduzida nos meses de janeiro e fevereiro, não tendo sido publicado qualquer novo inquérito desde que a guerra começou. Mas um analista independente russo, Kirill Rogov, já publicou no Telegram que considera que a guerra está perdida e que foi um "falhanço épico", acrescentando que Putin cometeu vários erros, nomeadamente o de julgar que o Ocidente estaria dividido e não daria uma resposta veemente à guerra, ou o de considerar a economia russa autossuficiente. 

A expectativa é a de que os russos comecem a responder de forma negativa à governação de Putin perante o declínio das condições de vida que tem acontecido em consequência das sanções aplicadas a Moscovo, já que a máquina de propaganda estatal não dá sinais de abrandar: os meios de comunicação controlados pelo regime continuam a difundir uma versão dos factos que responsabiliza pela guerra os EUA e o governo ucraniano. 

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