Autoridades russas andam a "caçar" homens nas ruas de Moscovo para a frente da guerra

17 out 2022, 20:16
Centenas de detidos na Rússia em protestos contra a mobilização

Cerca de 300 mil russos já fugiram do país desde que Vladimir Putin decretou a mobilização parcial

As autoridades russas estão a “caçar” homens nas ruas das cidades do país para os destacar para a frente de combate na Ucrânia, avança o The Washington Post.

O jornal americano relata um episódio ocorrido na semana passada, em que polícia e militares percorreram um centro de negócios de Moscovo e apreenderam praticamente todos os homens que viram – músicos, estafetas, até mesmo um homem deficiente.

“Não sei porque o levaram” diz Alexei ao jornal. Tal como muitos naquele escritório, Alexei foi levado para um centro de recrutamento. "Eu estava em pânico, nunca tinha sido detido. Todos sabem que ser detido pela polícia na Rússia é muito mau", confessa.

Alexei descreve-se como um “pacifista” e vivia com o seu gato na capital. Antes de ser mobilizado, conta o jornal, estava a planear as suas próximas férias num destino europeu.

Para evitar enfrentar o destino de Alexei, cerca de 300 mil russos fugiram do país para destinos próximos, como a Geórgia, Arménia ou Cazaquistão. O fenómeno está já a ser combatido pelas autoridades russas, que colocaram checkpoints nas fronteiras para evitar esta fuga em massa.

O The Washington Post entrevistou o ativista russo Grigory Sverdlin, que fugiu para a Geórgia e fundou a organização “Go By The Forest”, para aconselhar aqueles que querem fugir à guerra. Sverdlin garante já ter conseguido ajudar oito recrutas a renderem-se com sucesso na Ucrânia. "Obviamente, as pessoas estão muito stressadas Têm medo que sejam forçadas a disparar contra outras pessoas. Portanto, as pessoas têm medo não só por elas próprias, mas também de participar nesta guerra injusta", conta.

Há, no entanto, quem não possa fugir do país e opte por se refugiar no campo. É o caso de Yevgeny, de 24 anos, que não tem passaporte, e que se despediu do emprego e apagou todo o seu rasto na internet, rumando à dacha de um familiar.

"Eu não quero matar pessoas, e não quero ser morto, por isso tenho mesmo de me esconder agora. Mas mesmo aqui, não me sinto seguro. Vivemos numa época em que os vizinhos nos podem denunciar. Eles podem chamar a polícia e dizer que há um jovem que está nesta casa quando deveria estar a lutar contra os fascistas na Ucrânia”, diz, lamentando o facto de dois dos seus amigos terem já sido mobilizados. "Tenho dois amigos que apoiaram a guerra acreditando que há lá nazis que matam os pobres ucranianos e que os ucranianos devem ser libertados e assim por diante. Mas estão a mudar as suas opiniões após a mobilização. Começaram a fazer perguntas e a procurar informação na internet”, descreve Yevgeny.

De facto, se até aqui o apoio do povo russo à invasão foi amplo, a mobilização decretada por Putin pode afetar esta perceção favorável. Numa rara declaração, Andrei Klishas, um senador do partido do presidente russo, criticou a forma como a mobilização está a decorrer. "É inadmissível andar a recrutar todos na rua indiscriminadamente”, comenta.

A história de Alexei acabou por correr bem, até agora. Após várias horas retido no centro de recrutamento e discussões com oficiais do Exército, chamou o seu advogado e conseguiu sair. Tem o desejo de sair da Rússia, mas não o irá fazer para já. “Quero esperar que esta situação acabe, num sítio seguro.”

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