Ataques indiscriminados, execuções e tortura. Comissão da ONU conclui que foram cometidos crimes de guerra na Ucrânia

23 set 2022, 11:43
Mulher chora frente a casas destruídas por um bombardeamento russo em Gorenka, nos arredores de Kiev

Ataques e execuções indiscriminadas, violações de crianças, tortura e desaparecimentos: grupo de trabalho das Nações Unidas faz relato dramático de quatro regiões ucranianas

O líder de uma comissão da ONU enviada à Ucrânia concluiu que foram cometidos crimes de guerra na Ucrânia.

“Com base nas provas recolhidas pela Comissão, concluiu-se que foram cometidos crimes de guerra na Ucrânia”, disse Erik Mose, chefe da Comissão de Inquérito Internacional e Independente para a Ucrânia, perante o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra.

Mose afirmou que a Comissão visitou 27 cidades e localidades e entrevistou mais de 150 vítimas e testemunhas nas regiões de Kiev, Kharkiv, Chernihiv e Sumy, e detalhou o uso de armas explosivas nas zonas de conflito.

“Relativamente à condução de hostilidades, o uso de armas explosivas com efeitos de área ampla em áreas povoadas é uma fonte de imensos danos e sofrimento para os civis. Observámos em primeira mão os danos que as armas explosivas têm causado a edifícios residenciais e infraestruturas, incluindo escolas e hospitais. Na cidade de Kharkiv, as armas explosivas devastaram áreas inteiras da cidade. Esta devastação é um dos fatores que explica por que razão um terço da população ucraniana foi obrigada a fugir. Uma mulher mais velha, que fugiu à medida que as hostilidades grassavam na região de Kharkiv, disse-nos: ‘Eu não vivo, apenas existo; não tenho mais nada na minha alma’”, contou o norueguês.

O líder da Comissão diz ainda que os membros da mesma ficaram “surpreendidos” com a quantidade de ataques indiscriminados e execuções ilegais, e referiu que o órgão está a investigar esse tipo de ocorrências em 16 localidades.

Sobre os crimes de tortura, Mose refere que a Comissão recebeu “relatos consistentes” por parte das populações. “Algumas das vítimas relataram que, após a detenção inicial pelas forças russas na Ucrânia, foram transferidas para a Federação Russa e detidas durante semanas em prisões. Os interlocutores descreveram espancamentos, choques elétricos, e nudez forçada, bem como outros tipos de violações em tais instalações de detenção. Após terem sido alegadamente transferidos para detenção na Federação Russa, algumas vítimas desapareceram”.

A Comissão documentou também os casos de violência sexual, principalmente contra mulheres, relatados pelos habitantes locais, e confirma que “há crianças que foram violadas, torturadas e ilegalmente confinadas”.

“A Comissão descobriu que alguns soldados da Federação Russa cometeram tais crimes. Estes atos constituíram diferentes tipos de violações de direitos, incluindo violência sexual, tortura e tratamento cruel e desumano. Há exemplos de casos em que familiares foram forçados a testemunhar os crimes. Nos casos que investigámos, a idade das vítimas de violência sexual e baseada no género variou entre quatro e 82 anos”, relata Erik Mose.

O chefe do grupo de trabalho agradeceu a cooperação do governo ucraniano nas investigações e lamentou que as “tentativas de diálogo construtivo com a Federação Russa” tenham falhado até agora.

“A Comissão continuará o seu inquérito relacionado com as quatro regiões mencionadas na resolução de maio de 2022 e dedicará gradualmente mais dos seus recursos ao seu mandato geral na primeira resolução, que é tanto geograficamente como tematicamente mais vasto. As questões de interesse incluirão campos de filtragem, alegada transferência forçada de pessoas, e as condições sob as quais a adoção acelerada de crianças está alegadamente a ter lugar”, conclui Mose.

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