Atenção a quem o diz: James Stavridis, que liderou as forças da NATO na Europa durante quatro anos
O risco de um incidente entre a Rússia e a NATO no Mar Negro está a crescer e essa possibilidade pode levar a um conflito, alerta o antigo comandante supremo da NATO para a Europa, almirante James Stavridis.
"As ações da Rússia nas águas internacionais do Mar Negro criam um risco real de escalar a situação para uma guerra no mar entre a NATO e a Federação Russa. [A NATO] não forneceu todas as armas e dinheiro para a Ucrânia, apenas para assistir a Rússia estrangular a economia com um bloqueio ilegal", afirmou ao Politico o homem que liderou a aliança entre 2009 e 2013.
As afirmações do almirante americano acontecem após uma já longa lista de incidentes no Mar Negro entre a Ucrânia e a Rússia. Na terça-feira, o Ministério da Defesa russo confirmou a abordagem, incluindo disparos, a um navio de carga chamado Şükrü Okan e que tinha a bandeira do Palau - este incidente aconteceu junto à costa da Turquia. Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, o navio e a sua tripulação são de nacionalidade turca. E a Turquia é NATO.
Esta disputa, que acaba por impactar economicamente não só a Ucrânia, é descrita por Stavridis como o “equivalente a pirataria”. Num vídeo tornado público, é possível ver os soldados russos a disparar contra o cargueiro e a tornar a tripulação refém momentaneamente, antes de efetuarem uma inspeção.
Para o almirante, esta é uma tendência na atuação da Rússia no Mar Negro que pode levar a ações mais drásticas por parte do Ocidente, caso continue a agravar-se. James Stavridis sugere mesmo que o Ocidente deve bater com o punho na mesa e criar um corredor seguro para que as embarcações possam fazer a travessia em segurança.
"Se a Rússia começar a apreender navios ou tentar afastá-los, acho provável que a NATO responda com o apoio a um corredor humanitário para o transporte marítimo", diz Stavridis.
Quanto à forma em que essa proteção seria feita, o antigo líder militar explica que as embarcações civis devem ser escoltadas desde o porto de Odessa através de “aeronaves de combate” da NATO e possivelmente com o uso de navios de guerra. Stavridis argumenta que o apoio de países da aliança como Turquia, Roménia e Bulgária, que têm costa no Mar Negro, faria com que a marinha russa no Mar Negro não tenha força suficiente para se impor.
As tensões na área não param de crescer desde a queda do acordo dos cereais a 17 de julho de 2023. Desde então, a Rússia tem feito um esforço deliberado para atacar infraestruturas civis ucranianas que estejam ligadas à produção, armazenamento e exportação de cereais. Em resposta, a Ucrânia afirmou que todos os navios russos no Mar Negro, militares ou civis, passam - a partir do dia 23 de agosto - a ser alvo militar por se encontrarem numa “zona de guerra”.
No início de agosto, um petroleiro russo sancionado pelos Estados Unidos foi fortemente danificado pela explosão de um drone marítimo ucraniano, perto da região de Kerch. O ataque não fez qualquer ferido mas inutilizou por completo a embarcação. Horas antes, um navio militar de transporte anfíbio também foi alvo de ataque com o mesmo método, ficando fora de ação.