A lista secreta do equipamento que a Ucrânia pediu para vencer a guerra

18 out 2022, 08:00
Soldados espanhóis disparam Howitzer M777 em exercícios com os Estados Unidos (Lennart Preiss/Getty Images)

Ao mesmo tempo que a Ucrânia dá a conhecer o material de guerra que precisa para recuperar o seu território, Washington discute os planos para privar os militares russos de armas e componentes cruciais

As conquistas recentes não dão espaço a ilusões. Apesar das vitórias na região de Kharkiv e de Kherson, Kiev sabe que a vantagem numérica que têm no terreno de pouco serve sem o devido equipamento. O jornal norte-americano Politico obteve acesso a duas listas que circulam em círculos mais restritos da área da Defesa americana que trabalham no processo de cooperação militar com a Ucrânia. Ao que é possível apurar, o governo de Volodymyr Zelensky deu a conhecer ao executivo americano a lista de equipamento prioritário para a reconquista do seu território.

No primeiro lugar da lista aparece o pedido para o envio de 300 tanques, que se devem juntar aos 320 já enviados por vários países aliados, principalmente pela Polónia e pela Chéquia. De acordo com o blog militar independente Oryx, as forças armadas ucranianas já perderam 318 tanques desde o início das hostilidades, a 24 de fevereiro.

De seguida, surge o apelo para o envio de mil blindados de transporte de infantaria a juntar-se aos mais de 910 já enviados por diversos países, incluindo 14 M113 enviados por Portugal, em julho. Entre veículos destruídos pelo inimigo, abandonados, capturados ou danificados, a Ucrânia já terá perdido 481 destes carros de combate.

Na lista é possível ver que a Ucrânia procura obter superioridade de poder de fogo e, para isso, insiste em duplicar a sua capacidade de artilharia e pede o envio de 250 canhões de 155mm, para se juntarem aos mais de 200 já enviados. Além disso, as forças armadas ucranianas pedem o envio de mais 30 sistemas de lançadores de múltiplos foguetes, como o HIMARS ou o M270, que têm tido bastante sucesso em atingir a retaguarda russa.

Sistema de lançamento de mísseis HIMARS (AP)

Mas nem todo o esforço de guerra ucraniano é feito de equipamento pesado. Kiev acredita também que é urgente aumentar o número de armas portáteis antitanque e antiaérea, com o envio de 500 e mil de cada um destas armas, respetivamente.

Por cima de tudo isto, o executivo de Volodymyr Zelensky sugere também o envio de 20 radares de longo alcance Hughes AN/TPQ-37 Firefinder Weapon Locating System, que conseguem localizar com bastante precisão a artilharia inimiga, bem como 30 variantes portáteis destes radares.

Esta lista vem a público dias depois de os Estados Unidos terem anunciado o envio de mais um pacote de ajuda militar no valor de 725 milhões de dólares, mais focado no poder de fogo ucraniano, apesar dos apelos de Kiev para o envio de defesas antiaéreas mais avançadas para poder proteger os céus da Ucrânia dos drones kamikazes iranianos que têm destruído várias infraestruturas críticas do país. Alemanha e Espanha foram os primeiros países a responder a este apelo e os primeiros sistemas já se encontram no país.

A lista completa:

— 300 tanques
— 1000 veículos blindados
— 30 lançadores de foguetes múltiplos
— 250 canhões 155mm
— 500 armas antitanque
— 1000 sistemas antiaéreos portáteis
— 72 sistemas de defesa antiaérea de curto alcance
— 20 AN/TPQ-36, AN/TPQ-37 Firefinder radar
— 40 AN/TPQ-48, AN/TPQ-49 light counterfire radar

O outro campo de batalha

Mas Washington quer não só dotar o exército ucraniano de capacidades militares, mas também debilitar a capacidade russa de repor as suas perdas de material de guerra. Segundo o Politico, os aliados estão a discutir como privar a Rússia dos componentes necessários para fabricar tanques, mísseis e drones.

Num documento intitulado de “Sanções e controlo de exportação contribuindo para a erosão do esforço de guerra de Moscovo”, o governo americano afirma que a Rússia perdeu “mais de 6.000 equipamentos” desde o início da guerra e que está a gastar munições a “um ritmo insustentável”.

Kiev atacada por drones kamikaze iranianos (Getty Images)

De acordo com as fontes norte-americanas, a Rússia está a ficar dependente de microchips contrabandeados e de importações de “baixa qualidade” de países como a China. O Kremlin, apontam as fontes americanas, está a sofrer uma “escassez crítica de rolamentos que está a minar a produção de tanques, aeronaves, submarinos e outros sistemas militares”.

Esse motivo já obrigou Moscovo a comprar drones iranianos, uma vez que é incapaz de produzir a quantidade de dispositivos necessários para ter um real impacto no decorrer do conflito. Embora o Irão negue o fornecimento destes equipamentos, multiplicam-se as provas que revelam a sua presença no campo de batalha. Na sexta-feira, o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, disse que as Forças Armadas russas têm atualmente "cerca de 300 unidades" de drones de combate fornecidos pelo Irão.

Segundo Reznikov, as autoridades russas estariam agora em negociações com Teerão para comprar mais alguns milhares desses aparelhos aéreos não tripulados, segundo a agência de notícias UNIAN. "Se vai acontecer ou não, veremos. Mas devemos estar preparados para isso, para não ficarmos parados. Estamos a desenvolver sistemas para os repelir. O nosso Exército está a derrubá-los, já aprendemos como fazê-lo", disse o ministro da Defesa ucraniano.

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