A cantora que deu o capacete do português ao soldado do colete furado

1 mai 2022, 18:00
Jagoda Pasko com uma das crianças que ajudou a fugir da guerra

Uma mulher estava isolada algures na Polónia a 24 de fevereiro de 2022. Ligaram-lhe, ela tomou uma decisão que lhe mudou a vida - e que consequentemente está a mudar a vida de dezenas de famílias ucranianas. Hoje, se ligarem a esta mulher, ela estará a conduzir nos sítios mais perigosos da guerra - porque é assim que salva gente, ao volante

"Olá olá, eu não sabia que aquilo era emprestado, não o tinha dado se soubesse que era emprestado, desculpa", ela diz olá duas vezes e sorri ao segundo, é Jagoda Pasko, está a conduzir de Kharkiv em direção à Polónia, é o país dela, Jagoda está a guiar e por isso manda áudios de WhatsApp em vez de escrever, diz olá olá com sorrisos dentro do seu carro enquanto fora dele decorre o ruído medonho das bombas, bum kabum bum kabum, a onomatopeia dos mísseis a explodir é feita de duas palavras tão infantis para um objeto tão mortífero, Kharkiv está sob bombardeamento contínuo e Jagoda sorri ao segundo olá, bum kabum ahaha, as onomatopeias são genericamente muitos infantis mas por vezes representam o som de coisas muito complexas, como é que Jagoda consegue sorrir entre as bombas?

"As bombas vêm de todo o lado e atingem todos os sítios, ouvimos bombas todos os dias e a todo o momento mas as pessoas acabam por se habituar, deixam de reagir, é o que aconteceu comigo também", há muitas coisas que acontecem a Jagoda incluindo a vontade de dizer um pedido de desculpa, "eu não sabia que aquilo era emprestado, não o tinha dado se soubesse que era emprestado, desculpa", o pedido dela é ouvido a 4272 quilómetros de distância onde há pessoas a sorrir por terem uma caneca de cerveja a bombardear de normalidade o fim de tarde delas, o único bum kabum é o dos copos gelados a serem pegados e depois pousados nas mesas das esplanadas, é um estrondo de paz, bum kabum mais um trago, é por isso que o pedido de desculpa de Jagoda é recebido com vergonha por quem o ouve entre estes bombardeamentos em Lisboa.

"Olá olá, eu não sabia que aquilo era emprestado, não o tinha dado se soubesse que era emprestado, desculpa", Jagoda Pasko, 37 anos, estava a fazer esqui no sudoeste da Polónia a 24 de fevereiro, não sabia que a Rússia tinha invadido a Ucrânia nem que a guerra tinha voltado ao coração da Europa, "eu não ouço as notícias, não estou envolvida em política", um amigo ligou-lhe e deu-lhe as más novas, "há guerra, Jagoda", "'é a vida, respondi-lhe eu'", é a vida, Jagoda, mas aquela resposta fez-lhe pensar no perigo de vida, "aquilo começou a mexer comigo e um dia depois eu estava a perguntar-me o que é que aconteceria se a guerra viesse para a Polónia, estamos tão próximos", é a pergunta que muitos se fazem também, e se fosse aqui?, e se chegasse a mim?, cada um terá a sua resposta mas ela precisou de se fazer muitas perguntas até concluir uma resposta melhor do que "é a vida", "a minha avó tinha-me contado as histórias dos alemães, da opressão, da crueldade, de quão difícil foi, e eu continuei a perguntar-me aquilo, o que é que aconteceria se a guerra viesse para a Polónia?, e estava a ver-me a pegar na minha irmã e na minha mãe e a ir morar para a Alemanha, onde um irmão meu vive, ou para a Bélgica, onde moram os meus amigos - nem sequer lhes perguntaria se podia ir, simplesmente apareceria lá, eles tinham de me aceitar", Jagoda sorri ao dizer "tinham de me aceitar", olá olá amigos, é um sorriso triste para uma situação imaginária desoladora, mas Jagoda imaginou mais coisas, "e depois perguntei o que aconteceria à minha avó e aos meus amigos se ficassem na Polónia em guerra, 'posso mesmo deixá-los?', portanto via-me a pegar na minha mãe e na minha irmã, ir até à Alemanha com elas, deixava-as lá e depois regressava para ajudar o meu povo, para ajudar o meu povo que tivesse decidido não sair ou que não pudesse sair", Jagoda estava cada vez mais perto de uma resposta melhor do que "é a vida", "e a partir daí comecei a pensar nos ucranianos, eles estão em guerra agora, estão nesta situação agora, posso mesmo deixá-los assim?, posso continuar a viver normalmente enquanto eles estão a sofrer lá?, e depois percebi que não conseguia viver dessa maneira, não posso ter uma vida normal quando tanta gente está a sofrer, quando tanta gente está a fugir, e decidi que queria fazer qualquer coisa", fez, está a fazer.

Jagoda Pasko (à esquerda) decidiu pegar num carro para ir e vir e ir e vir e ir e vir buscar refugiados à Ucrânia - aqui com uma das famílias que ajudou

"Olá olá, eu não sabia que aquilo era emprestado, não o tinha dado se soubesse que era emprestado, desculpa", Jagoda está a conduzir enquanto grava isto, a condução é uma parte fundamental do "fazer qualquer coisa" que ela decidiu: Jagoda foi ao Facebook procurar movimentos de apoio a refugiados, descobriu que havia muitos ucranianos, tantos ucranianos, a pedir um meio de fuga, que os fossem buscar, que os tirassem de lá, sobretudo mães e crianças: nas primeiras semanas de guerra os comboios estavam cheios, as estradas frenéticas, havia tanta gente a sair e tão poucos meios de a tirar de lá, Jagoda viu isso, Jagoda leu sobre isso, Jagoda tomou uma decisão, "perguntei no Facebook se alguém me podia emprestar um carro grande, uma carrinha para oito pessoa ou assim, o meu carro tem apenas quatro lugares", Jagoda decidiu ir buscar refugiados à Ucrânia e trazê-los para a Polónia, "entretanto vi posts e comentários noutros posts, entrei em contacto com essas pessoas e apanhei grupos de pessoas que já estavam a ir buscar pessoas à Ucrânia e a trazê-las para a Polónia, depois falei com os meus primos e com toda a gente que eu conhecia que tinha um carro grande, um amigo meu que mora em Cracóvia tem um carro com sete lugares e emprestou-mo", no início Jagoda não queria ir sozinha, "não sabia o que esperar na Ucrânia, por isso combinei com algumas dessas pessoas que conheci online que me iria juntar a elas, peguei em alguma roupa, num saco cama, num pouco de comida e atravessei a fronteira", foi a Lviv, antes disso seguiu as regras todas que aprendeu online: ter uma bandeira da Polónia e da Ucrânia nos vidros do carro, foi a mãe que as pintou, "quando disse à minha mãe o que ia fazer ela deu-me o apoio todo, disse-me 'se sentes que é isto que deves fazer então deves fazê-lo mesmo'" - fez, está a fazer -, portanto é preciso ter uma bandeira da Polónia e da Ucrânia nos vidros do carro, uma luz de emergência no tejadilho, o sinal da cruz vermelha humanitária bem visível e Jagoda foi para Ucrânia, "as pessoas que tinham combinado comigo apareceram todas, tínhamos combinado na fronteira mas não foi lá que nos encontrámos: nunca se sabe o que vai acontecer, é preciso muita flexibilidade na Ucrânia, e eles já estavam a ir buscar pessoas e perguntaram se eu podia atravessar a fronteira sozinha e eu disse ok, passei só por uns checkpoints, eles pediram para ter sempre a luz de emergência ligada, disseram-me que se houvesse uma fila de carros eu podia usar o outro lado da estrada", Jagoda em contramão, "é a vida", Jagoda, é a vida de quem ajuda os vivos, "os voluntários que vão buscar pessoas podem fazer isso, podem andar no outro lado da estrada, eu tinha os sinais todos no carro a identificá-lo e foi o que fiz", depois encontraram-se todos em Lviv, regressaram com os carros cheios de refugiados.

Jagoda Pasko (à esquerda) com mais uma das famílias que ajudou a resgatar da guerra

"Olá olá, eu não sabia que aquilo era emprestado, não o tinha dado se soubesse que era emprestado, desculpa", Jagoda está a sair de Kharkiv quando grava isto mas no princípio ela nunca passou de Lviv, foi ali junto à fronteira com a Polónia que chegaram nas primeiras semanas dezenas e centenas e milhares e milhões mesmo de refugiados, a ONU já disse que é o maior movimento de refugiados desde a II Guerra Mundial, havia tanta gente a chegar e tão insuficientes maneiras de a levar, Jagoda deu o seu contributo, "por isso a primeira parte da minha experiência foi trazer mães com filhos de Lviv para a Polónia, num dos casos havia um bebé com um mês", a seguir Jagoda repete "um mês", se as onomatopeias por vezes infantilizam a realidade há repetições que enfatizam a indignação por uma mãe ter de fugir com um recém-nascido, "um mês, um mês", mas Jagoda tem mais histórias, "tive uma família no carro com um bebé de três meses", e a seguir Jagoda repete "três meses", indignação, "houve uma vez que no meu carro para sete pessoas trouxe 12, eu e mais seis adultos e cinco crianças, quando chegámos à fronteira o guarda olhou para dentro e ficou espantado, 'levas mesmo 11 pessoas aí?'", Jagoda sorri enquanto imita a pergunta, olá olá senhor guarda, são mesmo 11, "nos primeiros dias tentámos transferir o máximo possível de mulheres com filhos, havia muito trânsito em Lviv, nós usávamos as luzes de emergência, passámos sinais vermelhos, andávamos o mais depressa possível, houve uma vez em que a polícia nos parou mas depois decidiu vir connosco para nos ajudar e outra em que a polícia mandou parar um carro e berrou com o condutor por não nos ter deixado passar".

Jagoda conta estas histórias enquanto tem guitarras por trás e uma mesa de mistura de som pela frente, Jagoda trocou mensagens e fotografias e histórias com a CNN Portugal ao longo da guerra mas desta vez em que conta as histórias de Lviv está a falar via Skype num bunker em Karkhiv que era um estúdio de gravação de música antes de Putin ter mandado invadir a Ucrânia, o bunker é seguro mas a cidade nem por isso, "não tenho medo, não tenho medo", Jagoda volta a sorrir, "é mais fácil para mim correr riscos, não tenho família", e foi por não ter medo que no dia em que decidiu que já não era necessária em Lviv, "começaram a chegar menos pessoas e já havia muita gente a transportá-las dali", decidiu ir para Kiev levar medicamentos e alimentos e material hospitalar e mantimentos afins e no caminho de volta trazer famílias: as tropas russas ainda tinham Kiev cercada quando Jagoda decidiu que a seguir ao vaivém Polónia-Lviv-Polónia seria Polónia-Kiev-Polónia, "senti que tinha de fazer algo mais, eu posso correr riscos, não tenho família", Jagoda também repete as coisas para as deixar claras, "posso correr riscos", e então juntou-se a Sebatian Zimny, um polaco de 40 anos que conheceu no grupo de Lviv, "passo a passo fui começando a ir para locais mais perigosos, fui esticando os meus limites, a minha coragem", passo a passo foi buscar pessoas a sítios onde menos gente as ia buscar, "quero ajudar pessoas, estou pronta para me sacrificar", depois de Kiev começou a passar por Kharkiv no caminho de volta, "fui esticando os meus limites, a minha coragem", repetir para deixar as coisas claras, "Kharkiv é mais perigosa mas até agora nada me aconteceu e talvez seja por isso que não sinta tanto o perigo" - mas já houve sustos, "na primeira vez em que estávamos a sair de Kharkiv passámos por vários checkpoints e sei que eles não nos deixariam passar se fosse perigoso para nós, já aconteceu algumas vezes eles dizerem que não podíamos passar porque estava a acontecer algo perigoso, que havia russos, por isso sinto-me sempre segura, mas aconteceu que entrámos numa zona de guerra, eu era o segundo carro, o Sebastian ia à frente: entrámos numa vila e eu não estava a prestar grande atenção à vila, estava só a guiar atrás dele, e ele parou e por isso eu parei mas de repente ele começa a andar em marcha-atrás e eu quis apitar porque ele ia bater-me mas não encontrei a buzina e então ele bateu-me, a minha matrícula caiu, por isso saí do carro para ir buscá-la, sem a matrícula não posso passar a fronteira, e ele começa a avisar-me que temos de sair dali, que há disparos à frente, e começámos então a sair em marcha-atrás muito rapidamente, tínhamos pessoas nos carros, mães com filhos, por isso fomos para trás e então entrámos noutra vila no caminho de volta e essa vila estava completamente destruída, bombardeada, ouvimos também o som de disparos e de bombas a cair, felizmente encontrámos maneira de sair".

Um dos cenários de destruição por onde Jagoda Pasko conduz

"Olá olá, eu não sabia que aquilo era emprestado, não o tinha dado se soubesse que era emprestado, desculpa", Jagoda está a guiar em Kharkiv quando envia este áudio por WhatsApp, no início teve de pagar pela gasolina para poder guiar pelas estradas da Ucrânia, "quando comecei a fazer isto usei o meu próprio dinheiro para pagar pelo combustível mas quando comecei a colocar no Facebook o que estava a fazer, a dizer que estava a ir à Ucrânia a buscar refugiados, a colocar fotos e vídeos das viagens, muita gente começou a contactar-me a perguntar como podia ajudar, como podia contribuir, como podia pagar o combustível, por isso nunca mais tive de me preocupar com os gastos com combustíveis, é tão bonito, há tanta gente a apoiar tantos condutores", Jagoda espanta-se como entre o horror da guerra acontece tanta bondade, "sabes o que é tão comum?, é conhecer pessoas e cinco ou dez minutos depois de estarmos a conversar estas pessoas começam imediatamente a doar dinheiro ou a doar mantimentos, há um homem ucraniano que o Sebastian conheceu num mecânico e falaram e esse homem encheu a carrinha de todas as coisas que o Sebastian trouxe dessa vez para Kharkiv, isto sem se praticamente se conhecerem, este homem comprou mil euros em medicamentos que nós trouxemos para Kharkiv, ele simplesmente confiou em nós", há muitas histórias assim, "numa noite em que não tínhamos um sítio para dormir fomos acolhidos por uma mulher que nem sequer nos conhecia, as pessoas ajudam-se assim mesmo, enquanto estava na casa dela liguei a um amigo a dizer que estava a tentar juntar medicamentos e ela ouviu, 'espera, espera, conheço uma pessoa que trabalha na fronteira e que tem muitos medicamentos disponíveis, é da Alemanha, podes falar com ele', na conversa esta pessoa explicou-me que tinha muitos medicamentos que iam chegar na manhã seguinte e que eu os podia levar para Kharkiv e eu fiquei tão espantada, ele ofereceu-me aquilo sem me conhecer, entretanto o Sebastian foi à fronteira, conheceu-o e liga-me a dizer 'este tipo deu-nos tantos medicamentos e tanto equipamento hospitalar, não estás a ver', já mandei tantas mensagens de agradecimento e ele responde-me 'o meu cérebro, o meu coração e o meu instinto dizem-me que é ok, que eu posso confiar em vocês', e isto é extraordinário, estas coisas que acontecem assim", na guerra há o melhor do bem e o pior do mal.

"Olá olá, eu não sabia que aquilo era emprestado, não o tinha dado se soubesse que era emprestado, desculpa", Jagoda pede desculpa, ela que decidiu com o seu dinheiro e um carro emprestado entrar num país em guerra para ir buscar gente sem meios ou sem quem os fosse buscar, gente sem dinheiro ou sem comboios com lugares disponíveis, gente sem carros e sem maneira de deixar a guerra, "não sei quantas pessoas já transportei, não sei mesmo, são tantas, há pessoas de quem me lembro mesmo bem, há histórias que ficam dentro de nós, uma dessas histórias é a de uma mãe com cinco filhos, lembro-me que era um tempo em que havia mesmo muita gente para trazer, era mesmo difícil de coordenar e a partir de dada altura tivemos de cooperar com a Cruz Vermelha em Lviv, que começou a identificar as pessoas que teriam mais necessidade de vir connosco - nós começámos a receber muitos pedidos individuais, daí a necessidade de termos pedido ajuda à Cruz Vermelha,mas há pedidos aos quais eu não podia dizer 'não', como um que recebi dessa mãe com cinco filhos, eu decidi que tinha de levá-los, um dos meus amigos que transportam pessoas ficou assim meio furioso, 'eu disse-te que não aceitamos pedidos individuais porque é difícil de coordenar', e eu simplesmente respondi que sentia que tinha de levá-los e foi o que fiz", Jagoda desobedeu aos seus generais para obedecer ao seu instinto, "levei-os, fiquei em contacto com a família desta mãe com cinco filhos, ela chama-se Kristina, a irmã da Kristina mandou-me uma foto da família já em segurança na Áustria e a própria Kristina mandou-me um agradecimento enorme e enviou-me dois vídeos, um vídeo da cidade dela a ser bombardeada e depois um vídeo do sítio onde ela está na Áustria, com aves a cantar e um sol lindo, estes dois vídeos do antes e depois comoveram-me", dois vídeos e ao segundo emoção, olá olá Jagoda, mas há mais histórias, são tantas também, "fui buscar recentemente duas mulheres com uma criança, quando os deixei num campo de refugiados na Polónia pediram-me para tirar uma foto, eu disse ok, pedi-lhes para me enviarem a foto, elas enviaram, e por causa disso ficaram com o meu número de telefone, dois dias depois elas dizem-me que estão em Varsóvia e que não têm nenhum sítio onde ficar, perguntam se as posso ajudar", Jagoda disse que sim, "eu tenho alguns amigos em Varsóvia, tenho um amigo que vive com uma mulher ucraniana, eles decidiram acolher estas duas mulheres com a criança e depois encontraram um sítio para elas ficarem mais tempo", a história não acaba aqui, "entretanto o meu amigo mandou-me uma mensagem a dizer que uma das mulheres lhe tinha dito que eu era como uma cantora de Deus ou algo assim e isto porque eu costumo cantar de vez em quando, quando vou a guiar e estou muito cansada eu canto, eu e o Sebastian usamos walkie-talkies e falamos entre nós dessa maneira enquanto vamos a conduzir, quando estamos muito cansados falamos muito, fazemos piadas ou assim, e houve vezes em que eu cantava, cantava para o Sebastian, cantava para não adormecer, mas toda a gente ouvia, todos os passageiros ouviam", aquelas duas mulheres com a criança também e fizeram de Jagoda o mito da cantora.

Jagoda é isso mesmo, uma espécie de mito, "é a nossa Joana d'Arc", foi assim que a CNN Portugal ouviu falar dela pela primeira vez, "é a pessoa mais corajosa que já conheci", disse Jakub Czekaj, aka Kuba, um dos condutores daquele grupo do vaivém Polónia-Lviv-Polónia, e nessa conversa Kuba explicou que andavam à procura de um colete para Jagoda, "ela anda em Kiev e em Kharkiv sem um colete nem um capacete à prova de bala, não pode ser", um português ouviu essa conversa, esse português tinha levado um colete e um capacete para Lviv, esse português teve de sair à pressa de Lviv no dia a seguir mas falou entretanto com o grupo de Kuba, "a Jagoda que fique com o colete e com o capacete", disse o português, Jagoda foi buscar o colete e o capacete mas dias depois ela conhece um soldado que olha para dentro do carro, "podes dar-me o teu capacete?", Jagoda diz "sim, é teu", entretanto houve uma confusão porque o português precisava do colete e do capacete de volta, Jagoda manda um áudio, "olá olá, eu não sabia que aquilo era emprestado, não o tinha dado se soubesse que era emprestado, desculpa", mas o áudio vem acompanhado de uma fotografia daquele soldado: ele tem o colete furado por uma bala, um capacete na cabeça, o capacete do português, e o polegar do soldado está a fazer um "fixe" - aquele capacete já esteve na guerra do Iraque e ficou alguns anos no Porto antes de ter ido parar inesperadamente àquele homem naquela foto, "este é o soldado que ficou com o capacete, podes ver que a placa do colete à prova de bala dele já está furada, espero que o capacete lhe sirva bem, adeeeeeeeeeeeeeus", é um adeus longo dito com um sorriso, Jagoda tem sempre um sorriso, adeus adeus Jagoda, "vou para o Donbass", anuncia ela, para o Donbass, veja-se bem, "não penso muito no perigo, sinto-me mesmo protegida, tenho tanta gente a rezar por mim, sinto isso, sinto que o que estou a fazer é bonito, sinto paz", e ela despede-se, "vou para o Donbass esta segunda ou terça, vamos manter o contacto" e no final manda dois emojis,🙂😊, sempre um sorriso, até já até já.

O capacete de um português que foi parar a um soldado ucraniano
A placa furada do colete à prova de bala do soldado que ficou com o capacete do português

CONTA HUMANITÁRIA DE JAGODA PASKO - AQUI

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