Ucrânia: A batalha agora trava-se nas ruas. Pelo menos 200 pessoas morreram e mais de 120 mil procuraram refúgio nos países vizinhos

26 fev 2022, 10:57

Mísseis russos, disparados a partir do Mar Negro, atingiram durante a madrugada as cidades de Sumy, Poltava e Mariupol. Pelo menos 200 pessoas morreram até agora no conflito, diz o ministro da saúde ucraniano. A ONU diz que 120 mil refugiados já chegaram aos países vizinhos à procura de refúgio

As forças militares de infantaria e artilharia russas lançaram este sábado, durante a madrugada, um ataque coordenado em várias cidades ucranianas, incluindo Kiev - a capital -, onde foram registados tiroteios perto de edifícios governamentais

Em resposta, as autoridades ucranianas pediram aos cidadãos que ajudem a defender Kiev do avanço das forças russas que iniciaram na quinta-feira a pior crise de segurança europeia em décadas. De acordo com a Reuters e com a AFP,  que citam o ministério da defesa ucraniano, militares russos dispararam mísseis cruzeiros a partir do Mar Negro contra as cidades de Sumy, Poltava e Mariupol. 

Em Kiev, onde se trava uma batalha que definirá o futuro do leste europeu, um míssil atingiu um edifício residencial, sem provocar mortos, de acordo com o conselheiro do governo ucraniano, Anton Hereshcenko que, à Reuters, acrescentou que pelo menos quarenta zonas civis foram atingidas por projéteis.

Em comunicado durante a manhã de sábado, o Ministério da Defesa Russo confirmou ter enviado um míssil cruzeiro contra “alguns alvos na Ucrânia”, mas reiterou que foram dirigidos apenas a infraestrutura militar. No entanto, vídeos mostram o momento em que atingiu um prédio residencial em Kiev.

 

"Durante a noite, as Forças Armadas da Federação Russa lançaram um ataque com armas de precisão de longo alcance, usando mísseis de cruzeiro lançados por ar e mar contra instalações de infraestrutura militar ucraniana", disse o major-general russo Igor Konashenkov num comunicado em vídeo. “Enfatizo mais uma vez que o fogo é direcionado apenas a infraestrutura militar das Forças Armadas da Ucrânia, excluindo danos à infraestrutura residencial e social”, acrescentou.

Mas a guerra não impacta apenas ucranianos e russos. Um míssil disparado pelas forças de Putin atingiu um navio de carga japonês na costa ucraniana, deixando um membro da tripulação ferido, segundo avança a agência de notícias Kyodo. O míssil atingiu o navio “Namura Queen” e causou ferimentos a um dos 20 filipinos que compõem a tripulação.

Por outro lado, o Exército ucraniano anunciou, através das redes sociais do Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, que destruiu 14 caças, oito helicópteros e um avião de transporte militar Il-76, de grande capacidade, com paraquedistas a bordo.

As Forças Armadas ucranianas relataram também conflitos intensos na cidade de Vasylkiv, a cerca de 30 quilómetros a sudoeste de Kiev. "Um intenso combate está em andamento na cidade de Vasylkiv, na região de Kiev, onde os ocupantes estão a tentar desembarcar um grupo de militares", afirmou a Reuters, citando fonte militar.

Explosões dentro e ao redor da capital foram vistas e ouvidas das 2:00 às 4:00 da manhã,de acordo com a equipa no terreno da CNN. É a primeira vez que explosões são relatadas dentro da cidade, após dias de conflito nos arredores de Kiev. Os militares ucranianos atribuíram algumas das explosões matinais à destruição de um tanque russo.

A cidade de Melitopol terá sido tomada pelas forças russas, segundo adiantou a agência TASS e a Reuters. No entanto, as autoridades ucranianas desmentiram a informação, sublinhando que a cidade continuava controlada pelas forças ucranianas. Se Melitopol cair, será o primeiro centro populacional significativo - a cidade tem cerca de 150 mil habitantes -  que os militares russos conquistam desde o início da invasão na quinta-feira.
 

Zelensky desafia Putin

No princípio da manhã, o presidente ucraniano mostrou-se num vídeo no Twitter, onde apelou aos cidadãos e militares que continuem a resistência às forças russas, reiterando que "não irá pousar as armas e desistir". A gravação parece ser uma resposta ao envio de milhares de mensagens, por um perfil falso que se faz passar pelo presidente ucraniano, a pedir para que as pessoas baixem as armas em Kiev.

 

"We won't lay down any weapons" - #Zelensky stays in #Kyiv pic.twitter.com/M3kU32Sd8V

— NEXTA (@nexta_tv) February 26, 2022

 

“Há muitas informações falsas online de que estou a pedir ao nosso exército para depor as armas. Estou aqui. Não vamos baixar as armas. Vamos defender o nosso país”, afirmou no vídeo com cerca de 40 segundos.

O vídeo de Volodymyr Zelensky surge após o jornal norte-americano Washington Post ter adiantado que os serviços secretos norte-americanos ofereceram ao presidente ucraniano uma oportunidade de saída, mas o Chefe de Estado recusou-se a abandonar o país.
 

Milhares de ucranianos atravessam a fronteira para fugir à guerra

Mais de 120 mil pessoas já fugiram da Ucrânia desde que a Rússia começou o ataque ao país vizinho, na quinta-feira, segundo dados da agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

De acordo com a vice-alta comissária do ACNUR, Kelly Clements, os ucranianos estão principalmente a fugir para a Polónia e para a Moldávia, mas também para a Roménia, Eslováquia e Hungria.

Vemos agora mais de 120 mil pessoas que foram para todos os países vizinhos; a receção que estão a ter das comunidades locais, das autoridades locais, é tremenda, mas é uma situação dinâmica, e estamos muito devastados, obviamente, com o que vem a seguir", disse Kelly Clements em entrevista à CNN, na qual vincou que a situação deverá piorar nos próximos dias.

 

Ucranianos fogem do país, chegando à estação de comboios de Przemysl na Polónia (AP/Petr David Josek)

 

Cerca de 20 mil pessoas entraram na Roménia, vindas da Ucrânia, desde o início da ofensiva ofensiva militar contra o regime de Kiev, informaram as autoridades romenas.

De acordo com informações avançadas pela agência Efe, a passagem de fronteira mais movimentada é a que liga o ‘oblast’ [província] ucraniano de Chernivtsi, no sudoeste do país, com a província romena de Suceava.

Uma parte dos refugiados são membros da minoria romena na Ucrânia e têm familiares ou amigos no país de acolhimento. É este o caso de Suzanna, uma estudante de economia de 20 anos de idade, da cidade de Chernivtsi, onde as tropas russas ainda não chegaram.

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