Documento assinado pelos mais altos representantes do país traça a Rússia como a maior ameaça até 2030. Um aviso para dentro, mas que também serve para fora
“A Rússia é a mais séria ameaça à segurança nacional no período até 2030”. Esta é a análise que a Suécia faz sobre a situação nacional, mas que também deita um olho àquilo que pode ser a ameaça global, nomeadamente aos países do Ocidente e, sobretudo, àqueles que fazem parte da NATO, organização à qual Estocolmo se juntou recentemente, acabando com décadas de neutralidade.
A Estratégia Nacional de Segurança da Suécia, publicada esta segunda-feira, indica que “não se pode excluir um ataque armado [da Rússia] à Suécia ou aos seus aliados”, acrescentando que a democracia e a integridade desses países, bem como a coesão das sociedades ocidentais, estão em perigo.
A Rússia é mesmo vista como o fator externo com maior impacto na situação de segurança na Suécia ao longo de mais de uma década, com as autoridades suecas a destacrem o “desenvolvimento gradual de um exército” por parte de Moscovo, que “considera estar em permanente conflito com o mundo ocidental”.
“O regime russo não esconde as suas tentativas para estabelecer uma nova ordem de segurança europeia baseada em esferas de interesse em vez do direito de cada Estado escolher o seu caminho de política de segurança”, continua o documento.
Entende a Suécia que Moscovo procura, de forma sistemática e até forçada, “expandir o seu poder e influência”, o que se aplica não apenas aos países vizinhos, como a Bielorrússia ou países do Báltico, mas também para uma Europa mais central.
“Um instrumento para atingir isto é criar e explorar divisões dentro e entre os países da União Europeia e da NATO”, alerta Estocolmo, num documento curiosamente publicado numa altura em que a presidência rotativa do Conselho da União Europeia cabe à Hungria, país do bloco ocidental que está mais próximo da Rússia, como o próprio primeiro-ministro, Viktor Orbán, admitiu.
Uma tentativa de influenciar que também se estende além-mar. A Suécia alerta para a intenção russa de minar a relação entre União Europeia e Estados Unidos, sobretudo numa altura em que se levantam dúvidas sobre a posição de Donald Trump em relação à NATO e até que ponto está o candidato republicano disponível a proteger os seus aliados europeus em caso de invasão.
Exemplo disso mesmo, diz a Suécia, é a guerra na Ucrânia, a “expressão mais séria do regime russo das suas ambições até agora”. Uma invasão que “mostra quão longe está a liderança russa preparada para ir para chegar aos seus objetivos e qual o nível de risco que está disposta a correr”, o que também faz parte da retórica russa de ameaça constante de utilização de armamento nuclear.
“Embora a Rússia tenha sofrido duras perdas e a economia russa seja pequena quando comparada com as economias combinadas de União Europeia e NATO, a força do exército russo permanece significativa”, alerta Estocolmo, que até sublinha uma mudança política em benefício da guerra. É que o mais recente ministro da Defesa é um economista, o que indica uma mudança da estratégia para uma economia de guerra que “suporte uma agressão duradoura e tenha prioridade no armamento militar”.
A Suécia é um dos países da NATO e da União Europeia que tem estado mais ativo no apoio à Ucrânia e nas críticas à Rússia, até porque também é um dos territórios mais ao alcance de Moscovo, enfrentando perigo pelas três vias militares (terra, mar e ar). Prova disso é o que está a acontecer na ilha de Gotlândia, um território no meio do Báltico que pertence à Suécia, mas está em constante ameaça de se tornar um ponto quente de um conflito internacional.
Num documento em que se juntam as visões do primeiro-ministro, ministro da Defesa e conselheiro nacional de segurança há uma conclusão óbvia: os próximos anos colocam pela frente uma “situação de segurança muito complexa”.