Solidariedade de norte a sul. O que é que os portugueses estão a fazer pelos ucranianos?

13 mar 2022, 10:02
Bandeira da Ucrânia. (AP Photo/Jae C. Hong)

De norte a sul do país, de casas a autarquias, de empresas a associações, Portugal está unido na ajuda aos ucranianos. Eis alguns exemplos

População

Com ou sem ligações familiares à Ucrânia, mas prontos a ajudar. Os portugueses, por conta própria ou em alianças formadas com empresas e entidades públicas, têm unido esforços para fazer chegar à Ucrânia e fronteiras vizinhas bens de primeira necessidade e, sobretudo, uma viagem gratuita para longe do inferno.

Ana Silva, voluntária portuguesa, está na linha da frente de apoio num dos pontos da fronteira entre a Polónia e a Ucrânia que mais tem sido percorrido por quem está a tentar escapar da guerra. Mas muita da ajuda portuguesa nasce cá. Em menos de uma semana o movimento SOS Ucrânia, iniciado na Ilha de São Miguel por um consultor imobiliário, já se alargou a mais ilhas do mesmo arquipélago: os dois primeiros contentores já foram enviados e esperam não ficar por aqui

E as ajudas não ficam por aqui. Só esta sexta-feira, chegaram de madrugada 131 refugiados a Portugal que foram ajudados por organizações e desconhecidos e tal como contou a CNN Portugal, dois motoristas ucranianos viajaram de Portugal até à Polónia com 50 toneladas de material médico para ajudar os refugiados da guerra na Ucrânia. E esta não foi a única caravana: sete dias depois de começar o conflito, 50 voluntários partiram de Lisboa para ajudar quem está na fronteira e trazer para Portugal ucranianos que estão a fugir à guerra.

Já Hugo de Sousa, professor português, é um dos responsáveis pela plataforma www.wehelpukraine.org, uma espécie de Airbnb para alojamento, medicamentos e ofertas de emprego para refugiados ucranianos, conta o Diário de Notícias. O Banco Alimentar aliou-se a este projeto.

Também algumas celebridades se têm juntado na ajuda aos cidadãos ucranianos, sejam os que tentam escapar à guerra ou aqueles que ficam para lutar contra as investidas russas. O cantor Miguel Cristovinho foi à Polónia com um grupo de amigos para ajudar os refugiados. No regresso, trouxe duas famílias: uma delas tinha feito 14 horas a pé para conseguir chegar à fronteira. Também Pedro Teixeira viajou recentemente para a Polónia para ajudar os refugiados da guerra na Ucrânia. Em entrevista à CNN Portugal, o ator e apresentador contou os desafios desta viagem que durou quatro dias e explicou como estão a funcionar as redes de apoio aos que mais precisam nas fronteiras com a Ucrânia. 

O médico dentista Miguel Stanley viajou até à Ucrânia para levar ajuda, está de regresso a Portugal. Com ele vêm duas famílias em busca de um abrigo longe da guerra.

E é assim que os portugueses, de norte a sul do país e das ilhas, têm feito chegar alimentos, medicamentos e outros bens essenciais a quem está na fronteira

Governo

Esta quarta-feira, o Governo lançou plataforma digital Portugal for Ukraine, uma que “permitirá a consulta das várias iniciativas que estão a ser levadas a cabo pelas diferentes Áreas Governativas com responsabilidade em matéria de acolhimento e integração, facilitando o acesso à informação por parte do utilizador, e permitindo que os mesmos possam preparar a sua viagem até Portugal”, lê-se no site.

Mas antes, o Conselho de Ministros já tinha aprovado uma resolução com requisitos simplificados para a obtenção de proteção temporária para pessoas deslocadas da Ucrânia. “A Ministra da Administração Interna, Francisca Van Dunem, disse que será aplicado o regime de proteção temporária, um regime europeu que existe em Portugal desde 2003, que dispensa a avaliação caso a caso do risco concreto que cada pessoa corre”, lê-se no site oficial.

Além disso, está já em curso um programa que permitirá aos cidadãos ucranianos que cheguem a Portugal ficar com a sua situação logo regularizada, isto é, com o acesso aos números fiscal, de Segurança Social e do Serviço Nacional de Saúde, permitindo-lhe o acesso aos vários serviços.

A secretária de Estado para a Integração e as Migrações, Cláudia Pereira, disse que não há limite para receber migrantes e que Portugal tem todas as capacidades para dar resposta aos refugiados da Ucrânia.

O Governo decidiu ainda oferecer asilo à mulher e filhos de Ihor Homeniuk, o ucraniano morto pelo SEF no aeroporto de Lisboa há dois anos. 

Autarquias e governos regionais

Da Trofa saíram no dia 1 de março três carrinhas com destino à fronteira entre a Ucrânia e a Polónia. Na bagagem levaram doações para deixar na fronteira, uma viagem feita com o apoio da Câmara Municipal da Trofa e várias empresas da zona que se juntaram para angariar as verbas necessárias para cumprir esta missão. Também rumo à Política, de Torres Vedras seguiu um autocarro da autarquia cheio de bens de primeira necessidade e no regresso vieram 51 cidadãos ucranianos. O Município de Oliveira do Bairro enviou dois colaboradores “para a fronteira entre a Roménia e a Ucrânia, com o objetivo de trazerem para Portugal refugiados ucranianos, em fuga da guerra que assola o seu país”.

As autarquias têm sido ativas na recolha e distribuição de bens, mas também no acolhimento de quem foge da guerra, seja no que diz respeito ao alojamento, como também a toda a informação necessária para que se sintam em casa. E foi o que fez o Município da Moita, que, “não alheio aos acontecimentos que têm vindo a assolar o povo ucraniano”, aliou-se “ao apoio a todos os cidadãos que necessitem de auxílio, através do Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes - CLAIM", anuncia o site da autarquia”. Também em São João da Madeira, a autarquia criou uma linha de apoio telefónico para acolhimento de cidadãos vindos da Ucrânia.

“Plano Humanitário do Ave à Ucrânia” é o nome do projeto da Câmara Municipal de Fafe, que “pretende implementar, à escala intermunicipal, uma concertação institucional e união de esforços entre os oito municípios, entidades públicas e privadas e a sociedade civil, no sentido de assistir na provisão de ajuda humanitária à Ucrânia”.

No distrito do Porto, a Junta de Freguesia de Rio Tinto e a Junta de Freguesia de Amarante são palco de doações e a Câmara Municipal de Gondomar, em articulação com a Amizade – Associação de Imigrantes de Gondomar e com as Juntas e Uniões de Freguesia, está a ser dinamizada uma campanha institucional de recolha de bens de primeira necessidade. Esta semana os municípios do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos deram início à campanha SOS Ucrânia, tendo já enviado dois camiões com 60 toneladas, com roupa, medicamentos, alimentação e produtos de higiene. A Câmara Municipal da Amadora, por seu turno, atua em três frentes: recolha de bens, bolsa de arrendamento e linha de apoio social à comunidade ucraniana.

Já a Câmara Municipal de Lagos está a fazer recolha de bens e pretende criar uma bolsa de voluntários para apoiar o acolhimento de refugiados. 

Em Lisboa, as juntas de Freguesia da Estrela, Misericórdia, Areeiro, Ajuda e Benfica estão a recolher donativos, assim como as juntas de freguesia de Cascais/Estoril, Alcabideche, São Domingos de Rana, Carvavelos/Parede. Em Leiria e Alcobaça as autarquias estão também ativas no apoio, ajudando na logística da recolha e entrega de bens.

A Câmara de Lisboa abriu o refeitório municipal de Monsanto para apoiar ucranianos retidos na cidade e criou um centro de acolhimento de emergência para refugiados da Ucrânia num pavilhão da Polícia Municipal. Além disso, a autarquia comandada por Carlos Moedas tem em ação um plano de apoio a ucranianos, tendo já constituído uma equipa de missão liderada pela Proteção Civil Municipal, para a coordenação do esforço operacional no terreno. E já realizou um concerto solidário.

Nos Açores, o governo regional já disponibilizou “formulários que servem para famílias, empresas e instituições registarem as suas disponibilidades para garantirem apoio habitacional e possibilidades de trabalho para refugiados ucranianos que se desloquem para o arquipélago”, anuncia o site. Um grupo de madeirenses tomou a iniciativa para criar o movimento Madeira Pela Ucrânia, que faz a recolha de bens e tem o apoio das autarquias do Funchal e da Ribeira Brava, noticia o Diário de Notícias da Madeira. E segundo a Lusa, o Governo Regional da Madeira criou uma linha telefónica de apoio psicológico aos cidadãos russos e ucranianos residentes na região autónoma.

Também Matosinhos, Tomar, Odivelas e Famalicão têm planos de recolha de bens e/ou acolhimentos de refugiados em vigor.

ONG, associações, entidades e instituições de ensino e empresas

Pela mão de Joanna Kolton, polaca a viver em Portugal, várias consultoras imobiliárias privadas estão a unir-se na oferta de alojamento a refugiados. Nos primeiros dias de conflito, o projeto já reunia mais de 1.500 camas disponíveis. Leiria adaptou camarotes do estádio e o estádio de futebol é agora casa de quatro famílias ucranianas. E ainda no que diz respeito ao acolhimento, a Universidade de Coimbra já disse estar disponível para receber estudantes refugiados.

A Universidade de Lisboa está a organizar, até dia 18 de março, a recolha de bens. Também na Faculdade de Letras da Universidade do Porto está ainda a decorrer a angariação de bens necessários para ajudar a Ucrânia, algo que também a Universidade da Beira Interior, na Covilhã, também já o fez. Alguns estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa também já rumaram até à fronteira com a Ucrânia para prestar auxílio a quem lá está.

A Ordem dos Médicos enviou profissionais para os países que fazem fronteira com a Ucrânia e a Ordem dos Enfermeiros também já disponibilizou meios e profissionais para dar auxílio.

Em Alcabideche, uma empresa conseguiu enviar logo no início do mês de março um camião de donativos para a fronteira da Polónia com a Ucrânia.

O SL Benfica fez do Estádio da Luz palco de uma operação logística de recolha e preparação do envio de bens com destino à Ucrânia e ao povo ucraniano. Também a Fundação Sporting e o Sporting Clube de Portugal iniciou um conjunto de iniciativas para apoiar o povo ucraniano, a começar por uma recolha de bens alimentares não perecíveis no Estádio José Alvalade.

A UNICEF já fez chegar a sua ajuda humanitária à Ucrânia e tem contado com a ajuda de várias empresas e entidades, como a Associação de Futebol do Porto (AFP).

A Federação Portuguesa de Futebol, no âmbito da sua política de Responsabilidade Social, a Missão Continente e a TVI (que pertence à Medica Capital, da qual a CNN Portugal também faz parte) uniram esforços para organizar uma campanha de angariação de fundos para apoiar a Ucrânia.

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