A Polónia é o principal destino dos refugiados ucranianos. Famílias separam-se, com os homens impedidos de sair do país. Há abrigo, comida e abraços do outro lado da fronteira
Nataliya Ableyeva cruzou este sábado a fronteira da Ucrânia para a Hungria. Numa mão, o número de telefone de uma mulher que nunca conheceu. Na outra, os filhos dessa mesma mulher.
Antes de cruzar a fronteira, Nataliya cruzou-se com um homem de 38 anos desesperado, da sua terra natal, Kamianets-Podilskyi. Com a lei marcial, que impede os homens dos 18 aos 60 anos de abandonar o país, este pai não conseguiu levar os filhos até terra segura.
“O pai deles simplesmente entregou-me as duas crianças, e confiou em mim, dando-me o passaporte deles”, recorda Nataliya Ableyeva. A mãe, explicou, já estava a caminho, vinda de Itália, para os receber.
O encontro deu-se na vila húngara de Beregsurány. Momento de lágrimas e abraços. Como aqueles que Nataliya Ableyeva não pode dar aos próprios filhos: um é polícia, o outro enfermeiro, ambos adultos. Por isso, nenhum pode abandonar o país.
Esta é uma história com nomes, a contrastar com as milhares de fotografias e relatos nas redes sociais de refugiados ucranianos. Estima-se que cerca de 100 mil já tenham cruzado a fronteira para território polaco nos últimos dois dias. Cerca de nove mil desde as 7 da manhã deste sábado.
Na Polónia é possível entrar sem documentação ou teste à covid-19. Perante esta crise humanitária, o país facilitou as regras. Até os animais de estimação estão autorizados a entrar. Przemysl tem sido um dos destinos mais comuns.
Comboios, autocarros, carros, a pé. Tudo serve para fugir à guerra. Retratos de famílias separadas. São mulheres, crianças e idosos quem ruma aos países vizinhos. Nas mãos, pequenas malas ou sacos de compras. Apenas o essencial. E muitos bebés ao colo.
Mas os controlos às saídas estão cada vez mais arriscados, como neste relato, junto à fronteira polaca, onde os tiros das autoridades se fizeram ouvir.
Ukrainian refugees start fleeing in panic as gun shots ring out just as they are about to cross the Polish-Ukrainian border.
Turned out later that Ukrainian border guards had to start shooting at a Russian drone circulating above the refugees.#ukraine pic.twitter.com/wlaUyrDA3h
— Ukraine Updates (@WW3updated) February 26, 2022
Polónia, Moldávia, Roménia, Hungria e Eslováquia têm as portas abertas. A ONU estima que mais de 120 mil ucranianos já terão fugido do pais. Nos países de acolhimento, pavilhões desportivos e escolas são transformados em abrigos. Os voluntários preparam roupas quentes e comida para quem chega, fugido da guerra.
Tiny shoes waiting for tiny refugees. #poland #Ukraine pic.twitter.com/nqJOkvOT1T
— Ruffini (@EenaRuffini) February 26, 2022
Mais do que bens materiais, que escasseiam, apesar da solidariedade internacional, há algo que todos agradecem ao chegar a território estrangeiro: o carinho de ter alguém que os recebe e acalma. Como nesta fotografia, tirada em Siret, na Roménia – não se poupa no carinho perante famílias desfeitas.