Retrato dos refugiados ucranianos. Nataliya Ableyeva cruzou a fronteira com os filhos de outra mulher nos braços

26 fev 2022, 16:19
Nataliya Ableyeva conforta os filhos de uma desconhecida (Reuters)

A Polónia é o principal destino dos refugiados ucranianos. Famílias separam-se, com os homens impedidos de sair do país. Há abrigo, comida e abraços do outro lado da fronteira

Nataliya Ableyeva cruzou este sábado a fronteira da Ucrânia para a Hungria. Numa mão, o número de telefone de uma mulher que nunca conheceu. Na outra, os filhos dessa mesma mulher.

Antes de cruzar a fronteira, Nataliya cruzou-se com um homem de 38 anos desesperado, da sua terra natal, Kamianets-Podilskyi. Com a lei marcial, que impede os homens dos 18 aos 60 anos de abandonar o país, este pai não conseguiu levar os filhos até terra segura.

“O pai deles simplesmente entregou-me as duas crianças, e confiou em mim, dando-me o passaporte deles”, recorda Nataliya Ableyeva. A mãe, explicou, já estava a caminho, vinda de Itália, para os receber.

O encontro deu-se na vila húngara de Beregsurány. Momento de lágrimas e abraços. Como aqueles que Nataliya Ableyeva não pode dar aos próprios filhos: um é polícia, o outro enfermeiro, ambos adultos. Por isso, nenhum pode abandonar o país.

Retratos como este, tirado na Roménia, multiplicam-se (AP Photo/Andreea Alexandru)

Esta é uma história com nomes, a contrastar com as milhares de fotografias e relatos nas redes sociais de refugiados ucranianos. Estima-se que cerca de 100 mil já tenham cruzado a fronteira para território polaco nos últimos dois dias. Cerca de nove mil desde as 7 da manhã deste sábado.

Na Polónia é possível entrar sem documentação ou teste à covid-19. Perante esta crise humanitária, o país facilitou as regras. Até os animais de estimação estão autorizados a entrar. Przemysl tem sido um dos destinos mais comuns.

Refugiada ucraniana em Przemysl, Polónia (AP Photo/Petr David Josek)

Comboios, autocarros, carros, a pé. Tudo serve para fugir à guerra. Retratos de famílias separadas. São mulheres, crianças e idosos quem ruma aos países vizinhos. Nas mãos, pequenas malas ou sacos de compras. Apenas o essencial. E muitos bebés ao colo.

Guarda polaco apoia refugiados ucranianos na chegada à Polónia (AP Photo/Czarek Sokolowski)
Mulher cruza fronteira com filhos, em direção a Ubla, Eslováquia (Peter Lazar/Getty Images)

Mas os controlos às saídas estão cada vez mais arriscados, como neste relato, junto à fronteira polaca, onde os tiros das autoridades se fizeram ouvir.

 

Polónia, Moldávia, Roménia, Hungria e Eslováquia têm as portas abertas. A ONU estima que mais de 120 mil ucranianos já terão fugido do pais. Nos países de acolhimento, pavilhões desportivos e escolas são transformados em abrigos. Os voluntários preparam roupas quentes e comida para quem chega, fugido da guerra.

Em Slubice, Polónia, preparam-se alimentos para ucranianos (Getty Images)

Mais do que bens materiais, que escasseiam, apesar da solidariedade internacional, há algo que todos agradecem ao chegar a território estrangeiro: o carinho de ter alguém que os recebe e acalma. Como nesta fotografia, tirada em Siret, na Roménia – não se poupa no carinho perante famílias desfeitas.

 

Voluntária acalma bebé russo refugiado em Siret, Roménia (AP Photo / Andreea Alexandru)

 

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados