Putin promove líder checheno conhecido por atos de brutalidade que comanda milícia na Ucrânia

31 mar 2022, 11:15
Ramzan Kadyrov tem 45 anos e é o líder autoritário da República da Chechénia (Foto: AP)

Ramzan Kadyrov, líder autoritário da República da Chechénia, tem sob o seu comando uma milícia que atua na Ucrânia. Foi promovido na hierarquia graças ao seu papel nos combates, apesar de estar ligado ao homicídio de um opositor russo em 2015

O presidente russo promoveu Ramzan Kadyrov a tenente-general pelo seu papel na invasão da Ucrânia, avança o jornal britânico The Guardian, que acrescenta que as tropas comandandas por Kadyrov, de 45 anos, são conhecidas pelos atos de brutalidade extrema.

Kadyrov, líder autoritário da Chechénia, anunciou em meados de março que mil "voluntários" chechenos se tinham deslocado para a Ucrânia para combater ao lado dos russos, mas já terão saído da Chechénia milhares de combatentes para participar no conflito de Moscovo contra Kiev. Kadyrov tem uma milícia sob o seu comando e estas forças são acusadas de inúmeros abusos na República da Chechénia, que é parte da Federação Russa. Nos últimos dias, foi um dos ultranacionalistas que falaram contra as negociações de paz, pedindo ao presidente Putin "que nos permita pôr fim ao que ele começou".

“Devemos completar o que começámos, não parar. Temos de chegar a Kiev. Tenho a certeza de que entraremos em Kiev e colocaremos as coisas em ordem”, disse Kadyrov na terça-feira, num grande comício militar, em Grozny. 

A invasão da Ucrânia pelas forças russas ofereceu ao líder checheno a possibilidade de reforçar de forma pública a lealdade a Putin, ao mesmo tempo que exibe a sua aparente impunidade: o nome de Kadyrov foi desde sempre ligado ao homicídio do opositor russo Boris Nemtsov, que foi alvejado em 2015 a poucos metros do Kremlin, dias antes de participar num protesto contra a anexação da Crimeia.

De acordo com o Guardian, Kadyrov tem conseguido mobilizar a sociedade chechena a favor da invasão russa, chegando mesmo a recrutar soldados em clubes de artes marciais. Mais recentemente, permitiu que o exército recrutasse homens entre reclusos e já foi constituído um grupo de antigos detidos que deverá viajar para a Ucrânia na próxima rotação de tropas. Em simultâneo, o checheno tem procurado impor-se como líder perante os seus pares e pedindo lealdade à sua figura em vez de incentivar fidelidade à Rússia, até porque tem uma relação descrita pela imprensa como problemática com os serviços de segurança russos. 

O Guardian acrescenta que Kadyrov tem partilhado vários vídeos na Ucrânia, ainda que não se tenha mostrado na linha da frente dos combates, sugerindo que os chechenos assumiram também responsabilidades ao nível da propaganda. Os homens de Kadyrov terão como tarefas principais o patrulhamento por trás das frentes de combate, disparando contra eventuais desertores, bem como os interrogatórios de civis. Esta será uma "especialidade" dos seguidores de Kadyrov, dos quais existem registos de abuso e tortura.

A ligação ao homicídio de Boris Nemtsov

Já esta semana, Kadyrov deixou-se fotografar num hospital, onde visitou Ruslan Geremeev, a quem chamou "querido irmão". Geremeev, que terá ficado ferido em combates na cidade de Mariupol, foi apontado pela família de Boris Nemtsov como o cérebro por trás do homicídio do opositor russo. 

Em 2017, cinco homens chechenos foram considerados culpados do crime, mas familiares e aliados de Nemtsov disseram publicamente que o julgamento não passava de uma farsa, que deixou em liberdade os verdadeiros homicidas. A investigação apontou como organizador da morte do opositor russo Ruslan Mukhudinov, na altura motorista de Geremeev, que alegadamente ofereceu milhões de rublos aos autores do crime. Porém, o motorista nunca foi localizado, tendo chegado a servir numa unidade paramilitar ligada a Kadyrov, que nunca foi diretamente relacionado com o homicídio de Nemtsov e parece gozar de impunidade perante a justiça russa, em resultado da ligação ao presidente Putin.

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