Prigozhin acusa Shoigu e Gerasimov de tentarem "destruir" o seu exército privado: "Dizem que a Wagner não deve receber munições"

23 fev 2023, 20:00
Grupo Wagner (AP)

Críticas que marcam uma escalada na guerra de poder dentro círculo próximo de Putin, lançada pelo chefe do grupo de mercenários contra as forças armadas de Moscovo

A guerra de poder entre Yevgeny Prigozhin, o influente fundador do grupo mercenário Wagner com laços estreitos com o presidente Vladimir Putin, contra as altas patentes militares da Rússia atingiu um novo patamar esta semana após o oligarca ter acusado o ministro da defesa russo, Sergei Shoigu, e o chefe do Estado-Maior General, Valery Gerasimov, de tentar "destruir" ‘o seu exército privado’.

"O chefe do Estado-Maior General e o Ministro da Defesa estão a dar ordens à esquerda e à direita, que dizem que a Wagner não só não deve receber munições, como também não deve receber ajuda no transporte aéreo", diz Prigozhin numa mensagem de voz afixada no canal de Telegram do serviço de imprensa da sua empresa Concord, esta terça-feira.

"Há um impedimento direto", disse, e uma "tentativa de destruir o PMC Wagner". As acusações de Prigozhin são outro sinal de luta interna no exército russo. Figuras ultranacionalistas como Prigozhin e o líder checheno Ramzan Kadyrov têm vindo a pressionar o Kremlin para uma reestruturação dos escalões superiores do comando militar.

Prigozhin atacou também os oficiais militares que “enviaram os seus filhos e netos em férias para o Dubai, enquanto os soldados morriam na guerra”, numa aparente referência à filha de Shoigu, que foi recentemente vista de férias nos Emirados Árabes Unidos.

Prigozhin, que antes da Ucrânia já tinha ligações a várias operações militares na Síria e em África, tem ele próprio insistindo que os seus homens são muito mais eficazes do que o exército. Críticas que surgem cerca de um mês após uma grande remodelação nas altas patentes militares russas que viu Valery Gerasimov ser nomeado para o cargo de Chefe do Estado-Maior General russo.

Sobre as críticas do líder paramilitar, o Ministério da Defesa russo negou limitar quaisquer carregamentos de munições a voluntários na frente, mas não fez qualquer menção à força Wagner. "Tentativas de criar uma divisão dentro do mecanismo estreito de interação e apoio entre unidades dos grupos [de combate] russos são contraproducentes e funcionam exclusivamente em benefício do inimigo", comunicou fonte do ministério, numa declaração proferida horas após as críticas de Prigozhin.

Subsequentemente à declaração do Ministério da Defesa, o oligarca foi mais longe, descrevendo-a como um "cuspo na cara do grupo militar privado Wagner e uma tentativa de encobrir os seus crimes contra os combatentes que hoje estão a realizar atos de bravura".

Paralelamente, Prighozhin publicou fotografias de dezenas de mercenários russos mortos empilhados no meio do gelo ucraniano, imagens que acompanham as alegações de que as derrotas militares são direta consequência das recusas de Moscovo. As fotografias e a corrente de ataques surgiram também no mesmo dia em que Putin subiu ao palco para o seu discurso do Estado da Nação. Nele omitiu qualquer menção às derrotas no campo de batalha e às já penosas baixas, transmitindo um cenário de uma Rússia unida em torno de um objetivo comum.

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