Polónia pede resposta "firme" a nova ameaça de Putin. O que se sabe sobre a transferência de armas nucleares para a Bielorrússia

27 mar 2023, 14:02

Presidente russo anunciou no sábado que vai colocar armas táticas nucleares em território de Minsk. Polónia, que faz fronteira com a Bielorrússia, pede reação aos países ocidentais e Ucrânia avisa que Putin fará do vizinho um "refém nuclear"

Vladimir Putin anunciou no sábado que chegou a um acordo com a Bielorrússia para colocar armas táticas nucleares em território de Minsk, na prática, trazendo algum do seu arsenal para mais próximo do resto da Europa. Em resposta, a Ucrânia solicitou uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e pediu o fim da "chantagem nuclear" do Kremlin. 

A NATO, por sua vez, criticou Moscovo pela sua retórica nuclear "perigosa e irresponsável" e a UE admitiu sancionar a Bielorrússia pela associação a Moscovo. Mas, já esta segunda-feira, a Polónia - que faz fronteira com a Bielorrússia e com o enclave russo de Kaliningrado, veio pedir calma ao mundo ocidental: sem deixar de admitir que a deslocação de armas nucleares russas para a Bielorrússia seria "um elemento de escalada" na guerra, o ministro polaco para os assuntos da União Europeia, Szymon Szynkowski, afirmou que o Ocidente não pode deixar-se intimidar pelos "propagandistas russos".

"A reação deverá ser calma mas firme", disse Szynkowski. Até porque, conforme lembra o major-general Isidro de Morais Pereira, em declarações à CNN Portugal, "mais próximo das fronteiras da NATO temos armas nucleares em Kaliningrado e conseguimos viver com essa ameaça sem qualquer problema".

Kaliningrado é o território mais ocidental da Rússia e a única zona do país cercada por Estados da União Europeia, fazendo fronteira a sul com a Polónia. Entre Kaliningrado e a Bielorrússia situa-se a Lituânia, que chegou a proibir a passagem pelo seu território, a caminho do enclave russo, de mercadorias sancionadas pela UE - uma disputa que fez subir as tensões na região, capturada aos nazis pelas tropas soviéticas em 1945 e que depois se tornou parte do território soviético. 

"Estamos perante mais uma operação de informação cujo resultado vai ter implicações para a Bielorrússia, que já estava a ser sancionada, mas não tão sancionada quanto a Federação Russa, e vai trazer-lhe problemas no domínio económico se o deslocamento desse tipo de armas se verificar até julho", acrescentou Isidro de Morais Pereira. 

Instalações construídas até julho

Vladimir Putin anunciou ainda que a Rússia terá completado, até 1 de julho, a construção de instalações de armazenamento para as armas nucleares na Bielorrússia, mas não forneceu uma data para a deslocação do armamento nuclear para território de Minsk. Nesta altura, a Rússia tem posicionadas na Bielorrússia dez aeronaves capazes de transportar armas táticas nucleares, precisou o presidente russo, e que estarão em treinos para o efeito a partir do dia 3 de abril.

Putin disse mesmo que o próprio presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, tinha pedido armas nucleares, na sequência do anúncio do Reino Unido, na semana passada, de que iria enviar para a Ucrânia munições com urânio empobrecido, juntamente com a frota de carros de combate Challenger 2 - ainda que a toxicidade destas munições levante questões sobre o seu uso no campo de batalha, não são consideradas, em qualquer aspeto, uma arma nuclear. 

"Acordámos que vamos fazer o mesmo [que os Estados Unidos], sem violarmos as nossas obrigações. Enfatizo: sem violarmos a nossas obrigações internacionais de não proliferação de armas nucleares", frisou Vladimir Putin. 

EUA não detetam movimentações

O Departamento de Estado norte-americano revelou, também no sábado, que não havia por agora indicação de que a Rússia estivesse a preparar movimentações para mover armas nucleares. "Não vimos quaisquer razões para ajustar a nossa própria postura estratégica nuclear", referia um comunicado norte-americano. 

As reações do lado bielorrusso ouviram-se da líder da oposição no exílio: Sviatlana Tsikhanouskaya considerou que a decisão russa "contradiz grosseiramente a vontade do povo bielorrusso" e reflete o crescente domínio de Moscovo sobre Minsk.

Já Oleksiy Danilov, líder do conselho de segurança e defesa nacional da Ucrânia, escreveu no Twitter que este é mais um passo de Moscovo para desestabilizar internamente a Bielorrússia e que irá fazer crescer uma perceção negativa em relação a Putin na sociedade bielorussa. "O Kremlin fez da Bielorrússia um refém nuclear", acusou Danilov.

Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente da Ucrânia, aproveitou a oportunidade para ironizar, dizendo mesmo que Putin é "demasiado previsível". 

"Ao fazer uma declaração sobre armas táticas nucleares na na Bielorrússia, ele admite que tem medo de perder e tudo que consegue fazer é assustar com táticas", escreveu Podolyak no Twitter. 

O chefe da diplomacia europeia, alertando para a imposição de sanções a Minsk, fez da sua parte um apelo a Lukashenko. "A Bielorrússia albergar armas nucleares russas significaria uma escalada irresponsável e uma ameaça para a segurança europeia. A Bielorrússia pode travá-lo, é escolha deles. A UE está pronta para responder com mais sanções", avisou Josep Borrell.

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