Mísseis russos atingem estação de Kramatorsk. Ucrânia fala em 50 mortos, Rússia diz que não usa aquele armamento

António Guimarães , Atualizada às 11:34
8 abr 2022, 09:59

Local é utilizado diariamente para a evacuação da zona do Donbass. Autoridades dizem que centenas de pessoas estavam no local

Dois mísseis russos atingiram a estação de comboios da cidade de Kramatorsk na manhã desta sexta-feira, revelam as autoridades ucranianas. De acordo com a empresa que gere os comboios do país, que está a ser citada pela agência Reuters, pelo menos 30 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas. No entanto, numa informação mais recente, o governador da região de Donetsk indicou que os números oficiais apontam para 50 mortos, entre os quais se contam cinco crianças.

Citado pela agência Reuters, Pavlo Kyrylenko admitiu que se teme a morte de dezenas de pessoas na sequência do ataque, acrescentando que cerca de 90 terão ficado feridas, em números que são ainda preliminares. Quanto ao ataque, o responsável não tem dúvidas: foi conduzido para prevenir a saída de civis da cidade. O responsável ucraniano acusou ainda a Rússia de utilizar bombas de fragmentação nos mísseis lançados.

"Se no início eles atacam exclusivamente as linhas de comboio, agora já não são só as linhas. Também disparam mísseis com bombas de fragmentação que são destinadas às pessoas. Isto confirma que o ataque era dirigido a civis", vincou.

O autarca da cidade de Kramatorsk avançou um número de pessoas no local, dizendo que perto de quatro mil pessoas estariam na estação à altura do bombardeamento, sendo que a maioria seriam mulheres, crianças e idosos.

O presidente da Ucrânia já veio reagir ao caso, dizendo que o "mal" da Rússia "não tem limites". Depois disso, em discurso ao parlamento da Finlândia, referiu que o número o número de feridos poderia rondar os 300.

"As forças russas atingiram a estação de comboio em Kramatorsk, uma estação de comboios normal, com pessoas normais, onde não estavam soldados", disse.

“Sem a força e a coragem para nos enfrentar no campo de batalha, destroem cinicamente a população civil. Esta é uma maldade que não conhece limites. E se não for punida, nunca parará", escreveu Volodymyr Zelensky na rede social Telegram, denunciando os métodos "desumanos" das forças russas.

Russos negam ataque e acusam Ucrânia

A primeira reação oficial do lado russo surgiu por parte do Ministério da Defesa, que nega a responsabilidade do ataque. Em declarações citadas pela agência Reuters, que cita a RIA, o governo russo diz que o tipo de míssil utilizado em Kramatorsk só é utilizado pelo exército ucraniano, acrescentando que será um tipo de míssil semelhante ao utilizado num ataque que matou 17 pessoas em Donetsk a 14 de março. A mesma fonte diz ainda que a Rússia não tinha quaisquer alvos definidos em Kramatorsk para esta sexta-feira

O Ministério da Defesa da Rússia acrescentou depois que o ataque foi conduzido por uma divisão de mísseis ucranianos que está estabelecida em Dobropolye. De acordo com a agência estatal TASS, a Rússia indica que os projéteis utilizados foram mísseis táticos Tochka-U, referindo que o mesmo pode ser confirmado pelos destroços no local.

No mesmo comunicado a tutela russa acrescenta que o propósito ucraniano foi impedir a saída de civis para os utilizar como escudo humano.

Essa informação foi corroborada pelo porta-voz do Kremlin, que disse que os mísseis Tochka-U não são utilizados pelo exército russo, o que foi também referido pela Defesa russa.

Quem também já reagiu foi o porta-voz da autoproclamada República Popular de Donetsk. Eduard Basurin diz que o ataque não passou de uma provocação por parte das forças de segurança da Ucrânia, confirmando depois que cerca de 30 pessoas terão morrido.

Ocidente condena bombardeamento

O alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança condenou o ataque à estação de comboios de Kramatorsk, onde cerca de 30 pessoas terão perdido a vida.

A caminho da Ucrânia, Josep Borrell falou num "ataque indiscriminado por parte da Rússia": "Esta é mais uma tentativa de fechar as rotas de fuga para aqueles que fogem de uma guerra injustificada", acrescentou. 

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, referiu-se ao ataque como "desprezível". 

O presidente do Conselho Europeu afinou pelo mesmo diapasão, pedindo "mais sanções contra a Rússia e mais armas para a Ucrânia".

Entretanto o correspondente do jornal The Economist publicou uma fotografia com os restos de um dos mísseis, afirmando que se pode ler a expressão "para as crianças" em letras russas. A mesma fotografia está a circular nas agências internacionais. Uma análise da Sky News indica que a forma como a palavra "para" está escrita pode indicar uma outra formulação, que significaria, traduzindo, "pelo que tem sido feito às crianças".

O Estados Unidos condenaram o ataque, falando em "imagens horríveis e devastadoras". A porta-voz da Casa Branca Kate Bedingfield condenou a situação numa entrevista à CNN.

Aquela estação tem sido utilizada para retirar civis da região do Donbass, onde se acredita que as tropas russas estejam a concentrar todas as suas atenções, nomeadamente nas cidades de Donetsk e Lugansk, mas também de Mariupol.

Este novo ataque surge depois de relatos de que três comboios destinados à evacuação de civis foram bloqueados depois de um ataque aéreo perto da estação de Barvinkove durante a noite desta quinta-feira.

A imagem abaixo, captada na quarta-feira, mostra um ajuntamento de centenas de pessoas no local bombardeado esta sexta-feira. É ali que vários ucranianos chegam para tentarem escapar ao cenário de guerra.

Centenas de civis juntam-se na estação de Kramatorsk (Andrea Carrubba/Anadolu Agency via Getty Images)

 

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