Impasse na UE deixa Ucrânia em perigo de colapso financeiro

3 nov, 09:16
António Costa, Volodymyr Zelensky e Ursula von der Leyen (EPA)

Empréstimo do FMI depende da viabilidade económica da Ucrânia, que pode depender de uma decisão que Bruxelas ainda não tomou

Pressionada na linha da frente em vários pontos, a Ucrânia arrisca-se agora a ficar sem um apoio fundamental. De acordo com o Politico, o Fundo Monetário Internacional (FMI) está a ponderar cortar o financiamento a Kiev, o que pode levar a um colapso financeiro.

Em causa está a recusa da Bélgica em apoiar um plano para que a Comissão Europeia financie a Ucrânia com um empréstimo multimilionário que daria à Ucrânia um novo fôlego.

O FMI avisa que o chumbo dessa proposta, avaliada em 140 mil milhões de euros, poderá levar à perda da confiança na viabilidade económica da Ucrânia, o que levaria o fundo a cortar o empréstimo de sete mil milhões de euros que deverá chegar ao longo de três anos.

A proposta em causa prevê a utilização dos bens congelados da Rússia, naquele que seria uma espécie de “empréstimo de reparações”, e que forçaria Moscovo a pagar parte dos danos da guerra que causou.

Só que a Bélgica não está convencida, o que ameaça deitar tudo por água a baixo, uma vez que há necessidade de uma unanimidade entre os 27 para esta proposta ser aprovada.

No entender dos aliados, o empréstimo do FMI é essencial para manter a máquina financeira da Ucrânia a funcionar. Agora, tudo isso está em risco.

O Politico refere, citando um responsável da Comissão Europeia e diplomatas de três países, que só esse acordo é que pode convencer o FMI a ver a Ucrânia como um país viável financeiramente nos próximos anos, algo que o fundo entende ser essencial para avançar com o empréstimo.

A oposição da Bélgica foi confirmada durante uma reunião dos líderes da União Europeia, o que agora coloca um problema temporal, como confessa uma das fontes do Politico.

A próxima reunião em que o assunto estará em cima da mesa acontece apenas a 18 e 19 de dezembro, datas em que o futuro financeiro da Ucrânia pode estar em jogo. É que os Estados Unidos decidiram cortar significativamente o apoio, deixando Kiev à mercê da capacidade da União Europeia para manter a credibilidade internacional.

E o problema nem é o empréstimo do FMI em si, que acaba por ser pequeno na dimensão que falamos, mas antes o sinal que isso dá. É que o chumbo ou a aprovação do pacote envia sinais completamente diferentes aos investidores, o que pode fazer a diferença junto dos mercados e da capacidade da Ucrânia se financiar.

“É um marco para os outros países e instituições avaliarem se a Ucrânia está a ter uma governança apropriada”, refere um responsável ucraniano ao Politico, sabendo-se que responsáveis do FMI têm visita marcada para a Ucrânia ainda esta semana.

E se para já se discute a credibilidade internacional da Ucrânia, a montante estão os tais 140 mil milhões de euros. Da última vez que o assunto foi discutido, os líderes europeus decidiram retirá-lo da mesa como uma concessão à Bélgica.

Esse mesmo texto referia apenas um “convite à Comissão Europeia para apresentar, tão cedo quanto possível, opções para o apoio financeiro baseado nas necessidades da Ucrânia”.

A Ucrânia fica agora à espera da visita do FMI e das reuniões em Bruxelas. Ambas podem decidir a sua capacidade de continuar a resistir à invasão russa enquanto alimenta a máquina do Estado social.

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