Eram quatro, agora são oito. Família de Coimbra abre a porta a refugiados ucranianos

Agência Lusa , BMA
18 mar 2022, 18:31
Bandeira da Ucrânia (Getty Images)

Rui e Mónica são os primeiros de mais de 90 munícipes que se disponibilizaram para acolher refugiados.

Rui e Mónica abriram esta sexta-feira as portas da sua casa, em Coimbra, para receber uma família de Kharkiv, na Ucrânia, passando de “quatro para oito” elementos. São os primeiros de mais de 90 munícipes que se disponibilizaram para acolher refugiados.

Assim que as amigas Nataliya e Alyssa chegaram ao destino disseram a única palavra que conseguiram por agora decorar em português: “Olá!”

À sua espera estão Rui Rodrigues, de 39 anos, e Mónica Gonçalves, de 37 anos, que decidiram, quase de forma “instintiva”, inscrever-se na bolsa de acolhimento promovida pela Câmara de Coimbra para receber famílias ucranianas que fogem da guerra.

Mais tarde, chegarão ainda a filha de 12 anos de Natalyia e também a sua mãe, septuagenária.

As quatro vão viver os próximos tempos na casa de Rui e Mónica, que têm dois filhos de sete e três anos.

“Vai ser um período de adaptação para todos nós. A nossa família passa de quatro para oito no espaço de pouco tempo, mas temos família à volta para ajudar e apoiar no que for preciso. As coisas arranjam-se e resolvem-se quando há vontade”, diz à agência Lusa Mónica.

O casal, que trabalha na área do marketing digital, tinha-se mudado para aquela casa, na margem esquerda do Mondego, há pouco mais de um ano e nem estava “100% pronta”, mas a notícia de que iriam receber refugiados levou-os a uma corrida para terminar o último quarto.

Para os próximos tempos, acreditam que os gestos e “o bom ‘Google’” ajudem a quebrar as barreiras de comunicação.

“Haveremos de nos conseguir entender de alguma forma”, diz Rui.

Numa zona pacata próxima da cidade, onde o som dos carros é trocado pelo canto dos pássaros, esperam que a calmaria daquele local também dê agora algum conforto à família que recebem.

“Esperemos que o sossego seja algo que procuram. Poderá ser bom estar aqui, temos espaço exterior e oportunidade de dar umas voltas pela natureza”, conta Mónica.

Para Rui, esta também será uma lição para os seus dois filhos – mesmo que o mais novo ainda não compreenda muito bem o que se está a passar.

“Eram pessoas que tinham uma vida perfeitamente normal até dia 24 de fevereiro e depois tudo mudou. Gostava de ir para a Ucrânia e ser recebido como eu os recebo cá, caso precise. Esperemos que mais gente adira e possa abrir as portas das suas casas, caso tenha condições para isso”, frisou Rui.

No primeiro contacto, quem serve de ligação e de tradutora é uma amiga de infância de Natalyia (com o mesmo nome), natural de Kharkiv, e que a partir do basquetebol profissional acabou por se mudar para Portugal há 20 anos, estando a residir em Coimbra.

“Vim para cá jogar e fiquei cá. Nunca pensei que nos poderíamos encontrar desta forma”, conta a tradutora de serviço.

Com a ajuda da tradução de Natalyia, a sua homónima conta à Lusa que fugiram de Kharkiv, cidade próxima da fronteira da Rússia e uma das cidades mais fustigadas pela ofensiva de Moscovo.

A viagem foi longa e feita de paragens. Primeiro de autocarro até Poltava, depois de comboio até Kremenchuk e novamente de autocarro até Varsóvia, na Polónia, onde estiveram três dias até viajar para Lisboa, com o contacto da sua amiga infância de Coimbra, que nunca mais tinha voltado à Ucrânia desde 2014.

Alyssa explica que “a gota de água” que a levou a sair do seu país foi quando houve disparos ao lado da casa onde vive, em Kharkiv.

Para trás, Alyssa deixa a irmã, que está em Kiev, e Natalyia o seu filho de 22 anos.

“Elas tinham as suas casas, bom trabalho, uma vida tranquila. Nunca pensaram em sair de lá e procurar uma vida melhor aqui, no fim do mundo, com o oceano já aqui ao lado”, conta a amiga que faz de tradutora.

A família ainda não conseguiu estabilizar.

“Ainda não percebo nada. Ainda não tive tempo para assimilar isto. É como se estivesse a ver fotografias a passarem todas muito depressa”, conta Natalyia, muito agradecida a Rui e Mónica, mas desejosa para que a estabilidade volte à Ucrânia e possa regressar à sua cidade.

“Tem lá a vida toda”, frisa a amiga.

Segundo a vereadora da Câmara de Coimbra com a pasta da ação social, Ana Cortez Vaz, para a semana "mais duas ou três famílias" deverão acolher nas suas casas refugiados ucranianos, num processo que conta com acompanhamento de técnicos distribuídos por cada uma das freguesias.

De acordo com a responsável, há cada vez mais famílias a disponibilizarem a sua casa, registando já mais de 90 alojamentos prontos a receber refugiados.

"Infelizmente, a Câmara de Coimbra não tem alojamentos, mas é bom ver a comunidade a abraçar estas causas e a Câmara de Coimbra a ser apenas o elo de ligação", disse a vereadora, frisando que o município está a trabalhar para garantir "alojamento urgente e temporário", estando à espera de confirmação por parte da entidade a quem foi solicitado apoio.

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