Entre a Polónia e a Ucrânia, o penoso caminho para ajudar quem precisa

23 mar 2022, 23:52

Crónica dos enviados especiais da CNN Portugal/TVI João Fernando Ramos e Nuno Miguel Santos

Cinco da manhã em Medyca. Na hora certa lá estamos eu e o Nuno Miguel Santos à espera do Nuno André para seguirmos com ajuda humanitária para Lviv. 
 
Ele lá chegou armado com uma Ford Transit de 2004, ajoujada de caixas de medicamentos e com mais de 500 mil quilómetros no lombo. É o que se pode recomendar para uma viagem a um país em guerra, onde os seguros não cobrem riscos. Se alguém se entusiasmar, lá ficaria a velhinha, mas cumpridora, amiga desta organização de portugueses que insiste em levar ajuda diretamente aos ucranianos. 
 
A passagem na fronteira é um elogio à paciência com um tratado de estupidez que só terá comparação com os motivos desta guerra. Esperam-se horas por carimbos no passaporte, momentos de inspiração de um qualquer guarda ou militar para dizer que sim e abrir uma das mil cancelas e ainda se corre o risco de se chegar ao lado ucraniano e viagem ficar logo ali, por questões de segurança. 
 
Se a Polónia quer mesmo ser amiga da Ucrânia, podia fazer um grande favor a quem sofre com esta guerra e simplificar os processos de passagem da fronteira. Na verdade, simplifica às carrinhas de vidros fumados ou aos autocarros que passam em passo veloz, guiados pelos militares de um lado e do outro. Mas não vamos falar disso nesta crónica. 
 
Esta é a hora de repensar a forma como queremos ajudar os milhões de refugiados e muitos estão dentro da Ucrânia, em terras mais tranquilas, como Lviv. No centro onde estivemos não há fartura de nada a não ser de pedidos educados de ajuda. É impressionante a forma digna como aquelas mulheres, com o seu melhor casaco e com o batom certo nos lábios, entram na escola 60 e fazem uma lista de necessidades urgentes. Leite, massas, água, farinha, uma simples pasta de dentes. A guerra está a desfazer famílias a destruir os lares, os empregos a forma feliz como aquelas pessoas viviam. Lviv está cheia de gente, aparentemente sorridente, mas sem nada na despensa. Muitos deles são refugiados de outras cidades que optaram por ali ficar em vez de saírem já do país.
 
A comunidade internacional coloca diariamente milhares de toneladas de ajuda nas fronteiras polacas. Portugal é um excelente exemplo dessa vontade de ajudar. É preciso ser agora mais audaz e atravessar a fronteira, nem que seja com um regimento de Ford Transit de 2004. Dariam certamente conta do recado e tornariam menos infelizes os dias de quem ainda resiste na terra onde nasceu, mesmo com a ameaça de um demolidor bombardeamento numa qualquer hora destes dias.
 
É preciso levar a ajuda às pessoas que ainda estão na Ucrânia. 

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