Drones “kamikazes” e antiaéreas. As novas armas que a Ucrânia vai receber dos EUA e dos aliados da NATO

20 mar 2022, 08:17
Militar ucraniano em Mariupol (AP Images/Mstyslav Chernov)

Apesar da forte resistência ucraniana ao 25.º dia de guerra, a diferença de poderio bélico entre o exército russo e ucraniano é enorme. Sem querer participar diretamente no conflito, Estados Unidos da América e NATO têm apoiado os ucranianos com material militar numa tentativa de reequilibrar as forças. Saiba quais são as novas armas prometidas pelos aliados

“A Rússia transformou o céu do nosso país numa fonte de morte para milhares de pessoas”, afirmou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, durante um discurso ao Congresso norte-americano, na quarta-feira, onde voltou a apelar aos Estados Unidos para criarem uma zona de exclusão aérea. O pedido voltou a ser rejeitado pelo presidente norte-americano, Joe Biden, que, horas depois, anunciou um pacote de auxílio militar de 800 milhões de dólares (aproximadamente 723 milhões de euros).

Criar uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia significaria que Estados Unidos e NATO teriam que confrontar os aparelhos que sobrevoassem esse espaço. Isso implicaria ativar sistemas de vigilância, defesa antiaérea e, no limite, abater as aeronaves que violassem as regras, o que poderia ser considerado pelos russos como uma declaração de guerra por parte da aliança transatlântica e uma justificação para alargar o confronto no terreno a outros países.

O presidente norte-americano prometeu, no entanto, um apoio militar "sem precedentes", com drones, sistemas de defesa anti-aérea e armas para combatentes civis. Mas que sistemas militares são estes e que diferença podem fazer no combate contra um dos mais avançados exércitos do mundo?

Drones "kamikazes"

Era um dos grandes mistérios do pacote de auxílio militar anunciado pela Casa Branca. O documento, publicado no site oficial do governo americano, continha uma alínea que descrevia a entrega de 100 veículos aéreos não tripulados, mas não descrevia o tipo de dispositivos. Horas mais tarde, veio a confirmação por parte do Pentágono: são os Switchblade, fabricados pela empresa AeroVironment.

Estas armas são conhecidas como drones "kamikazes", por se tratarem de pequenos explosivos teleguiados que explodem com o impacto. Cada aeronave é dobrável e é colocada no interior de um morteiro. Assim que é disparado, o drone abre as asas e é guiado por um operador até ao alvo. Além disso, o seu pequeno tamanho faz com que os sistemas de defesa aérea russos sejam incapazes de os detetar. Existem três variações destes drones, sendo que a mais evoluída pode atingir velocidades de 185km/h e percorrer um raio de 40 quilómetros. O Pentágono não especificou qual o modelo que vai ser enviado para a Ucrânia.   

Switchblade Drone Foto: Cpl. Alexis Moradian/U.S. Marine Corps via AP

Stingers

Passado quase um mês desde o início da guerra na Ucrânia, a força aérea russa ainda não consegue atuar no espaço aéreo ucraniano com impunidade. Este facto deve-se, em parte, ao sistema antiaéreo portátil FIM-92 Stinger. Washington decidiu reforçar o apoio e prometer o envio de mais 800 destes mísseis utilizados pela infantaria. Desde o início do conflito, a Ucrânia já recebeu mais de dois mil mísseis Stinger dos EUA e dos aliados da NATO.

Este sistema norte-americano portátil dispara um míssil terra-ar guiado por infravermelhos. Foi utilizado com grande efeito contra a força aérea soviética durante a Guerra do Afeganistão. A par do sistema soviético de mísseis terra-ar S-300, este modelo é creditado pelas forças armadas ucranianas como um dos principais responsáveis pelo abate das 93 aeronaves e 112 helicópteros que a Ucrânia diz ter destruído.  

Soldados norte-americanos a disparar um míssil Stinger Foto: Vadim Ghirda/AP Photo/Vadim Ghirda

Javelins

Se foi o sucesso da sua utilização que valeu uma música de homenagem aos drones turcos Bayraktar TB-2, então não é de espantar que o sistema antitanque FGM-148 Javelin, produzido pela Raytheon e pela Lockheed Martin, também já tenha a sua própria banda sonora. Esta arma é particularmente bem-sucedida na sua missão de destruir tanques e é um dos principais responsáveis, a par dos drones turcos, das centenas de imagens que mostram tanques russos completamente desfeitos no terreno.

Talvez por isso, no documento assinado por Joe Biden consta a promessa do envio de mais dois mil Javelins (já tinham sido enviados 2.600 desde o início da guerra). Este armamento funciona com um sistema de “disparar e esquecer”. Isto significa que recorre a um sistema automático guiado por infravermelhos que permite ao utilizador focar um alvo, disparar e esquecer. O Javelin torna-se mortífero até contra os blindados mais modernos, uma vez que o seu sistema funciona de forma a acertar sempre na parte de cima dos tanques, a mais vulnerável destes veículos.

No entanto, esta arma pode ser utilizada contra outro tipo de estruturas, como prédios ou até mesmo helicópteros a voar a baixas altitudes. O míssil do Javelin tem um alcance que pode ir até aos 2,5 quilómetros.

Soldados ucranianos disparam sistema antitanque Javelin Foto: Gabinete de Imprensa do Ministério da Defesa Ucraniano via AP

AT-4

As Forças Armadas ucranianas garantem já ter destruído 450 tanques e 1448 blindados russos. Embora esse número seja difícil de confirmar de forma independente, o documento assinado por Biden garante o envio de seis mil sistemas antitanque portáteis AT-4. Estes dispositivos prometidos pelos americanos juntam-se somam-se aos já enviados por outros países aliados, como a Noruega, que enviou dois mil, e a Suécia, que enviou mais de cinco mil.

Estas armas, produzidas na Suécia pela Saab, destacam-se pela facilidade de utilização e geralmente são descartadas após uma utilização. São umas das armas mais utilizadas contra veículos e posições fortificadas. O aparelho pesa apenas 6,7 quilos, tem 1 metro de comprimento e tem a capacidade de disparar por cima do ombro uma carga explosiva com um alcance de 500 metros.

Soldado norte-americano com uma arma antitanque AT-4 Foto: Justin Connaher/Força Aérea dos EUA via AP

Armas ligeiras antitanque (NLAW)

Desenvolvidos pelos suecos da Saab e produzido pela produtora de mísseis Thales Air Defence, os NLAW (Armas Antitanque Ligeiras da Próxima Geração em português) têm sido uma das armas mais enviadas para o teatro de guerra na Ucrânia, particularmente por parte do governo britânico, que já enviou mais de 3.600 unidades, com a promessa de mais algumas centenas em breve. Também o Luxemburgo enviou cerca de 100.

Estes sistemas pesam cerca de 12,5kg , disparam um míssil com cerca de um metro e têm um alcance que vai até aos mil metros a uma velocidade de 40 metros por segundo. O míssil dos NLAW tem também a capacidade de ajustar a sua trajetória durante o voo, mantendo sempre a direção ao alvo. Os EUA prometem, neste pacote de ajuda, o envio de mil NLAW. 

Soldado ucraniano dispara um sistema antitanque britânico NLAW na região do Donbass Foto: Vadim Ghirda/AP

Sistema antiaéreo Starstreak

O ponto fraco ucraniano continua a estar na sua capacidade de proteção antiaérea. Para tentar colmatar esta fraqueza, o Reino Unido prometeu enviar um dos seus sistemas mais avançados de mísseis antiaéreos de alta velocidade: o sistema portátil Starstreak.

Este mecanismo de curto alcance, também produzido pela Thales, dispara um míssil de alta velocidade que pode acelerar para uma velocidade três vezes superior à velocidade do som. Depois de ser disparado, o míssil separa-se em três submunições guiadas por laser, aumentando a probabilidade de acertar no alvo.

Proteção e munições, muitas munições

Para além do material já referido, o orçamento americano prevê também o envio de cerca de 25 mil capacetes e o mesmo número de coletes à prova de bala. Os EUA vão ainda enviar, nos próximos dias, 20 milhões de munições, lança granadas e morteiros, para apoiar o esforço de guerra ucraniano.

O pacote anunciado pela Casa Branca não é o primeiro desde que a invasão russa começou, na madrugada de 24 de fevereiro. Logo nos primeiros dias dos combates, Joe Biden autorizou o envio de apoio militar no valor de 350 milhões de dólares, que se juntaram às 90 toneladas de material bélico, avaliado em 200 milhões de dólares, entregues no mês de janeiro.

No total, os Estados Unidos já enviaram 1,4 mil milhões de dólares em apoio militar apenas este ano. O que representa um aumento do investimento militar norte-americanos na Ucrânia quando comparado com os 2,7 mil milhões gastos pela Casa Branca entre 2014 e 2021.

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