Como se protege contra armas químicas? NATO vai enviar material para a Ucrânia

24 mar 2022, 22:35
Soldados israelitas em 1998, numa altura de receio de guerra com o Iraque (AP)

As armas químicas são proibidas, e oficialmente a Rússia não tem este armamento ao seu dispor desde 2017. Mas há indícios de que o regime de Vladimir Putin utilizou armas químicas pelo menos duas vezes desde essa altura. E Portugal? Está preparado para este tipo de ataques?

A possibilidade de a Rússia vir a utilizar armas químicas na Ucrânia colocou a NATO em sobressalto. Esse foi o tema central da reunião da Aliança Atlântica esta quinta-feira em Bruxelas, onde o secretário-geral, Jens Stoltenberg, deixou uma promessa de ajuda à Ucrânia. O presidente norte-americano viajou até Bruxelas para o encontro extraordinário. À entrada para o avião, ainda nos Estados Unidos, Biden afirmou que o uso de armas químicas por parte da Rússia contra a Ucrânia "é uma ameaça real".

As armas químicas são proibidas, e oficialmente a Rússia não tem este armamento ao seu dispor desde 2017, até porque é um dos países signatários da Convenção de Armas Químicas. "A Rússia é um Estado-membro da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) e, como tal, fez a declaração acerca das armas que tinha, e que foram verificadas. As declaradas estão destruídas", explica Cristina Rodrigues, antiga chefe do Departamento de Assistência e Proteção da OPAQ, em declarações à CNN Portugal.

Mas há indícios de que o regime de Vladimir Putin utilizou armas químicas pelo menos duas vezes desde essa altura: no envenenamento de Sergei Skripal, em 2018, e no envenenamento de Alexei Navalny, em 2020. Ambos foram atacados com o agente nervoso novichok, uma arma da era soviética, e que é das mais potentes do arsenal que a Rússia diz ter destruído.

A NATO não divulgou que tipo de equipamento iria fornecer à Ucrânia, mas os especialistas acreditam que máscaras e fatos protetores estarão entre os materiais a enviar, não apenas para o exército ucraniano, mas também para civis.

Outras armas químicas conhecidas são o sarin, gás-mostarda ou VX. Todos proibidos atualmente. 

Apresentação de armas químicas por oficial soviético, em 1987 (John Thor Dahlburg/AP)

Máscaras, o equipamento mais simples, mas também o mais eficaz

As formas mais eficazes de combater armas químicas são as máscaras de gás e roupa protetora, de acordo com a enciclopédia Britannica. Tal como a proteção de veículos ou de eventuais abrigos onde a população possa estar. No final do século XX houve uma crescente tensão entre Israel e Iraque e temia-se um confronto que escalasse para a utilização de armas químicas. Isso mesmo levou a imagens de exércitos a treinarem movimentações enquanto utilizavam máscaras de gás.

Aquele será, provavelmente, o equipamento mais importante. As máscaras de gás, tal como os abrigos, têm carvão ativado, uma substância que ajuda a filtrar e a remover vapores eventualmente nocivos. Podem ainda ser utilizadas membranas de papel ou outros materiais para remover as partículas que ficam no ar. Esses filtros ajudam a reduzir a concentração de agentes químicos, às vezes até 100 mil vezes.

Soldados israelitas em 1998, numa altura de receio de guerra com o Iraque (AP)

A máscara de gás é de utilização fácil: demora pouco tempo a colocar e é eficaz durante longos períodos, incluindo durante o sono. “Remover esse equipamento num ambiente contaminado aumentará o risco de sofrer danos ou de morrer”, refere a Britannica. Os fatos recomendados são semelhantes aos utilizados durante a pandemia em ambientes mais sensíveis para evitar o contágio com o vírus SARS-CoV-2.

A utilização da máscara será sempre uma salvaguarda, mas para se saber o perigo exato com que se está a lidar podem ser utilizados detetores químicos. É o caso do azul tornesol, que identifica a presença de agentes químicos. É ainda possível colocar alarmes automáticos em certos locais, que podem depois alertar as forças militares para a presença de agentes químicos.

Antídotos injetáveis

A Britannica refere que as tropas mais bem equipadas utilizam seringas hipodérmicas com antídotos que podem ser administrados em contexto de ataque químico. É o caso da injeção de atropina, administrada após uma exposição a um gás nervoso. Esse foi um dos medicamentos aplicados em Alexei Navalny, que chegou a estar em coma depois de ter sido envenenado por agentes russos e acabou por sobreviver.

Cristina Rodrigues não tem dúvidas de que também estas seringas serão enviadas, sobretudo para proteger os civis.

Com a área já contaminada, há uma série de ações que podem ser tomadas para fazer face ao problema. Hipoclorito de cálcio pode ser utilizado para descontaminar zonas ou pessoas, sendo necessário encontrar uma solução química forte o suficiente mas que não seja prejudicial para a pele.

O melhor é mesmo abandonar a zona em questão, mas se tal não for possível, as pessoas afetadas devem pelo menos "despir-se e lavar a roupa contaminada", acrescenta Cristina Rodrigues.

Zona de descontaminação na Turquia durante a guerra na Síria, 2018 (Gregorio Borgia/AP)

E se fosse em Portugal?

Portugal tem os vários equipamentos de defesa contra armas químicas, desde as máscaras de gás às injeções. Existe mesmo um ramo nas Forças Armadas que garante a "Defesa Biológica, e da Segurança e Defesa Química", que é a Unidade Militar Laboratorial de Defesa Biológica e Química".

Compete àquele organismo monitorizar "agentes químicos passíveis de serem utilizados como arma química". Nesse contexto realizam-se ensaios laboratoriais para fazer uma avaliação do risco.

Esta força colabora ainda com laboratórios internacionais nas área da defesa química.

Um combate entre o tigre e o urso

Os Estados Unidos levam tão a sério a possibilidade de os russos virem a utilizar armas químicas que criaram um grupo de trabalho que deverá responder em caso de ataque. O grupo, conhecido como “A Equipa Tigre”, também foi constituído para responder a ameaças como armas biológicas ou nucleares.

De acordo com o The New York Times, esta equipa foi construída pela Casa Branca com o objetivo de prever diferentes cenários a que os Estados Unidos e os seus aliados possam ter de responder no caso de um ataque daquele género vindo da Rússia (país conhecido como “O Urso”).

Outra das hipóteses em cima da mesa é o possível ataque russo a caravanas que levem ajuda militar à Ucrânia. Segundo o The New York Times, o grupo encontra-se três vezes por semana, em reuniões classificadas.

Esta equipa foi constituída em fevereiro, quatro dias depois de a invasão iniciar, e tem sido crucial nas intervenções norte-americanas junto da NATO.

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