REPORTAGEM São cinco autocarros, 25 carrinhas, dois carros de apoio e 70 voluntários: uma caravana solidária "organizada por vários empresários e particulares chocados com as notícias que chegam diariamente da Ucrânia" saiu de Lisboa com três toneladas de mantimentos. Chega terça-feira a Cracóvia, na Polónia, e regressa dia 20 a Portugal
Oito homens alinham-se lado a lado, abrem uma bandeira de Portugal e duas da Ucrânia, no meio dos oito há um homem mais alto que aponta para o azul de uma das bandeiras e a seguir faz uma declaração solene, "este é o azul do céu", o céu dele é daquele azul e de mais nenhum, não que ele seja um cientista das cores, não é, trata-se somente de um homem com orgulho nas cores do seu patriotismo, isso é. Por isso ele agarra uma das duas bandeiras do país dele - é preciso aproveitar quando dá para agarrar o céu - e a seguir ele posa para a fotografia, levanta o polegar e cerra o resto da mão, é um gesto fixe que haverá de se tornar uma afirmação sonante: depois de gritarem "Slava Ukraini" ele diz "até vieram as formigas aqui à cara", que maneira diferente e certamente maneira bonita de alguém dizer que se arrepiou, "Glória à Ucrânia".
Ele é um dos 70 voluntários que partiram este domingo de Lisboa para a Polónia porque é para a Polónia que cerca de 1,7 milhões de ucranianos fugiram, há mais 800 mil noutros países, são portanto 2,5 milhões de pessoas a quem lhes invadiram o país e vai ser ainda mais gente a fugir: o céu da Ucrânia já só é mesmo azul na bandeira porque se tornou cinzento-bomba pelas cidades do país, os russos atacam pelo ar e por terra e já matam a 25 quilómetros da fronteira com a Polónia, soube-se este domingo - 25 quilómetros é nada entre um país da NATO e uma bomba a cair junto a Lviv, o mundo está a 25 quilómetros de se tornar definitivamente perigoso.
As notícias deste domingo têm consequências também nesta caravana solidária: o objetivo é chegar à Polónia com três toneladas de roupa, comida e medicamentos mas no briefing de partida ficou logo definido assim - "Se sentirmos que há algum perigo, a missão é abortada. Se em algum momento sentirmos que a segurança está em perigo, voltamos para Lisboa", explicou um dos dinamizadores da caravana, Hugo Antão, da CRC Rental. Mas o plano é mesmo cumprir a missão e inspirar quem fez parte dela: "Que esta caravana solidária sirva de inspiração para que alguns de vocês possam fazer outras missões depois desta".
Médicos, enfermeiros, tradutores, motoristas e outros elementos de apoio compõe a equipa de voluntários: a chegada a Cracóvia está prevista para terça-feira, o regresso prevê-se que seja no dia 20 mas já com os autocarros cheios - saíram de Lisboa carregados de mantimentos mas com as cadeiras quase todas vazias (a maioria dos voluntários deslocou-se nas 25 carrinhas), hão de regressar com 350 ucranianos que se vão refugiar em Portugal. "Ninguém fica para trás. É o lema desta missão", frisou Hugo Antão.
A DouroAzul apoia a missão com cinco autocarros e 10 motoristas, os dinamizadores da ação são Miguel Costa, da C Santos vp, e Hugo Antão, da CRC Rental, e as empresas e entidades que apoiam são as seguintes (a lista é longa mas quem quiser contribuir para esta ou próximas missões passa a dispor de bases de contacto): Cisco, CRC Car Rental Company, Banco Primus, C Santos vp, Socicorreia, Hamburgueria do Bairro, dplace, Hotelar, Soc. Comercial C. Santos, Santogal, Omatapalo, Europcar, Mercedes Benz Retail, Sadorent, Internacional Car, Easy Earking, CAEL, Lage, Lactogal, Fonte Viva, Vodafone, Sporting Clube de Portugal, DouroAzul, Madeira Rent, Orasroc, Alaire, The Edge Group, Bridgelk, J.H.F. Lopes, Optocentro, Adega Mãe, Enerre, Novimed, Afia, GD Auto, Verling, ACP, Cruz Vermelha Portuguesa, Associação Coração com Coroa, União das Misericordias, Câmara Municipal de Lisboa e Embaixada da Ucrânia.
