"As balas caíram em cascata em cima do carro". Equipa da Sky News atacada e baleada na Ucrânia conta como tudo aconteceu

5 mar 2022, 15:55
Imagens do ataque sobre a equipa da Sky News (Sky News)

O repórter Stuart Ramsay, o operador de câmara Richie Mockle e os produtores Martin Vowles, Andrii Lytvynenko e Dominique Van Heerden foram atacados durante um caminho para uma reportagem a 30 quilómetros de Kiev. Ramsay e Mockle acabaram mesmo por ser alvejados

Uma equipa da Sky News que está a acompanhar o conflito na Ucrânia foi alvo de um ataque, na segunda-feira, quando se dirigia para um local para fazer uma reportagem. O repórter Stuart Ramsay e o operador de câmara Richie Mockler foram alvejados e ficaram feridos. Apesar da violência e dos ferimentos, a equipa está em segurança e contou à Sky News tudo o que viveu a poucos quilómetros da capital ucraniana, Kiev.

Ramsay e Mockler, juntamente com três produtores, Martin Vowles, Andrii Lytvynenko e Dominique Van Heerden, partiram do centro de Kiev em direção à cidade de Bucha, onde um comboio russo tinha sido destruído pelo exército ucraniano no dia anterior. O repórter conta que algumas pessoas da sua confiança garantiram-lhes que a cidade estava tranquila e prometeram mostrar o comboio para uma reportagem.

Apesar de ficar a apenas 30 quilómetros de Kiev, a viagem até Bucha durou várias horas. "As estradas estavam fechadas e fomos redirecionados para caminhos alternativos inúmeras vezes", recorda Ramsay.

Ao longo do caminho, a equipa viu, à distância, helicópteros russos a sobrevoar o céu. Chegados a um posto de controlo de forças ucranianas, que logo apontaram as armas em direção ao carro onde seguiam, os cinco jornalistas foram aconselhados a não ir mais longe. "Decidimos, por isso, regressar ao centro da cidade", explica.

No regresso, Ramsay conta que o caminho que estavam agora a percorrer parecia mais inseguro, pelo que decidiram cortar caminho para a parte oeste da cidade. Depois, pararam num novo posto de controlo e perguntaram aos militares se a estrada para Kiev era transitável.

"Um polícia veio de encontro ao carro e entregou-nos gelados pelas janelas, garantindo-nos que podíamos virar à esquerda e seguir a estrada até Kiev. Disse que a estrada estava aberta", conta.

"Seguimos caminho, mas estava tudo tão silencioso, estávamos claramente preocupados. Mas avançámos em direção a um cruzamento. Só se viam escombros na estrada, mas isso agora é normal. Não víamos soldados, parecia um deserto", acrescenta o repórter.

Foi então que a equipa foi surpreendida por uma "pequena explosão". Ramsay conta que os primeiros tiros atingiram o vidro do carro, e a equipa rapidamente se abrigou na parte inferior do carro, de cócoras.

"As balas caíram em cascata em cima do carro, e o pára-brisas, a janela de vidro, os bancos, o volante e o painel desintegraram-se", conta. 

Na altura, a equipa pensava que estava a ser atacada por militares ucranianos de um posto de controlo, pelo que começaram a gritar e a dizer que eram jornalistas. "Mas os tiros não pararam", lembra.

"Ficámos a saber, depois, por ucranianos, que fomos alvo de emboscada por um grupo de sabotadores russos", conta.

Ramsay foi alvejado nas costas, e dois tiros atingiram o operador de câmara Richie Mockler, que foram amortecidos pelo colete de proteção. "Lembro-me de pensar se a minha morte seria muito dolorosa", recorda o repórter.

Ramsay e os colegas da equipa acabaram por conseguir abrir as portas do carro e rastejar até uma barreira na estrada, durante o que pareceu "uma eternidade", conta. "No fundo da barreira, reagrupámo-nos. Não conseguimos acreditar, estávamos em choque."

O grupo deparou-se então com uma fábrica que tinha o portão aberto, pelo que rapidamente correu para o seu interior. "Estávamos convencidos de que os atiradores viriam para acabar connosco".

Mas, entretanto, abriu-se uma porta, da qual apareceram três funcionários pacificadores que acenaram para que entrássemos na oficina. Uma vez lá dentro, Dominique e Martin ligaram para os seus colegas na Sky News para darem início a uma operação de resgate.

"Sabíamos que tal levaria horas e já estávamos a contar passar a noite na oficina. Retirar pessoas de locais remotos no meio de uma guerra é terrivelmente difícil", diz Ramsay.

A equipa da Sky News acabou por dizer que teriam de esperar até de manhã pela operação de resgate. "Já estava escuro como breu lá fora", recorda o repórter.

Pouco depois, os cinco repórteres e produtores foram surpreendidos por uma luz intermitente, botas pisadas a bater no chão e gritos a ecoar pelas escadas. "Lembro-me que o Richie disse que era o fim, antes de ouvir estas belas palavras: 'Polícia ucraniana, venha rápido!'", conta.

"Saímos em fila e fomos enfiados dentro de um veículo da polícia. O motorista ligou o motor e derrapámos pelos portões da unidade fabril. Havia um longo caminho a percorrer, mas´fomos resgatados. Um dia depois, voltamos ao centro de Kiev", disse Ramsay.

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados