Nem o nome "muro de drones" é consensual entre os 27, que têm de atravessar várias burocracias, incluindo quem vai mandar nesta iniciativa. Para já a resistência está sobretudo do lado dos países do lado de cá da Europa
Primeiro foi a Polónia, depois a Roménia, a Dinamarca e até já a Alemanha. Países da União Europeia estão a ser invadidos por drones que se aproximam de infraestruturas críticas e já causaram disrupções de horas em locais como aeroportos.
Perante a ameaça, a União Europeia, sempre em coordenação com a NATO, concorda que é preciso um “muro de drones” para responder às ameaças que podem vir de Leste, ou seja, da Rússia.
Mas a urgência ainda não trouxe mais do que essa concordância, o que deixou estagnado um projeto que era para ontem, e sem o qual os países europeus ficam muito mais vulneráveis.
“As nossas capacidades são, atualmente, muito limitadas”, admitiu o comissário europeu da Defesa, Andrius Kubilius, que se tem desdobrado em esforços para perceber e fazer perceber as necessidades da Europa.
O problema é, segundo a agência Reuters, que cita várias fontes relacionadas com o assunto, que o projeto ainda é apenas isso mesmo, um projeto.
Para o deixar de ser, a União Europeia terá de receber ajuda de quem tem tentado ajudar. Da Ucrânia, sim, onde os quase quatro anos de guerra ajudaram para construir uma experiência na matéria que a Europa não tem, até porque nunca teve um cenário de guerra no seu território com novidades como os drones.
O próprio Kubilius admitiu à Reuters que a União Europeia quer beber da experiência ucraniana para tentar construir o seu “muro de drones”.
O maior ceticismo, de acordo com a mesma agência, vem de países que do Sul ou do Ocidente da Europa, que levantam algumas dúvidas sobre a possibilidade de o investimento no flanco oriental poder deixar o lado de cá mais “descalço”.
Além disso, existe ainda uma luta de poder. França e Alemanha estão a disputar a liderança militar de tal projeto, que inevitavelmente teria de incluir países como Reino Unido ou Noruega, que não fazem parte da União Europeia, mas representam um papel crucial na NATO e fazem parte do continente europeu.
O problema chega até mesmo ao nome. Para alguns responsáveis europeus o termo “muro de drones” soa a uma promessa falsa, já que entendem que nenhum sistema será capaz de impedir a entrada de todos os drones.
Na tentativa de ganhar mais apoio, a Comissão Europeia atualizou o seu conceito original. Já não são apenas sensores, sistemas de interferência eletrónica ou armas, mas sim uma complexa cadeia de sistemas antidrones que se vão espalhar por toda a fronteira a Leste.
Um projeto que deve conhecer novidades esta quinta-feira, esperando-se que Bruxelas desvende mais sobre o que deverá ser chamado de “Iniciativa Europeia de Defesa de Drones”.
A Bloomberg dá esta quarta-feira uma ideia do que poderá estar em causa, falando numa proposta da União Europeia que inclui o lançamento de projetos sobre defesa aérea e drones.
Trata-se de um ambicioso plano de cinco anos para rearmar o continente e garantir que existe uma dissuasão forte à Rússia, segundo o documento consultado pela Bloomberg.
O objetivo passa por ter 40% da defesa europeia a cargo da União Europeia no fim de 2027, no que seria o duplicar do que acontece atualmente. “Os Estados autoritários estão a interferir crescentemente nas nossas sociedades e economias”, pode ler-se no documento, que também faz uma menção clara à possibilidade de os Estados Unidos poderem não ajudar a Europa: “Os aliados tradicionais e parceiros estão a mudar o seu foco para outras regiões do mundo”.
“Uma Rússia militarizada coloca uma ameaça persistente à segurança europeia num futuro próximo”, acrescenta ainda o documento.
Caso vá em frente, esta iniciativa poderá ser decisiva para várias empresas na área da Defesa que procuram beneficiar do momento. É o caso de algumas start-ups nos países do Báltico, mas também de gigantes como a alemã Rheinmetall.
Para já não se sabe quanto poderá custar uma propota deste género, mas a consultora RANE garantiu à Reuters que será sempre algo na ordem de vários milhares de milhões de euros em encomendas.
Para lá chegar será preciso, portanto, passar o ceticismo dos governos europeus que ainda duvidam do plano, já que a unanimidade abre muito mais portas para que o orçamento comunitário financie este projeto.
Quanto à ideia, não é nova e até chegou a Bruxelas há cerca de um ano. Foram a Polónia e a Finlândia que lideraram a iniciativa, pedindo financiamento para algo semelhante que garantisse a proteção junto às fronteiras com Bielorrússia e Rússia. A ideia evoluiu e agora está neste ponto, em grande parte incentivada pelo vice-primeiro-ministro da Ucrânia, Mykhailo Fedorov, que a apresentou a Ursula von der Leyen em abril deste ano como uma das formas mais eficazes de a Europa se proteger da Rússia.
Na gaveta de Bruxelas desde então, a incursão de drones russos em espaço aéreo da Polónia a 9 de setembro mostrou quão necessária é esta ferramenta de defesa, o que acabou por acelerar tudo.
Nessa altura foram destacados caças F-35 e F-16, o que Kubilius admitiu que não era comportável. “Um drone de 10 mil euros abatido com um míssil de um milhão - não é sustentável”, afirmou ainda esta semana.