Vídeos nas redes sociais, fotos e imagens de satélite analisadas e geolocalizadas pela CNN confirmam que, por diversas ocasiões, áreas densamente povoadas foram atingidas pelas forças russas
A 25 de fevereiro, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, procurou tranquilizar o mundo quanto às baixas civis no segundo dia da invasão da Ucrânia por parte da Rússia.
"Ninguém vai atacar o povo ucraniano", disse ele durante uma inflamada conferência de imprensa, afirmando à CNN que não tinha havido "ataques a infraestruturas civis".
No entanto, desde o início da ofensiva, têm surgido relatos de bombardeamentos a apartamentos e jardins de infância, de civis mortos e rockets encontrados em zonas residenciais.
Vídeos nas redes sociais, fotos e imagens de satélite analisadas e geolocalizadas pela CNN confirmam que, por diversas ocasiões, áreas densamente povoadas foram atingidas pelas forças russas. A CNN pediu ao Governo russo para comentar esta situação.
Num comunicado de imprensa de 25 de fevereiro, a Amnistia Internacional acusou as forças russas de levarem a cabo "ataques indiscriminados em zonas civis e ataques a edifícios protegidos, como hospitais", citando três exemplos, entre os quais um ataque na quinta-feira, perto de um edifício hospitalar em Vuhledar, no leste da região de Donetsk. Nesse ataque, morreram quatro civis e ficaram feridos mais dez, de acordo com a Aministria Internacional.
Eis alguns exemplos encontrados pela CNN.
Jardim de infância em Okhtyrka, orfanato em Vorzel
Um jardim de infância em Okhtyrka, na região nordeste de Sumy, foi atingido por um bombardeamento no dia 25 de fevereiro, de acordo com vários representantes oficiais. O presidente da Câmara, Pavel Kuzmenko, disse que o bombardeamento foi efetuado pelo lançador múltiplo de rockets russo Uragan, ferindo várias crianças.
A notícia do alegado ataque ao jardim infantil de Sonechko foi confirmada pelo Chefe da Administração Militar Regional de Sumy, Dmytro Zhivitsky, que disse que este foi o terceiro bombardeamento em Okhtyrka, na sexta-feira.
Um vídeo que circula nas redes sociais e que a CNN geolocalizou no jardim de infância de shows, mostra pessoas feridas cobertas de sangue, no chão, perto da entrada.
No rescaldo do alegado ataque, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba acusou a Federação Russa de "crimes de guerra".
"Os ataques de hoje da Rússia a um jardim de infância e a um orfanato são crimes de guerra e violações do Estatuto de Roma", tweetou Kuleba.
"Juntamente com a Procuradoria-Geral, estamos a recolher estes e outros factos, que enviaremos de imediato para Haia. A responsabilização é inevitável", acrescentou ele.
O orfanato também foi mencionado por Lyudmila Denisova, provedora de direitos humanos do Parlamento ucraniano.
"Como resultado do intenso bombardeamento de um orfanato na cidade de Vorzel, na região de Kiev, há neste momento 51 crianças em risco de vida, três das quais têm problemas graves de saúde e 15 delas são bebés. Dois edifícios da instituição ficaram danificados”, disse Lyudmila.
Rockets em Bucha e Kharkiv
Na sexta-feira, surgiu um vídeo no Facebook que mostrava um projétil a cair no asfalto, numa zona residencial. A pessoa que publicou o vídeo, adicionou depois uma foto do fragmento de projétil com a legenda "o fragmento está à nossa porta".
A CNN geolocalizou o vídeo numa zona residencial de Bucha, um subúrbio de Kiev.
Especialistas e analistas de código aberto estão a debater se o rocket continha munições de dispersão, com base nas imagens.
Fotografia publicada no Facebook, que mostra o fragmento daquela que se suspeita ser uma munição de dispersão.
Mark Hiznay, diretor adjunto da divisão de armas da Human Rights Watch disse à CNN que o projétil é uma munição de dispersão. Ao cair, a munição "terá impacto sobre uma vasta área", explicou Hiznay e "espalha balas de 9mm por todo o lado. É horrível."
Outro explosivo caiu numa zona residencial em Kharkiv, uma cidade no nordeste da Ucrânia.
Uma imagem que circula nas redes sociais mostra um grande projétil que arrasou uma passagem pedonal. A CNN geolocalizou a imagem em Kharkiv.
Hiznay identificou a arma como um motor de um rocket Smerch e disse que provavelmente agora já não seria perigoso.
Edifício de apartamentos de Chuhuiv
Um prédio na cidade de Chuhuiv, nos arredores de Kharkiv, ficou danificado num ataque que ocorreu na passada quinta-feira e que os representantes ucranianos atribuíram às forças russas.
O Ministério da Defesa ucraniano referiu Chuhuiv como um dos alvos do bombardeamento intenso e ataques do primeiro dia da ofensiva russa.
Homem sentado à porta do seu edifício destruído, depois dos bombardeamentos na cidade de Chuguiv, a 24 de fevereiro de 2022.
A Maxar divulgou novas imagens de um aeroporto próximo que seria o alvo provável do ataque. Nas imagens, é possível ver os danos nas área de armazenamento de combustível e outras infraestruturas do aeroporto.
Agências de notícias como a Agence France-Presse e a Anadolu divulgaram imagens que mostravam um residente do prédio de Chuhuiv a chorar entre os destroços do ataque, uma senhora idosa embrulhada numa manta e sentada à porta, e os bombeiros a apagar um fogo dentro do edifício.
Via-se pelo menos uma vítima estendida no chão. As fotografias também mostravam uma grande cratera no chão, o que sugere que tenha sido lançado um único míssil ou rocket para o ataque, segundo a Amnistia Internacional.
A CNN geolocalizou o local do ataque.
