Deputado do PAN denuncia tráfico de seres humanos com crianças ucranianas na fronteira da Polónia

15 mar 2022, 21:46

Nelson Silva, que foi como voluntário numa caravana humanitária para trazer mais de 100 refugiados identificados, revela à CNN Portugal o que viu na fronteira da Ucrânia com a Polónia garantindo que há redes de tráfico de seres humanos a operar às claras. Ele mesmo salvou menores ucranianos com família em Portugal de serem levados por desconhecidos. E viu mais crianças em risco na fronteira: "Estavam no carro de uns polacos que diziam ser família. Os miúdos insistiam que não os conheciam"

Os voluntários de uma caravana humanitária que saiu de Portugal para ir buscar à fronteira da Ucrânia 110 refugiados identificados, entre eles crianças, viveram momentos dramáticos para conseguir trazer os menores para junto da família em Lisboa. “Quando os íamos buscar à fronteira estavam já dentro do carro de uns polacos que diziam ser família. Mas os miúdos insistiam que não os conheciam. Chegaram a pedir dinheiro para os libertar e deixar vir connosco”, conta à CNN Portugal Nelson Silva, deputado do PAN, que integrou aquela caravana, recordando que levava os documentos dos refugiados, que estavam desacompanhados dos pais que tiveram ficar na Ucrânia, e que eram esperados pelos familiares em Portugal. “Foi complicado, mas conseguimos resolver”, adianta.

“O que se está a passar com os menores nas várias fronteiras é gravíssimo e envolve mesmo tráfico de crianças”, garante Nelson Silva, que esteve em três zonas fronteiriças da Polónia: Berdyszcze, Przemysl e Medyka.

A Amnistia Internacional alertou, entretanto, esta terça-feira, 15 de março, para o fenómeno do tráfico de seres humanos entre os refugiados, garantindo que está a investigar vários relatos. Também a Europol avisou que as redes de tráfico estarão a operar em força nas fronteiras onde chegam por dia milhares de os ucranianos que fogem da guerra, em especial crianças e mulheres”.

“É tudo feito praticamente às claras”, descreve Nelson Silva, explicando que depois de ter vivido aquele episódio com os menores que a sua caravana ia trazer para Portugal decidiu deslocar-se a várias zonas fronteiriças com a Ucrânia para perceber o que se passa e tentar ajudar a denunciar a situação. “Cheguei a Portugal dia 7 e dia 8 voltei para tentar perceber e tentar ajudar em algo”, conta, adiantando que denunciou a situação à embaixada da Ucrânia em Portugal. Além disso, com um grupo de voluntários de outros países, fez o mesmo junto da Frontex, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira. “Responderam que já reforçaram o contingente junto das fronteiras, mas admitem que não são suficientes perante a quantidade de refugiados”.

Neste momento, segundo dados da ONU, mais de 3 milhões de ucranianos saíram do país. E a cada segundo, avança a Unicef, uma criança consegue fugir à guerra e torna-se refugiada: todos os dias há mais 73 mil crianças com este estatuto.

O deputado Nelson Dias garante que viu todos os dias “dezenas de crianças sozinhas”.

“O que se passa é mesmo preocupante. Eu vi. Os refugiados são abordados, em especial por senhoras, que depois os levam para os carros”, diz o político do PAN, que no terreno contactou as autoridades. Mas, segundo conta, ninguém parece capaz de parar a situação. “Não se veem no terreno as organizações destinadas a proteger estas crianças e estas mulheres de serem alvo de tráfico”, avisa, explicando que há muitos voluntários a tentar fazer esse papel. “Segundo percebi, associações como a ACNUR ou a Cruz Vermelha estão focadas na Ucrânia e nas zonas do conflito e não nas fronteiras propriamente ditas.”

Enquanto esteve nas fronteiras, Nelson Dias garante que viu todos os dias “dezenas de crianças sozinhas”. “Há crianças que passam a fronteira com adultos que não conhecem e depois se separam. Há pais que não podem sair da Ucrânia e que subornam os guardas. Há de tudo e depois ficam ali sozinhas como alvos fáceis para as redes.” Além disso, acrescenta, há “casos em que alguns estrangeiros vão com cartazes apelar a que os refugiados os acompanhem e só querem crianças e mulheres novas, o que desde logo é suspeito".

O caso que viveu com estes menores ocorreu no início de março, altura em que vários voluntários e 24 autocarros foram à fronteira da Ucrânia. Os menores em causa estavam sozinhos a aguardar pelos voluntários portugueses em Mydica, cidade da Polónia que faz fronteira com a Ucrânia, quando foram alvo das investidas de desconhecidos. “Foi essa situação me chamou a atenção para este problema. É preciso que as pessoas percebam o que se está ali a passar”.  

Relacionados

Europa

Mais Europa

Patrocinados