Sobreviveu a um ano de bombardeamentos em Gaza. E por estar em Gaza não pôde ir buscar o prémio. Foi alvo de uma tentativa de boicote da parte de um movimento pró-Israel. A jornalista e ativista de 25 anos tornou-se um dos rostos da resistência palestiniana
"Sou Bisan, de Gaza, e ainda estou viva" - era assim que, logo após o início dos ataques israelitas à Faixa de Gaza, em outubro passado, Bisan Owda começava os vídeos que publicava nas redes sociais. A jornalista e ativista de 25 anos não deixou de relatar o que se passa no território ocupado e, ao longo do último ano, tornou-se um dos rostos da resistência palestiniana. Tem atualmente 4,7 milhões de seguidores no Instagram. Agora, o seu documentário "It’s Bisan from Gaza, and I’m still alive", filmado apenas com o telemóvel, ganhou um Emmy na categoria Outstanding Hard News Feature Story (que premeia notícias de impacto internacional em formato curto).
O produtor executivo John Lawrence subiu ao palco do Palladium Times Square, em Nova Iorque, nos EUA, em representação de Bisan, para receber o prémio: "Este prémio é o testemunho de uma mulher que, apenas com um iPhone, sobreviveu a quase um ano de bombardeamentos".
“Este prémio é uma prova do profissionalismo dos jovens jornalistas palestinianos. As reportagens de Bisan humanizaram a história da Palestina após décadas de desumanização sistemática dos palestinianos pelos grandes órgãos de informação. Ganhar este Emmy é uma vitória para a humanidade. Estamos extremamente orgulhosos deste momento brilhante no momento em que decorre um genocídio - que Bisan continuará a relatar”, disse Dima Khatib, diretor administrativo da AJ+ Channels, na quinta-feira à noite.
A nomeação do documentário para os prémios de televisão internacionais enfrentou várias críticas. Há cerca de um mês, a Creative Community for Peace, uma organização sem fins lucrativos pró-Israel, publicou uma carta criticando a nomeação da curta-metragem da jovem documentando os primeiros dias do bombardeamento israelita e o seu impacto devastador sobre as pessoas comuns na Faixa de Gaza. A carta alegava que Owda era filiada na Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), o que ela negou. A FPLP é um movimento político palestiniano de esquerda e é designada como uma “organização terrorista” por vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos.
Adam Sharp, presidente da Academia Nacional de Televisão e Artes e Ciências (NATAS), defendeu a nomeação, dizendo que dois painéis, incluindo jornalistas experientes, tomaram a decisão e que a academia não encontrou nenhuma evidência de que Owda fosse filiada na FPLP.
Na altura, a Al Jazeera, que produziu o documentário, emitiu uma declaração, dizendo que apoiava Owda "contra os esforços para silenciar as suas reportagens de Gaza". A Al Jazeera descreveu Owda como uma "jornalista e influenciadora" que "contribuiu significativamente para trazer notícias de Gaza para o mundo com o seu estilo único". E garantiu que as alegações eram "infundadas" e "uma tentativa de silenciar Bisan e apresentar uma ameaça real à sua segurança no local". "O pedido para que a nomeação ao Emmy seja retirado nada mais é do que uma tentativa de negar uma perspetiva importante ao público global sobre a guerra e o seu impacto devastador sobre civis inocentes", dizia a declaração.
Em maio, Owda e AJ+ já tinham recebido um Prémio Peabody pela cobertura do impacto que a guerra de Israel em Gaza teve sobre os palestinianos no enclave.
Nos últimos 11 meses, mais de 130 jornalistas, incluindo três da Al Jazeera, foram mortos pelas forças israelitas, de acordo com a Repórteres Sem Fronteiras (RSF). Segundo a contagem do Gabinete de Comunicação do Governo de Gaza, o número de jornalistas e profissionais da comunicação mortos é de 173.
"Pedimos à comunidade jornalística internacional que apoie Bisan e outros profissionais de comunicação, garantindo que eles possam realizar o seu trabalho essencial sem medo de serem alvos, intimidados ou mortos", lê-se na declaração da Al Jazeera.