Mariupol não se rende. Ucrânia recusa ceder ao ultimato da Rússia

21 mar 2022, 09:50

Vice-primeira-ministra da Ucrânia recusou a rendição das tropas ucranianas e exigiu que seja aberto o corredor na cidade onde há quase duas semanas não há água, energia, comunicações ou comida

A Ucrânia recusou-se a depor as armas na cidade Mariupol, contrariando a exigência feita pela Rússia, que em troca se comprometia com a abertura de corredores humanitários para retirar civis da cidade portuária.

A Rússia ordenou, no domingo, às forças ucranianas que abandonassem Mariupol, cercada há semanas, até à madrugada de segunda-feira, e só depois das armas depostas as forças russas autorizariam os corredores humanitários para saída da cidade.

No entanto, a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Irina Vereshuchuk, recusou a rendição e exigiu que sejam abertos os corredores. 

“Não se pode falar em rendição, deposição de armas. Já informámos o lado russo sobre isto. Escrevi-lhes: em vez de perderem tempo em oito páginas de cartas, abram o corredor”, afirmou, em declarações ao canal ucraniano Pravda, citadas pela agência Associated Press.

No vídeo desta manhã, Vereshuchuk anunciou que nos corredores desta segunda-feira há três rotas planeadas para tentar resgatar os moradores de Mariupol: Berdyansk - Zaporozhye; Comunidade de Mangus - Zaporizhia e Nikolske - Zaporizhia.

Crise de fome

Também esta segunda-feira, Dmytro Gurin, membro do parlamento ucraniano natural de Mariupol, afirmou à BBC que a Rússia "está a forçar a rendição de Mariupol" ao fazer os seus habitantes passar fome.

"Os russos não abrem corredores humanitários, não deixam que as colunas com ajuda humanitária entrem na cidade. É evidente que o objetivo deles é gerar uma crise de fome na cidade para reforçar a sua posição diplomática. Se a cidade não se render, e não se irá render, não vão deixar as pessoas sair", disse Gurin.

O deputado afirma que continua a ser impossível verificar as condições em que se encontram os sobreviventes do ataque ao teatro da cidade dado os "constantes bombardeamentos russos". "É muito perigoso", considera.

No momento do ataque estavam mais de mil pessoas abrigadas no teatro da cidade, tendo sido resgatadas mais de 100 pessoas com vida. 

"Espero que mais ninguém veja o que eu vi"

Manolis Androulakis, cônsul-geral da Grécia em Mariupol, foi o último diplomata da União Europeia a abandonar a cidade, tendo conseguido fugir com mais dez cidadãos gregos através da Roménia depois de quatro dias de viagem.

Em declarações à Reuters, já na Grécia, descreveu a situação que se vive na cidade cercada pelos russos, onde há quase duas semanas não há água, energia, comunicações ou comida.

"Espero que mais ninguém veja o que eu vi. Mariupol entrou na lista das cidades que foram completamente destruídas numa guerra. E eu não preciso de as nomear: são Guernica, Coventry, Aleppo, Grozny, Leningrado".

A cidade sitiada de Mariupol, que tem sofrido episódios de bombardeamento pesado das forças russas, está sem alimentos, água e energia. Os relatos que saem da localidade são de uma extrema violência e destruição, com cadáveres espalhados pelas ruas.

Num comunicado divulgado esta segunda-feira, a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) lembrou que as autoridades locais estimam em 3.000 o número de mortos na cidade, que terá 80% dos edifícios destruídos. Estes números não foram verificados de forma independente.

“Residentes que escaparam [de Mariupol] disseram que hospitais, escolas, lojas e inúmeras casas foram danificadas ou destruídas por bombardeamentos. Muitos disseram que os seus familiares ou vizinhos sofreram ferimentos sérios ou, nalguns casos, fatais, de fragmentos de explosivos”, pode ler-se no texto da HRW, que recorda os ataques russos a hospitais e a um teatro que albergaria centenas de pessoas.

A organização realçou que as populações civis devem poder aceder a assistência humanitária e ser retiradas de forma segura. “A Rússia está proibida de obrigar civis, de forma individual ou em massa, a viajar para cidades russas ou para países como a Bielorrússia”.

A HRW sublinhou que o Tribunal Penal Internacional, a comissão de inquérito do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas e outras jurisdições relevantes “devem investigar potenciais crimes de guerra em Mariupol, com vista a processar os mais responsáveis”.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 902 mortos e 1.459 feridos entre a população civil, incluindo mais de 170 crianças, e provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, entre as quais mais de 3,3 milhões para os países vizinhos, indicam os mais recentes dados da ONU.

Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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