O primeiro-ministro israelita disseram que as forças israelitas cercaram a casa de Yahya Sinwar, potencialmente aproximando-se do principal responsável do Hamas em Gaza - e o homem mais procurado pelas autoridades israelitas.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que Sinwar não estava na casa e que se acreditava estar escondido no subsolo em Gaza, mas um conselheiro sénior do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu garantiu que era "apenas uma questão de tempo até o apanharmos".
Tudo isto aconteceu no início de dezembro, mas Sinwar não só não foi apanhado, como agora lidera o Hamas, depois da morte de Ismail Haniyeh.
Israel acusou publicamente Sinwar de ser o "cérebro" por detrás do ataque terrorista do Hamas contra Israel a 7 de outubro - embora os especialistas digam que é provavelmente um entre vários - o que faz dele um dos principais alvos da guerra em Gaza.
Figura de longa data do grupo islamista palestiniano, Sinwar foi responsável pela construção da ala militar do Hamas antes de estabelecer novos laços importantes com as potências árabes regionais como líder civil e político do grupo.
Foi eleito para o principal órgão de decisão do Hamas, o Politburo, em 2017, como líder político da secção do Hamas em Gaza. No entanto, desde então, tornou-se o líder de facto do Politburo, de acordo com uma investigação do Conselho Europeu de Relações Externas (ECFR).
Foi designado terrorista global pelo Departamento de Estado dos EUA em 2015 e foi recentemente sancionado pelo Reino Unido e por França.
Harel Chorev, investigador sénior do Centro Moshe Dayan de Estudos do Médio Oriente e África da Universidade de Telavive, afirma que, embora Sinwar seja um elemento-chave do Hamas, não deve ser visto como o seu único líder.
"Ele é visto como o mais graduado porque tem um perfil público muito alto, mas o Hamas não funciona dessa maneira", diz. "O Hamas é uma organização descentralizada com vários centros de poder separados e ele é um deles."
O especialista sublinha que, embora Sinwar seja uma figura proeminente, faz parte de um "triunvirato" de oficiais do Hamas responsáveis pelo ataque de 7 de outubro, juntamente com Mohammed al-Masri, popularmente conhecido como Mohammed Deif, o comandante das Brigadas Al-Qassam, o braço militar do Hamas, e o vice de Deif, Marwan Issa.
Sinwar, com o seu cabelo prateado e olhos escuros sob sobrancelhas proeminentes, é de longe o mais conhecido e o mais reconhecível dos três, mas foi Deif quem anunciou os ataques de 7 de outubro.
Mas enquanto Sinwar tem passado os últimos anos a fazer discursos e a ser fotografado, Deif é uma figura extremamente secreta e sombria que não é vista em público há décadas.
Um homem morto
Sinwar nasceu em 1962 num campo de refugiados em Khan Younis, no sul de Gaza. A sua família foi deslocada de Al-Majdal, uma aldeia palestiniana na atual Askhelon, durante a guerra israelo-árabe.
Juntou-se ao Hamas no final dos anos 80 e tornou-se um dos fundadores do seu temido aparelho de informação interna, conhecido como Majd.
Foi condenado em 1988 por ter participado no assassínio de dois soldados israelitas e de quatro palestinianos suspeitos de colaboração com Israel, tendo passado mais de duas décadas na prisão israelita.
Sinwar disse mais tarde que tinha passado esses anos a estudar o seu inimigo, incluindo a aprender a falar hebraico.
Foi libertado em 2011 como parte do acordo que permitiu a troca de mais de mil prisioneiros palestinianos por Gilad Shalit, um soldado das IDF que tinha sido capturado e levado para Gaza, onde esteve detido durante mais de cinco anos.
Na altura, Sinwar classificou a troca como "um dos grandes monumentos estratégicos da história da nossa causa".
Chorev diz que a sua libertação foi ajudada pelo facto de o seu irmão ter sido um dos raptores de Shalit e ter insistido para que ele fosse incluído no acordo.
De volta a Gaza, Sinwar subiu na hierarquia e rapidamente se tornou um ator-chave dentro do Hamas. Chorev lembra que o homem ficou conhecido pela sua brutalidade e pela violência que inflige a qualquer pessoa suspeita de traição ou colaboração.
"É sabido que, enquanto esteve na prisão, torturou pessoas, na sua maioria membros do Hamas, utilizando uma chapa quente para lhes provocar queimaduras... o seu papel no Majd diz-nos muito sobre o seu caráter, a sua crueldade. Mas, ao mesmo tempo, os israelitas que o conheceram disseram que ele também pode ser muito prático, discutindo abertamente as opções", revela Chorev.
Como líder político do Hamas, Sinwar concentrou-se nas relações externas do grupo. De acordo com o ECFR, foi responsável pelo restabelecimento das relações do Hamas com os líderes egípcios, que desconfiavam do apoio do grupo ao Islão político, e pela obtenção de financiamento militar contínuo do Irão.
Sinwar foi considerado um decisor vital e provavelmente o principal ponto de contacto em Gaza durante as intensas negociações sobre o regresso dos mais de 240 reféns levados para o enclave pelo Hamas nos ataques de 7 de outubro. As conversações envolveram altas individualidades de Israel, do Hamas, dos Estados Unidos, do Catar e do Egipto.
"No final do dia, há duas pessoas" no topo das negociações, diz Gershon Baskin, um conhecido ativista da paz israelita envolvido na libertação do soldado israelita Shalit, em 2011. "Uma é Yahya Sinwar, do lado do Hamas, e a outra é Benjamin Netanyahu, do lado israelita."
Mais de 100 reféns israelitas e estrangeiros foram libertados pelo Hamas e 240 prisioneiros e detidos palestinianos foram libertados por Israel no âmbito de uma trégua obtida nessas conversações, antes de o cessar-fogo temporário ter caído em 1 de dezembro, com Israel e o Hamas a culparem-se mutuamente pelo fracasso.
Sinwar tem sido chamado de muitas coisas nos últimos dois meses: O porta-voz militar israelita, tenente-coronel Richard Hecht, chamou a Sinwar o "rosto do mal" e declarou-o um "homem morto a andar". Os media israelitas compararam-no a Osama bin Laden, enquanto um perfil publicado pelas IDF o apelidou de "o carniceiro de Khan Younis".
Mas Chorev sublinha que, apesar de sua posição no centro das atenções, Sinwar é apenas um dos muitos comandantes que Israel precisa remover antes de poder dizer que "destruiu o Hamas".
"Para simplificar, se Israel matar Sinwar, isso não significa necessariamente que vai derrubar o Hamas. No entanto, o Hamas pode ser derrubado mesmo que Sinwar continue vivo... porque não é [uma organização hierárquica]. Para que Israel destrua o Hamas, precisa destruir uma massa crítica de centros de poder, não apenas ele", termina.