Israel entra no Líbano "em guerra com o Hezbollah" e contra o "plano de Conquistar a Galileia". Isto é o que sabemos

CNN Portugal , MJC
1 out, 11:54

Israel relata "combates intensos no sul do Líbano" mas garante que apenas tem como alvo o Hezbollah. É "uma das fases mais difíceis da história do país", admite primeiro-ministro libanês

Os ataques das tropas israelitas no sul do Líbano que começaram durante a noite foram limitados e ocorreram a curta distância da fronteira, afirmam os militares israelitas, garantindo que uma operação mais ampla em Beirute não está em cima da mesa

Israel lançou durante a noite uma incursão terrestre no Líbano visando o grupo militante Hezbollah e abrindo uma nova fase na guerra na região - quase um ano após os ataques do Hamas em 7 de outubro e o início da investida em Gaza.

Depois dos bombardeamentos e outros ataques realizados ao longo das últimas semanas, a ofensiva terrestre de Israel no sul do Líbano tem como alvo fortalezas do Hezbollah ao longo da fronteira, afirmaram militares israelitas. "A nossa guerra é com o Hezbollah, não com as pessoas do Líbano", disse o porta-voz militar Daniel Hagari, citado pela Reuters. "Esses ataques terrestres localizados terão como alvo fortalezas do Hezbollah que ameaçam cidades, kibutzs e comunidades israelitas ao longo da nossa fronteira", justificou o contra-almirante, sublinhando ainda: "O Hezbollah transformou vilas libanesas próximas das localidades israelitas em bases militares prontas para um ataque a Israel."

Hagari disse que o grupo terrorista tinha planeado “invadir Israel, atacar comunidades israelitas e massacrar homens, mulheres e crianças inocentes". "Chamaram esse plano de ‘Conquistar a Galileia.' Não permitiremos um ataque semelhante ao de 7 de outubro em qualquer uma das fronteiras de Israel", garantiu o porta-voz militar.

Os ataques das tropas israelitas no sul do Líbano que começaram durante a noite foram limitados e ocorreram a curta distância da fronteira, disse um responsável de segurança israelita à Reuters, durante a manhã, acrescentando que nenhum confronto direto com combatentes do Hezbollah foi relatado. A mesma fonte não soube precisar o quão longe chegaram dentro do Líbano os militares das IDF, mas sugeriu que estariam a uma curta distância da linha azul traçada pela ONU que separa os dois países.

Este responsável disse também à agência de notícias que uma operação mais ampla visando a capital libanesa, Beirute, que foi atingida por ataques aéreos repetidos nos últimos dias, "não está em cima da mesa".

A operação tem como objetivo eliminar “infraestruturas da organização terrorista Hezbollah” e envolve forças terrestres apoiadas pela Força Aérea e por regimentos de artilharia. 

A 98.ª Divisão da Forças de Defesa de Israel (IDF), uma formação de elite de unidades de paraquedistas e comandos, liderou a operação terrestre noturna no Líbano, indicam os militares, citados pelo Times of Israel. Antes disto, a 98.ª Divisão operou na Faixa de Gaza. As brigadas de paraquedistas e comandos foram auxiliadas pela 7.ª Brigada Blindada, depois de se terem preparado para a operação nas últimas semanas.

Tropas israelitas no norte de Israel (AP)

“Há combates intensos no sul do Líbano, nos quais agentes do Hezbollah estão a usar o ambiente civil e estão a usar os civis como escudo humano para se organizarem e realizarem ataques”, avisou esta manhã o coronel Avichay Adraee, porta-voz de língua árabe das IDF no X. O exército israelita pede aos civis libaneses no sul do Líbano que, para sua segurança, não conduzam veículos nas regiões ao sul do rio Litani até novo aviso.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben Gvir, elogiou as recentes conquistas militares contra o Hezbollah no Líbano, pedindo operações contínuas para "esmagar a organização terrorista" a fim de permitir que os moradores deslocados do norte regressem a casa em segurança. "As decisões que tomámos nos últimos dias são importantes, corretas e necessárias. Ao mesmo tempo, este é o momento de não parar, [devemos] continuar a fazer tudo, com todas as nossas forças", pediu o ministro ultranacionalista numa declaração citada pelo Times of Israel. "Rezo pelo sucesso dos soldados das IDF que estão atualmente a lutar em condições difíceis no sul do Líbano; têm o apoio do povo de Israel", acrescentou.

Por seu lado, o primeiro-ministro interino Najib Mikati admitiu que o Líbano está a enfrentar uma das fases mais perigosas da sua história. Numa reunião, esta manhã, com organizações da ONU e embaixadores de países doadores, Mikati pediu às Nações Unidas que forneçam ajuda a um milhão de pessoas deslocadas devido aos ataques aéreos israelitas.

"Cerca de um milhão de pessoas foram deslocadas por causa da guerra devastadora que Israel está a travar no Líbano", acusou Najib Mikati. "Pedimos urgentemente mais ajuda para reforçar os nossos esforços contínuos para fornecer suporte básico a civis deslocados."

Ataques em Beirute e noutras localizações, Hezbollah responde

O exército israelita confirmou que durante a noite realizou "ataques precisos" em "vários" locais de fabricação de armas e infraestruturas do Hezbollah em Dahieh, um subúrbio ao sul de Beirute considerado um reduto do Hezbollah.

"Antes do ataque, várias medidas foram tomadas para mitigar o risco de ferir civis, incluindo a emissão de avisos a civis na área, o uso de munições precisas e vigilância aérea", disse, citado pela BBC.

Destruição após bombardeamentos nos subúrbios de Beirute, Líbano (AP)

Durante a noite, surgiram informações de que Israel lançou um ataque contra um edifício no campo de refugiados de Ain al-Hilweh, a sul da cidade libanesa de Sidon. Este é o primeiro ataque a este campo de refugiados, com sobrepopulação, desde que a guerra no Médio Oriente voltou a estalar.

Também populares da cidade libanesa de Aita al-Shaab, perto da fronteira com Israel, assinalaram vários bombardeamentos e o som de helicópteros e drones por cima da localidade.

Por outro lado, já esta manhã, as Forças de Defesa de Israel dizem que vários projeteis foram disparados do Líbano em direção ao centro de Israel, incluindo a área metropolitana de Telavive. Alguns foram intercetados, diz um comunicado.

O serviço de emergência Magen David Adom de Israel diz que um homem foi ferido e que está "consciente, com um ferimento de estilhaço na cabeça, em condição moderada".

Houthis atacaram postos militares em Israel e no Mar Vermelho

Os Houthis, do Iémen, atacaram postos militares israelitas em Telavive e Eilat com drones, disse o porta-voz militar do grupo, Yahya Saree, num discurso na televisão, informa a Reuters.

Além disso, um navio mercante foi atingido hoje por um drone na costa do Iémen, onde os Houthis têm vindo a realizar ataques a navios mercantes há meses, informou a agência britânica de segurança marítima (UKMTO).

“Um navio foi atingido por um drone. O tanque de lastro número 6 da porta foi perfurado”, relatou a UKMTO. A agência militar britânica já tinha reportado quatro explosões perto do mesmo navio.

O incidente ocorreu a 64 milhas a noroeste de Hodeida, uma cidade controlada pelos rebeldes e alvo de ataques israelitas no domingo.

Não houve até agora reivindicação imediata de responsabilidade pelo ataque.

Ataques israelitas causaram três mortos na capital da Síria

Três civis morreram, incluindo um jornalista, e outros nove ficaram feridos esta manhã em ataques israelitas contra Damasco, avançaram as autoridades da Síria.

“Aproximadamente às 02:05 [00:05 em Lisboa], o inimigo israelita lançou um ataque aéreo com aviões de guerra e drones desde o golã sírio ocupado, visando vários pontos da cidade de Damasco", disse o Ministério da Defesa. Num comunicado, o acrescentou que “a agressão causou a morte de três civis, o ferimento de outros nove e danos significativos em propriedade privada”.

A televisão estatal síria Syrian TV disse num comunicado de imprensa que “lamenta a morte da apresentadora Safaa Ahmad, que morreu como mártir na agressão israelita à capital Damasco”. Horas antes, a SANA disse que as defesas aéreas na área de Damasco intercetaram, pela terceira vez esta madrugada, "alvos hostis", uma expressão geralmente utilizada para se referir a ataques israelitas.

Em resposta, o ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria condenou o ataque israelita em Damasco, que disse ter matado três pessoas. "O inimigo israelita lançou um ataque aéreo ao amanhecer, visando vários pontos na cidade de Damasco, o que levou ao martírio de três civis, ao ferimento de nove e à ocorrência de danos significativos à propriedade privada. A Síria condena essa brutal agressão israelita e renova o seu apelo ao mundo para pôr fim a esse caos israelita que está a incendiar toda a região e a ameaçar a paz e a segurança regional e internacional", lê-se no comunicado, acrescentando que a Síria tinha o "direito legítimo de defender a sua terra e o seu povo e de resistir a esses crimes por todos os meios garantidos pelo direito internacional".

Ataques continuam em Gaza e na Cisjordânia

Pelo menos sete pessoas morreram num novo ataque israelita contra uma escola que acolhe palestinianos deslocados na cidade de Gaza, no norte da Faixa, confirmou o porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmud Basal.

O centro, identificado como escola Shejaiya, está localizado no bairro de Tufah e é gerido pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA). O exército israelita confirmou o ataque horas depois, dizendo que foi dirigido contra um “centro de comando” do Hamas, utilizado por militantes palestinianos para planear e executar ataques contra as tropas.

Israel indicou que as forças tomaram precauções para evitar danos aos civis e acusou o grupo islâmico de “abusar” daqueles edifícios [escolas].

A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PRCS) diz que três técnicos de emergência médica foram feridos na Cisjordânia ocupada após serem "deliberadamente alvejados" por soldados israelitas. O ataque ocorreu quando, em coordenação com o Comité Internacional da Cruz Vermelha, tentavam retirar as vítimas no campo de refugiados de Balata em Nablus, disse a PRCS no X. "As forças [israelitas] estão a bloquear a entrada de ambulâncias no campo e continuamos incapazes de retirar os paramédicos feridos."

Base norte-americana perto do aeroporto de Bagdade alvo de três rockets

Três rockets atingiram esta noite uma base que acolhe forças dos Estados Unidos perto do aeroporto internacional de Bagdade, no Iraque, sem causar vítimas, adiantaram duas fontes de segurança à agência de notícias France-Presse.

“A base Victory, perto do aeroporto de Bagdade, foi alvo de três rockets, dois dos quais foram abatidos pelas defesas especiais da base, enquanto o terceiro caiu perto da sede do comando do Serviço Contra-Terrorismo”, referiu uma fonte de segurança.

Uma segunda fonte de segurança confirmou esta informação, especificando que não houve vítimas e que o ataque não afetou o tráfego aéreo.

EUA apoiam ataques terrestres contra Hezbollah no sul do Líbano

O secretário da Defesa dos Estados Unidos falou com o ministro da Defesa de Israel, a quem disse que os norte-americanos continuam a apoiar o direito de Israel se defender. "Falei com o ministro da Defesa Yoav Gallant para discutir os desenvolvimentos das operações israelitas. Concordámos na necessidade de desmantelar as infraestruturas de ataque na fronteira para assegurar que o Hezbollah não consegue conduzir ataques do estilo do 7 de outubro", escreveu Lloyd Austin na rede social X.

O responsável da Defesa norte-americana considerou que "é preciso uma solução diplomática" para garantir que os civis de ambos os lados conseguem regressar em segurança a casa.

Lloyd Austin avisou ainda para uma possível ameaça do Irão, garantindo que "os Estados Unidos estão bem posicionados para defender o seu pessoal, parceiros e aliados das ameaças do Irão e das organizações terroristas que o Irão apoia". "Reitero as consequências graves para o Irão caso decida lançar um ataque militar direto contra Israel", acrescentou.

Horas antes desta declaração, o Pentágono anunciou que os Estados Unidos vão enviar “alguns milhares de soldados adicionais” para o Médio Oriente para reforçar a segurança e defender Israel caso seja necessário. A porta-voz adjunta do Pentágono, Sabrina Singh, disse que as forças que serão enviadas incluem unidades de defesa aérea de combate e vão juntar-se às dezenas de milhares de soldados norte-americanos já destacados na zona.

Lloyd Austin “aumentou a disponibilidade de mais forças dos EUA para serem destacadas, aumentando a prontidão para responder a várias contingências”, disse Singh , numa conferência de imprensa.

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