Israel entra no Líbano: guerra regional

1 out, 03:00
Artilharia israelita atinge vilas na fronteira com o Líbano. Estas imagens foram tiradas da Alta Galileia, a partir de território israelita (Atef Safadi/EPA)

Explosão de pagers e walkie-talkies ou morte de Hassan Nasrallah não chegaram. Israel está mesmo apostado em acabar com o Hezbollah

Uma incursão terrestre de Israel no sul do Líbano, ataques aéreos na capital da Síria, rockets a atingirem uma base com tropas norte-americanas na capital do Iraque e a continuação das operações na Faixa de Gaza, ainda que a guerra pareça afastar-se daí, ameaçando tornar regional - e mundial? - aquilo que até aqui foi local.

Depois do bem engendrado plano que explodiu milhares de pagers, walkie-talkies e outros dispositivos de membros do Hezbollah, e já depois de ter anunciado a morte do líder do grupo, Hassan Nasrallah, num ataque conduzido com alta precisão na capital do Líbano, Beirute, Israel parece continuar a estender a mão e a influência militar no Médio Oriente.

Se dúvidas havia do poderio israelita, a entrada em terreno libanês, à qual se sucedeu um recuo das tropas daquele país, esclareceu tudo. Afinal, o Líbano foi um dos vários países da região que já se envolveram diretamente com Israel, tendo sido também um dos que mais provou a capacidade militar e tecnológica, sempre aliada a uma brutal cadeia de informação, do pequeno Estado que teima em subjugar quase todos os seus adversários, por muito maiores que aparentem ser, ao ponto de mesmo o Irão pensar uma, duas e três vezes em fazer algo concreto para reagir.

Esta não é já a mesma guerra. Já não se trata de combater o Hamas no minúsculo território da Faixa de Gaza ou na Cisjordânia. Agora está em causa a entrada num território de um Estado independente e reconhecido por todos - incluindo por Israel -, ainda que para aniquilar de vez uma das forças mais relevantes do Eixo da Resistência, uma aliança formal liderada pelo Irão com o único propósito de eliminar o Estado judaico.

Com a coordenação da Força Aérea, as tropas israelitas avançaram já para dentro do Líbano, onde prometem realizar ataques "limitados e direcionados" às infraestruturas do Hezbollah, uma organização enfraquecida politicamente pela morte de vários dos seus líderes, mas que continua a ter muitos seguidores e, acima de tudo, o apoio total do Irão, que continua a tentar influenciar a guerra sem entrar diretamente, até porque aí sim, seria uma guerra total à qual dificilmente os Estados Unidos conseguiriam escapar.

"Estes alvos estão localizados em aldeias perto da fronteira e representam uma ameaça imediata para as comunidades israelitas no norte de Israel", frisaram as Forças de Defesa de Israel (IDF).

O objetivo, garantem as forças israelitas, não passa pela ocupação ou conquista de território, mas antes a destruição do inimigo, que também é um dos partidos políticos com maior representação no país que já foi conhecido como a Suíça do Médio Oriente - longe vão esses tempos.

"As IDF estão a operar de acordo com um plano metódico estabelecido pelo Estado-Maior e pelo Comando do Norte, para o qual os militares das IDF treinaram e se prepararam nos últimos meses", destacaram ainda as forças israelitas na mesma nota, confirmando que tudo foi planeado ao pormenor e que esta operação não foi influenciada pela morte de Hassan Nasrallah.

Mesmo com uma posição firmemente contra da administração de Joe Biden, Benjamin Netanyahu decidiu confirmar a ordem para avançar, naquilo que grande parte dos analistas está a ver como um empurrar da região para uma guerra total, algo que dizem ser do agrado do primeiro-ministro israelita, que se tenta prolongar no poder através das armas, já que assim consegue adiar um inevitavelmente julgamento por corrupção.

Da incursão em si ainda poucas informações. Curiosamente, é de outras geografias ali ao lado que até existem mais notícias. Em Damasco, capital da Síria, os meios de comunicação garantem que um ataque israelita fez três mortos, entre os quais o jornalista Safaa Ahmed, um conhecido apresentador do país.

A CNN conseguiu confirmar, através de geolocalização, a existência de um vídeo que mostra uma explosão junto ao edifício das telecomunicações da Síria, que fica junto ao aeroporto militar da cidade, que terá sido um dos alvos do ataque israelita.

Mais a este, e sem se perceber exatamente que relação poderá ter este caso com tudo o que resto que ia acontecendo, três rockets atingiram uma base que acolhe forças dos Estados Unidos perto do aeroporto internacional de Bagdade, no Iraque, sem causar vítimas, adiantaram duas fontes de segurança à agência de notícias France-Presse.

"A base Victory, perto do aeroporto de Bagdade, foi alvo de três rockets, dois dos quais foram abatidos pelas defesas especiais da base, enquanto o terceiro caiu perto da sede do comando do Serviço Contra-Terrorismo", referiu uma fonte de segurança.

Uma segunda fonte de segurança confirmou esta informação, especificando que não houve vítimas e que o ataque não afetou o tráfego aéreo.

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