O major-general Isidro Morais Pereira acredita Telavive está a utilizar a mesma estratégia usada na Faixa de Gaza
O conflito no Médio Oriente parece ter dado mais um passo rumo à escalada e expansão regional. Perante as mais recentes trocas de ataques, o major-general Isidro Morais Pereira acredita que uma invasão terrestre do sul do Líbano é "a única maneira" de salvaguardar o norte de Israel.
Depois de uma manhã marcada por bombardeamentos e ameaças, o Ministério da Saúde libanês afirma que os ataques aéreos de Telavive no sul do Líbano provocaram pelo menos 274 mortos e 1.024 feridos. De acordo com a Reuters, a mesma fonte garante que entre as vítimas estão crianças, mulheres e médicos.
O Ministério da Defesa israelita alertou que vai conduzir ataques contra casas civis libanesas onde, diz, o Hezbollah esconde armamento e pediu as todos os civis que morem a menos de mil metros de um posto do Hezbollah que se retirem dessas zonas e consequentemente abandonem as próprias casas. Mas o que é que catalisou mesmi a nova escalada de tensões?
“Operação pagers”: o ataque coordenado da Mossad
A “operação pagers” abriu um novo capítulo no conflito do Médio Oriente, na terça-feira. No balanço após o ataque, o ministro libanês do Interior, Firass Abiad, disse que os ataques provocaram 2.750 feridos, dos quais 200 em estado grave, um número entretanto revisto em alta.
O Hezbollah prontamente culpou oficialmente Telavive e declarou que haveria resposta. Até agora, Israel não reivindicou a autoria dos ataques, mas uma fonte confirmou ao correspondente da CNN Portugal em Telavive que se tratou de uma ofensiva israelita. A CNN Internacional também obteve informações que indicam que as forças israelitas, nomeadamente a secreta Mossad, estão por trás do ataque.
Já na quarta-feira foram noticiadas novas explosões, desta feita de rádios portáteis, walkie-talkies e outros “dispositivos sem fios”, incluindo painéis solares, em várias partes do país e nos subúrbios sul da capital, Beirute, reduto do Hezbollah, à hora em que decorriam os funerais das vítimas do dia anterior.
Sábado e os mais de 300 ataques israelitas para prever
No sábado, ao invés da esperada retaliação do Hezbollah, Israel avançou com aquilo que descreveu como uma ação preventiva para impedir um ataque planeado e realizou mais de 300 bombardeamentos em território libanês. Enquanto isso, o Hezbollah foi lançando vários rockets e projéteis contra o norte de Israel.
No domingo, soube-se que os ataques israelitas provocaram pelo menos 45 mortos no sul do Líbano. O Centro de Operações de Emergência de Saúde Pública do Ministério de Saúde Pública do Líbano anunciou em comunicado, citado pela Efe, o aumento do número de mortos nos bombardeamentos israelitas, que inicialmente era de 37, incluindo vários membros do Hezbollah, enquanto prosseguem os trabalhos de busca de corpos ou sobreviventes.
O Hezbollah respondeu com o lançamento de cerca de “150 rockets, mísseis de cruzeiro e ‘drones’” em direção ao norte de Israel desde as primeiras horas de domingo. As IDF garantiram que apenas um “pequeno número” atingiu o território israelita, mas que perante este ato os bombardeamentos iriam "continuar a intensificar-se" no Líbano.
Já esta segunda-feira, pela manhã, a Força Aérea de Israel já tinha conduzido cerca de 150 ataques contra território libanês, como noticiou o correspondente da CNN Portugal em Israel, Henry Galsky.
O Ministério da Defesa de Israel garantiu ainda que vai aumentar o número de ataques no Líbano e pediu compostura aos cidadãos israelitas para o que vai acontecer nos próximos dias. Quase em simultâneo, as Forças de Defesa de Israel emitiram avisos para que ataques aéreos contra casas libanesas onde o Hezbollah alegadamente tem escondido armas iriam acontecer a qualquer momento. Os residentes libaneses receberam ainda contactos telefónicos e foram avisados por israelitas de que deveriam abandonar as habitações imediatamente, mantendo-se a uma distância mínima de mil metros de qualquer posto do Hezbollah.
Primeiro a campanha aérea, depois a invasão
O major-general Isidro Morais Pereira acredita que restam poucas dúvidas sobre o que Israel está a fazer: "tentar moldar o campo de batalha para depois facilitar a invasão terrestre". "O plano está feito, os planos existem, já foram aprovados, mas a invasão terrestre só se verificará se o Hezbollah continuar a ter a mesma posição", teoriza o especialista em Defesa, lembrando que esta mesma cadência de acontecimentos e manobras bélicas já aconteceu na Faixa de Gaza: "Assistimos a uma campanha aérea durante uma semana, não houve uma invasão terrestre, só passado uns dias é que se verificou a invasão terrestre".
Perante a "posição inflexível" do Hezbollah, a estratégica militar israelita, explica o major-general, vai passar mais uma vez por "intensificar os bombardeamentos porque a campanha aérea tem maior alcance, depois fogos de artilharia e mísseis e só a seguir é que avançam as forças terrestres". O objetivo é "enfraquecer muitas estruturas do adversário para que ocorram menos baixas e a invasão terrestre seja facilitada", explica Isidro Morais Pereira, alertando que só um entendimento entre Benjamin Netanyahu e o Hezbollah pode travar este resultado final.
"Netanyahu até discursa em Inglês para todos nós entendermos: 'Se o Hezbollah não entender, nós vamos fazê-lo entender, vai pagar caro se continuar a atacar Israel', disse. Sinceramente, não sei se o Hezbollah vai entender ou não, mas - não entendendo - o que vai acontecer, mais dia ou menos dia, é uma invasão terrestre, porque não há outra maneira de tornar segura esta faixa de Israel. Esta faixa de Israel só será segura se as forças do Hezbollah forem empurradas mais para norte para que as suas armas de fogo não consigam alcançar a faixa norte de Israel. É a única maneira", explica Isidro Morais Pereira.