Militares israelitas admitem ter disparado contra "suspeitos" que deixaram a rota designada, que abordaram as suas forças ou ignoraram os tiros de aviso
Pelo menos 27 palestinianos morreram e dezenas ficaram feridos quando forças israelitas dispararam sobre as pessoas que se dirigiam para um local de distribuição de ajuda humanitária, no sul da Faixa de Gaza, segundo um novo balanço das autoridades do enclave. Este é o terceiro incidente do género que acontece em três dias.
“As tropas efetuaram disparos de aviso e, depois de os suspeitos não terem recuado, foram efetuados disparos adicionais contra alguns suspeitos individuais que avançaram em direção às tropas”, afirmaram as Forças de Defesa de Israel (IDF) em comunicado, garantindo estar a investigar o sucedido.
O número de feridos poderá chegar aos 200, de acordo com o jornal The Guardian.
O porta-voz do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Hisham Mhanna, disse esta terça-feira que o seu hospital de campanha em Rafah recebeu 184 feridos, 19 dos quais foram declarados mortos à chegada e outros oito morreram posteriormente devido aos ferimentos. Os 27 mortos foram transferidos para o Hospital Nasser, na cidade de Khan Yunis.
Todos os tiroteios nos últimos três dias ocorreram perto de um dos locais de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês), em redor da rotunda de Al-Alam, na cidade de Rafah, agora praticamente desabitada, no sul da região. Toda a área é uma zona militar israelita, onde os jornalistas não têm acesso fora das instalações designadas pelo exército.
Ao início da manhã, uma página de Facebook que a Fundação Humanitária de Gaza, apoiada pelos EUA e por Israel, utilizou para divulgar informações sobre a abertura dos locais de distribuição, disse que um local estaria aberto no sul de Gaza e avisou os residentes para aderirem a um corredor designado a partir das 5 da manhã. “As IDF estarão na área para garantir a passagem segura”, dizia o comunicado. Mas cerca de uma hora mais tarde, a página informava que o local seria encerrado.
No entanto, em comunicado, a GHF afirma que a distribuição de ajuda ocorreu sem incidentes: "Sabemos que as IDF estão a investigar se alguns civis ficaram feridos depois de terem ultrapassado o corredor de segurança designado e entrado numa zona militar fechada. Esta era uma área muito para além do nosso local de distribuição seguro e da nossa área de operações. Reconhecemos a natureza difícil da situação e aconselhamos todos os civis a permanecerem no corredor de segurança quando se deslocam para os nossos locais de distribuição".
As IDF dizem que estão a permitir que a GHF opere “de forma independente para distribuir ajuda aos residentes de Gaza e impedir que esta chegue à organização terrorista Hamas”. "As tropas das IDF não impedem a chegada dos residentes de Gaza aos locais de distribuição. O tiroteio foi efetuado a cerca de meio quilómetro do local de distribuição, em direção a indivíduos suspeitos que se aproximavam das forças de forma a ameaçá-las", afirma o exército, citado pelo Times of Israel.
