Cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios vivem no Líbano, de acordo com o ACNUR. "Eles vieram para o Líbano à procura de segurança. Agora têm que viver essa experiência novamente", disse Rula Amin
Cerca de 100 mil cidadãos libaneses e sírios deixaram o Líbano em direção à Síria desde o agravamento da situação militar entre Israel e o Hezbollah anunciou esta segunnda-feira a Agência da ONU para os Refugiados. "Estima-se que 100 mil pessoas tenham atravessado o Líbano em direção à Síria desde o início do agravamento das hostilidades no Líbano. Estima-se que cerca de 60% sejam sírios e 40% libaneses", afirmou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).
"O fluxo de saída continua. O ACNUR está presente em quatro pontos de passagem, juntamente com as autoridades locais e o Crescente Vermelho Sírio, para apoiar os recém-chegados", disse Filippo Grandi, das Nações Unidas, nas redes sociais. De acordo com o ACNUR, entre os recém-chegados, destaca-se a presença de crianças pequenas, uma vez que "cerca de 60% dos que atravessaram a fronteira tinham menos de 18 anos de idade".
The number of people who have crossed into Syria from Lebanon fleeing Israeli airstrikes — Lebanese and Syrian nationals — has reached 100,000. The outflow continues.
UNHCR is present at four crossing points alongside local authorities and @SYRedCrescent to support new arrivals. pic.twitter.com/7dtrghsMH4
— Filippo Grandi (@FilippoGrandi) September 30, 2024
"O afluxo de retornados sírios e de refugiados libaneses que se verificou ao longo de sábado, na sequência das hostilidades no Líbano, prosseguiu no domingo, de forma mais visível no posto fronteiriço de Jdeidet Jabous", segundo o relatório da agência sobre a atual situação.
Os refugiados sírios que vieram para o Líbano devido à violência estão a tentar regressar ao seu país. Cerca de 1,5 milhão de refugiados sírios vivem no Líbano, de acordo com o ACNUR. "Eles vieram para o Líbano à procura de segurança. Agora têm que viver essa experiência novamente", disse Rula Amin, porta-voz do ACNUR para o Oriente Médio e Norte da África. "É uma situação totalmente trágica", disse o Alto Comissariado da ONU para Refugiados à CNN Internacional.
Os alvos de Israel no Líbano estão a mudar constantemente, dificultando que os civis encontrem espaços seguros para se abrigarem. Os residentes foram instruídos a evitar áreas onde o Hezbollah opera, mas como o grupo opera em segredo, as pessoas não sabem para onde ir. A falta de abrigos significa que muitos civis ficam a dormir ao ar livre, disse Amin.
“Nunca vimos nada parecido antes, nem em 2006”, afirmou Amin. “A quantidade e a intensidade dos bombardeamentos, as áreas alvejadas. Há uma enorme perda de vidas, especialmente entre civis.” As autoridades libanesas dizem que mais de mil pessoas foram mortas.
O ACNUR também afirmou que a isenção anunciada no domingo pelo governo sírio da taxa de 100 dólares norte-americanos exigida a cada sírio para entrar na Síria "trouxe alívio" a quem está em fuga.
Amin confirmou que a equipa do ACNUR na fronteira sírio-libanesa vê milhares de pessoas a cruzarem a fronteira para a Síria todos os dias. “Eles não sabem qual é o plano para amanhã. Tudo o que sabem é que têm de fugir.”
More than 50,000 Lebanese and Syrians living in Lebanon have now crossed into Syria fleeing Israeli airstrikes. Well over 200,000 are displaced inside Lebanon.
— Filippo Grandi (@FilippoGrandi) September 28, 2024
Relief operations are underway, including by UNHCR, to help all those in need, in coordination with both governments. pic.twitter.com/Qcvdw79z8A
O ACNUR está a aumentar a assistência aos recém-chegados, distribuindo artigos de emergência, alimentos e água, entre outros, aos que chegam aos postos fronteiriços. Além disso, o ACNUR está a organizar o transporte de famílias "mais vulneráveis" (sírias e libanesas) da fronteira para os destinos finais na Síria. No domingo, 2.500 pessoas receberam assistência para o transporte. Segundo o ACNUR, foram registadas "muitas emergências médicas, resultantes sobretudo da exaustão e da desidratação".
"Nas províncias de Homs, Hama, Tartous, Alepo e Damasco, os recém-chegados estão a ser acolhidos principalmente por familiares e comunidades. Algumas comunidades sírias locais estão também a oferecer alojamento e outras formas de assistência aos refugiados libaneses", afirmou o ACNUR.
No domingo, o primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, afirmou que o Líbano já registou cerca de um milhão de deslocados internos em apenas uma semana de bombardeamentos israelitas contra os bastiões xiitas do Hezbollah (Partido de Deus).
"Não devemos esquecer o relevante movimento de deslocação que ocorreu do sul, dos subúrbios e do Bekaa em apenas algumas horas", disse Mikati, dizendo tratar-se da "maior operação de deslocação" que aconteceu "em questão de horas".
Mikati disse que a situação coloca questões relacionadas à gestão de alimentos e abrigo para os deslocados, bem como à saúde pública e gestão de resíduos.