O presidente russo fez esta sexta-feira um raro discurso em público no estádio nacional de Moscovo, onde saudou a "união" da Rússia perante o que o Kremlin denominou como "operação militar especial" na Ucrânia. No momento em que Putin terminava o discurso, a emissão foi abaixo e a televisão estatal transmitiu músicas patriotas. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse aos media que se tratou de uma "falha técnica"
‘Por um mundo sem nazismo’. Este era o nome do evento que decorreu esta sexta-feira em Moscovo, na Rússia, a propósito do oitavo ano da assinatura do Tratado sobre a Anexação da República da Crimeia.
Em pleno contraste com o ambiente de destruição, desespero e morte que se vive na Ucrânia há 23 dias, desde que começou a invasão russa, as ruas de Moscovo encheram-se de festejos. Mais de 200 mil pessoas festejaram nas ruas e, pelas imagens e relatos, mais de 80 mil juntaram-se no estádio nacional de Moscovo, o Luzhniki, para uma festa que alguns, como aqueles ouvidos pela BBC, garantiram tratar-se de uma fantochada, pois foram obrigados a participar.
Os primeiros relatos chegaram às redes sociais por Max Seddon, correspondente do Financial Times em Moscovo, que esteve presente nas imediações e no estádio onde decorre a celebração.
Moscow’s Luzhniki stadium, which hosted the World Cup final in 2018, is packed out for a pro-war rally on the anniversary of Russia’s Crimea annexation.
Lots of reports of state employees being bussed in. They’re watching a video with Ukrainian flags being thrown to the ground pic.twitter.com/fIKEzD5WnV
— max seddon (@maxseddon) March 18, 2022
Luzhniki Stadium in Moscow. An estimated 130,000 people turned up for the concert to show their support for the Russian army and President Putin. pic.twitter.com/XqMZqgRYW2
— Ian Miles Cheong (@stillgray) March 18, 2022
Presente no estádio, o presidente Vladimir Putin fez um raro discurso em público, onde saudou a "união" da Rússia perante o que o Kremlin denominou como "operação militar especial" na Ucrânia. No momento em que Putin terminava o discurso, a emissão foi abaixo e a televisão estatal transmitiu músicas patriotas. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse aos media que se tratou de uma "falha técnica".
Mas antes da falha técnica, o líder da Rússia conseguiu dizer que as tropas russas continuam a “lutar heroicamente” na Ucrânia e que a Rússia está a tentar “restaurar” a Crimeia. Putin citou mesmo a Bíblia.
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”. Foi esta a passagem da Bíblia que Vladimir Putin escolheu para falar dos objetivos militares da Rússia na Ucrânia.
Perante o estádio de Luzhniki, que estava cheio, o presidente russo afirmou que é importante prevenir o sofrimento e o genocídio, referindo-se aos russos que vivem na Ucrânia, nomeadamente na região de Donbass. “Palavras da Bíblia vêm-me à mente: ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”.
De resto, Vladimir Putin diz que esse é o propósito da operação militar na Rússia: “Salvar pessoas do sofrimento, do genocídio, esse é o objetivo concreto.”
Durante as celebrações desta manhã, a ponte Myakininsky, em Krasnogorsk, ficou tapada por uma fita de São Jorge com mais de 400 metros. Esta fita é um símbolo da Grande Guerra Patriótica, nome dado pelos russos à Segunda Guerra Mundial, e foi erguida para mostrar o apoio às Forças Armadas Russas.
Para além da fita de São Jorge e das bandeiras russas, nas celebrações foi ainda possível ver bandeiras com a letra Z, símbolo que está presente nos carros de combate russos que invadiram a Ucrânia.
Os próprios anfitriões do evento no estádio em Moscovo têm o símbolo na roupa, assim como alguns dos participantes, como o artista Dmitry Kharatyan e o líder do grupo Va-Bank, Alexander Sklyar. Segundo a Associated Press, o evento incluiu o conhecido cantor Oleg Gazmanov, que cantou o tema "Feito na URSS" (em tradução livre). Na música, canta: “Ucrânia e Crimeia, Bielorrússia e Moldávia, é tudo meu país”.
Apesar da cerimónia que celebra a anexação da Crimeia ter juntado milhares de pessoas em Moscovo, os contornos sobre como o ajuntamento ocorreu não são claros, tal como relatou no Twitter Max Seddon, que relatou o depoimento de uma senhora, que disse: “Eles colocaram-nos num autocarro e trouxeram-nos até aqui.”
“They packed us into a bus and drove us here,” one woman tells @SotaVision pic.twitter.com/TrRgIRCMZg
— max seddon (@maxseddon) March 18, 2022