A Nova Ordem Digital é uma rúbrica para ler na página da CNN Portugal
Ontem de forma inesperada fez-se um silêncio preocupante na Ucrânia. Sem Internet para mostrar o que viam, não houve espaço para o mundo do OSINT se posicionar.
Depois do grupo Anonymous ter estado continuamente a expor o que encontrou nos servidores dos serviços governamentais russos e nos emails governamentais da Bielorrússia, lá se começaram a fazer chamadas telefónicas aos responsáveis governamentais, numa espécie de provocação que mostra que embora a RT tenha uma realidade alternativa para dentro e fora da Rússia, a mentira tem perna curta e não há segredo que fique bem escondido. Na realidade o problema é com quem está na cúpula russa e não com o seu povo, esse, se porventura vier a rua em grupos de milhares para se manifestar, encontrará à sua espera um conjunto de autocarros para os levar. Mas quando digo levar não o digo a todos, mas sim a um conjunto selecionado de indivíduos que consegue furar a censura e fazer chegar com recurso ao TOR, informação preciosa que na Ucrânia a questão não é o resgatar duas novas repúblicas, mas sim invadir, destruir e conquistar uma nação.
Anti-war solo pickets like this are popping up in cities across Russia. It’s not much but they’re arrested almost immediately, often upon leaving their homes when the cops know to expect them. Here’s Sofya Rusova, co-chair of Russia’s Trade Union of Journalists. pic.twitter.com/5NVqdGyhFy
— Kevin Rothrock (@KevinRothrock) February 24, 2022
Dentro do campo de ação ninguém conseguiu pregar olho na espectativa de poder ajudar como fosse possível. Europa fora, dento de salas na DarkWeb e grupos do Discord, batalhões de homens e mulheres analisam à exaustão as imagens recebidas para passar o resultado em minutos aos soldados ucranianos presentes. Não, não é qualquer um que entra e recebe informação. É necessário enviar provas cabais que se está vivo e mostrar a credencial militar entre outros elementos.
No meio da tensão, Mykhailo Fedorov relembra a Elon Musk que Marte é importante, mas aqui no planeta Terra há uma tentativa de sobrevivência humana.
Horas depois chega o sistema de satélites de baixa altitude de Elon Musk, o StarLink, e uma eternidade curta depois os Minilinks e os pratos de rádio apontam para o céu. Repentinamente volta a haver Internet e começam a chegar vídeos e imagens do que se passa fora de Kiev onde também é Ucrânia.
As imagens chegam e todas apontam para o mesmo. Apesar de umas escaramuças e uns bombardeamentos há um estranho recuar das hostilidades, terá sido sol de pouca dura pois ontem de manhã com precisão de relógio, foi detetada uma coluna militar com 5 quilómetros de comprimento e todos os tipos de veículo são exaustivamente identificados.
Esta perda de comunicações saiu cara para quem se está a defender do invasor, há um certo lag entre o que acontece, o que realmente se passa e a ajuda dos grupos de hackers e analistas é fundamental; há muito para perceber e há muito para rever duplamente antes de avançar com uma informação. Uma má nota custa uma vida humana, tanto de quem vai reconhecer como de quem é reconhecido. O ambiente é tenso, sente-se o receio de ser localizado, mas também há o sentido de missão, de utilidade, amplamente simbiótico dentro da comunidade cibernética.
É com minúcia de relojoeiro que se avançam nas atividades. Tudo é calculado, tudo importa, desde uma placa de rua, sinal de transito ou poste de luz. Do lado russo o objetivo é igual e por isso pede-se para remover os nomes das ruas da Ucrânia. A cada detalhe ou objeto identificado a imagem passa para a fase seguinte nesta linha de montagem com centenas de pessoas. Agora, foi identificado um candeeiro, sabe-se que na sombra está um tanque e que este é uma espécie de engodo pois as imagens aéreas tiradas da plataforma de incêndios da NASA permitem fazer uma análise de calor, fica-se a saber que perto estão mais 4 escondidos. A resposta é dada ao operador 4040022, este leva a mensagem ao seu comando e pouco depois um drone passa pelo ar ou um militar segue com uma arma antitanque portátil; a missão está feita. Os russos esperam tanques e encontram tropas a pé e os impensáveis drones pelo ar numa Ucrânia que se tinha como fraca. Ambos, letais como tudo.
Este jogo de vida real é uma rotina que nunca termina e que já mostou o seu valor. Horas antes da coluna imensa que se dirigia a Kiev aparecer nas notícias, já esta havia sido prontamente identificada e relatada. Mas rapidamente deixa de ser importante. Importante é agora reagir ao 65º Batalhão de Redes dos Anonymous que conseguiu extrair aproximadamente 40 mil ficheiros do Instituto Nuclear Russo. São precisos tradutores e mais uma vez entra na linha de montgem uma imensidão de informação. Horas depois estava traduzida e seguia caminho.
Do lado oposto a resposta é rápida ao aviso que a AMD deixaria de vender na Rússia. Hackers russos entraram e retiraram milhões de documentos das infraestruturas informáticas da empresa norte americana... e assim o jogo da vida real continua.
Se este momento na história cibernética tivesse um nome ou título provavelmente seria “007, Olhos em todo o lado”. Mas não é um filme, é uma triste realidade e quem entra neste jogo tem de dormir à noite com o que faz e vê. É uma dor comum.