Trump passou horas a falar com Putin e também telefonou a Zelensky. No fim, foi isto que saiu

19 mai, 19:47

Presidente russo partiu confiante para a conversação e voltou a repetir os avisos já tantas vezes feitos. Na Casa Branca acredita-se que foi dado um passo e o presidente norte-americano até anunciou mais "negociações para um cessar-fogo"

Donald Trump disse que ia falar primeiro com Vladimir Putin e depois com Volodymyr Zelensky. Trocou a ordem e acabou a falar apenas sobre as cerca de duas horas em que esteve ao telefone com o presidente russo - a conversa com o líder ucraniano só foi divulgada pela comunicação social, não tendo existido qualquer eco sobre a mesma.

Dessa chamada, o presidente dos Estados Unidos reteve uma coisa: Rússia e Ucrânia vão “começar imediatamente as negociações para um cessar-fogo”.

Isto a acreditar no que ouviu do lado de lá da linha, em Moscovo, onde estava sentado um homem confiante em conseguir o que quer. De acordo com a Bloomberg, Vladimir Putin acredita que as suas forças são capazes de conquistar a totalidade das quatro regiões anexadas já depois da invasão até ao final do ano.

Uma referência a Lugansk, Donetsk, Zaporizhzhia e Kherson, regiões que a Rússia juntou ao seu território num referendo não reconhecido internacionalmente, mas que mantém cujo controlo mantém como linha vermelha para a paz. A Ucrânia, sabe-se, exige o contrário e até mais, já que continua a defender que também a Crimeia deve regressar para controlo de Kiev, depois de ter sido anexada em 2014.

Portanto, e perante um cenário em que parece que Vladimir Putin continua apenas a comprar tempo para ir conquistando objetivos militares, fica pouco claro que diferença têm estas negociações anunciadas por Donald Trump e as que ocorreram em Istambul na semana passada.

A diferença pode estar no local, talvez. É que o presidente norte-americano confirmou que o Vaticano está disposto a acolher ambos os líderes para este efeito. “O Vaticano, representado pelo Papa [Leão XIV], afirmou que está muito interessado em receber as negociações. Deixemos o processo começar”, escreveu Donald Trump na sua Truth Social, referindo-se a uma chamada com Vladimir Putin que “correu muito bem”.

“O tom e o espírito da conversa foram excelentes”, reiterou, explicando que serão ambas as partes em conflito a negociar diretamente, “como não podia deixar de ser, porque eles sabem melhor que ninguém os detalhes da negociação”.

Tudo isto numa chamada que o presidente norte-americano também tentou utilizar para benefício próprio. E isso significa, naturalmente, negócios. Donald Trump antevê uma “grande escala” de comércio entre Estados Unidos e Rússia, mas também Ucrânia.

“É uma grande oportunidade para a Rússia criar uma quantidade maciça de empregos e riqueza. O potencial é ILIMITADO”, escreveu na sua publicação, retomando as habituais declarações em letras garrafais.

Quanto à Ucrânia, poderá também beneficiar do comércio com Washington, DC, nomeadamente para ajuda à reconstrução do país. Um sinal claro de que o acordo de exploração de minerais continua a ser prioridade na Casa Branca.

Mas e Vladimir Putin, como viu o telefonema?

Como não podia deixar de ser, o presidente russo foi muito menos expansivo que o seu homólogo norte-americano. Logo após as duas horas de chamada a comunicação social russa dava conta de uma conversa “informativa, franca e muito útil”.

Foi isso que escreveu a RIA Novosti, referindo que “um cessar-fogo na Ucrânia por um certo período é possível se forem acordados os termos apropriados”. E esta última palavra é a chave, já que a Rússia tem definido sempre objetivos “apropriados” de alto nível de intransigência.

Ainda assim, e mantendo o jogo duplo, o Kremlin garante que está pronto a trabalhar diretamente com Kiev num memorando que possa levar a um futuro tratado de paz. Segundo a agência TASS, Moscovo defende uma resolução pacífica do conflito.

Já a Interfax, que também deu as suas notícias da chamada, refere que Vladimir Putin continua a querer eliminar as causas de raiz da invasão. É uma definição algo ampliada, mas essa visão incluirá sempre a saída de Volodymyr Zelensky e a garantia de uma Ucrânia neutral e sem aderir à NATO. A incorporação das tais cinco regiões ucranianas também poderá ser um fator-chave.

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