O que a nova administração Trump significa para a Ucrânia. "Estamos perante uma caixa negra", mas não há "tempo para todas as fases do luto"

20 nov, 07:00
Trump Musk e a bitcoin e os criptoativos Ilustração Ian Berry/CNN/Getty Images

MIL DIAS DE GUERRA || São várias as conjeturas sobre o que espera a Ucrânia face às nomeações do presidente eleito dos EUA para a sua próxima administração. Alguns, como o número dois de Trump, dizem que não querem saber o que acontece ao país; outros, como Elon Musk, defendem a cedência de território à Rússia em troca da paz. A luz verde de Joe Biden sobre o uso de armas de longo alcance americanas contra alvos russos veio baralhar ainda mais as peças, quando faltam dois meses para Trump e o seu Governo serem empossados

As opiniões divergem mas há um facto aparentemente consensual entre os analistas: ao contrário do seu primeiro mandato, quando vários conselheiros de Donald Trump conseguiram, até certo ponto, controlar as tendências isolacionistas e unilaterais do presidente, a segunda administração Trump será composta por uma série de figuras ultra leais ao chefe de Estado.

Algumas têm vindo a alterar a sua postura em relação à Ucrânia no contexto da invasão russa de larga escala. Outras nunca esconderam o quão pouco se importam com Kiev. “Tenho de ser honesto: estou-me nas tintas para o que acontece na Ucrânia de uma forma ou de outra”, dizia o vice-presidente de Donald Trump, JD Vance, em 2022.

“Todas estas escolhas foram feitas por lealdade, o que também significa que tudo vai depender do que vai na mente de Trump e do que ele decidir fazer, e não tanto de um possível grande plano que possam ter”, diz à CNN Simon Schlegel, analista do International Crisis Group sediado na capital ucraniana. “Na última administração, Trump teve quatro conselheiros de Segurança Nacional e dois secretários de Defesa, então não sabemos quanto tempo cada um deles vai permanecer no respetivo cargo. Qualquer coisa pode fazer com que Trump os veja como desleais.”

A análise é partilhada por vários especialistas, tendo como ponto de partida os nomes que o presidente eleito decidiu excluir da sua próxima administração, tidos como mais pró-Ucrânia e pró-NATO. É o caso de Mike Pompeo – que foi chefe da CIA entre 2017 e 2018 e depois secretário de Estado até ao final do primeiro mandato de Trump. E também o caso de Nikki Haley, ex-embaixadora de Trump na ONU. Tanto Pompeo como Haley foram pouco ativos no apoio ao candidato republicano durante a campanha eleitoral. “Ele até poderia ter nomeado Pompeo e Haley, dado que são mais experientes, mas também não é claro até que ponto lhes teria dado ouvidos, como não é claro qual será a influência das pessoas que de facto escolheu”, aponta Schlegel.

Há quem veja nas nomeações já anunciadas potenciais más notícias para Kiev, mas também quem defenda que a administração que se está a formar é, apesar de tudo, um bom augúrio. “Kiev está bastante calma e confortável com os oficiais de segurança nacional anunciados até agora”, diz Daniel Vajdich, republicano especializado em assuntos internacionais que preside à Yorktown Solutions, uma empresa que faz aconselhamento a entidades estatais ucranianas e que está diretamente envolvida com as autoridades em Kiev. “Aqueles que estão a alimentar a narrativa de que há ansiedade em Kiev estão a fazê-lo com os seus próprios objetivos e estão a prestar um péssimo serviço à Ucrânia”, acrescentou Vajdich ao Politico.

A mesma ideia é ecoada por três ex-funcionários da primeira administração Trump favoráveis ao contínuo apoio dos EUA à Ucrânia, que falaram ao mesmo jornal sob anonimato. “Para os que estão preocupados com a hipótese de Trump vir a vender a Ucrânia mais à frente, penso que a principal prioridade é tentar encontrar algum tipo de paz equitativa”, disse uma das fontes da campanha republicana envolvida na transição.

Sem coerência para antecipar cenários

Parece haver entre alguns ucranianos um certo otimismo, ainda que cauteloso, sobretudo face a escolhas como o senador da Florida Marco Rubio para secretário de Estado e de Mike Waltz para conselheiro de Segurança Nacional, ambos vistos como simpatizantes da causa ucraniana. Como escreveu no Facebook Iryna Gerashchenko, deputada ucraniana do partido da oposição Solidariedade Europeia, “Rubio visitou várias vezes a Ucrânia e até criticou publicamente os republicanos que duvidaram da necessidade de ajudar a Ucrânia.”

Simon Schlegel não partilha desse otimismo, mas deixa todas as hipóteses em aberto, dizendo ser difícil antecipar o que poderá acontecer depois de a administração Trump tomar posse. “Até ao momento estamos perante uma caixa negra”, diz o analista do Crisis Group. “Todas estas pessoas chave, em particular o secretário de Estado [Marco Rubio], o secretário da Defesa [Pete Hegseth] e o conselheiro de Segurança Nacional [Mike Waltz], ainda não disseram muito sobre a Ucrânia nem têm sido suficientemente coerentes para nos permitir compreender em que direção isto vai seguir.”

Pouco depois da invasão total da Ucrânia, Hegseth disse no seu programa na Fox News que "temos razão em classificar Putin como um criminoso de guerra", mas meses antes concordou com Trump quando este classificou a invasão como "inteligente e genial" Foto: John Lamparski/Getty Images

O especialista dá como exemplo aquela que foi uma das mais surpreendentes e controversas contratações de Trump até ao momento, Pete Hegseth, um pivot da Fox News sem qualquer experiência política ou de alto nível militar que vai chefiar o Pentágono e que “já apelou ao fim da guerra, mas que, noutras ocasiões, também chamou a Putin ‘criminoso de guerra’”. 

“Juntamente com Trump, estas três pessoas – Rubio, Hegseth e Waltz – não parecem ter um plano bem concebido, muito dependerá do que acontecer quando chegarem ao poder. Também não há uma ideia clara sobre o que pensam da NATO e da Europa – sabemos que querem que os europeus façam mais, mas não é claro o que acontecerá se isso não se confirmar ou se, por outro lado, de facto acontecer. Não sabemos qual será o próximo passo para além de exigirem uma maior contribuição das nações europeias em matéria de segurança e defesa.”

Independentemente das expectativas, a maioria reconhece que a Ucrânia tem pela frente um longo e árduo caminho para convencer os Estados Unidos, com Trump ao leme, a manterem o seu apoio económico e militar, também tendo em conta o recente historial de ambiguidade quer de Rubio, quer de Waltz, em relação a Kiev. Isso levanta dúvidas sobre até que ponto os dois homens com cargos de topo vão defender a manutenção dos apoios – sobretudo considerando que estão totalmente alinhados com Trump quanto à necessidade de a Europa assumir o grosso dos apoios à Ucrânia.

Coletivamente, as nações europeias forneceram mais ajuda à Ucrânia desde o início da guerra do que os norte-americanos, mas os EUA continuam a ser o maior doador individual de Kiev e uma retirada de apoios dos Estados Unidos, dos quais a UE continua a ser largamente dependente, não augura um futuro brilhante para ucranianos e europeus no contexto da invasão russa. Até porque, é sabido, o grande objetivo da nova administração é mudar o foco para o IndoPacífico, nomeadamente para a China, atualmente considerada a grande rival militar e económica dos norte-americanos.

Adesão à NATO: uma miragem distante

Assim que se começou a perceber a vitória de Trump na noite de 5 de novembro, a sua equipa de campanha traçou um plano concreto que prevê a redução do envolvimento direto dos norte-americanos no conflito em curso na Ucrânia, bem como na segurança e defesa da Europa em geral. E tudo aconteceu apenas duas semanas antes de o presidente Biden autorizar, pela primeira vez, o uso de armas americanas de longo alcance contra alvos russos.

A proposta da futura administração norte-americana prevê a criação de uma zona tampão desmilitarizada de quase 1.300 quilómetros ao longo das frentes de batalha no terreno, a ser policiada por militares do Reino Unido e dos Estados-membros da União Europeia (UE). O compromisso norte-americano seria o de fornecer armas à Ucrânia para impedir novas incursões russas, mas sem enviar tropas ou dinheiro para financiar qualquer presença militar ocidental no país.

Defensora de longa data da adesão da Ucrânia à NATO, Elise Stefanik fez marcha-atrás após ter sido nomeada por Trump para embaixadora dos EUA nas Nações Unidas Foto: Evan Vucci/AP

Bryan Lanza, estratega republicano de longa data que trabalhou nesta campanha de Trump, foi quem apresentou o plano à BBC no rescaldo das eleições, indicando que a futura administração norte-americana vai pedir ao presidente ucraniano que tenha “uma visão realista” para a paz e deixe de se focar na restauração de território perdido. Um dia depois, a equipa de transição do presidente eleito veio garantir que Lanza não fala em nome de Trump, mas não desmentiu as linhas gerais do que poderá vir a ser a proposta levada pelo futuro presidente norte-americano para a mesa de negociações.

A ideia de pôr os exércitos europeus a pagar e a manter uma zona-tampão na Ucrânia, integrado na doutrina “América Primeiro”, tem sido criticada pelos aliados ocidentais por, na prática, se traduzir num reconhecimento das reivindicações de Putin sobre os territórios ocupados e por minar a união entre os Estados-membros da NATO. 

O alegado plano também prevê que Kiev adie a adesão à aliança por pelo menos 20 anos. Um sinal disso mesmo foi a escolha de Trump para diretora nacional dos serviços de informação: Tulsi Gabbard, ex-democrata, mas agora republicana. Em 2022, horas depois da invasão da Ucrânia pela Rússia a 24 de fevereiro, Gabbard, recorreu ao Twitter (agora X) para dizer que a “guerra e sofrimento” poderiam ter sido evitados se a administração Biden e os seus aliados tivessem reconhecido “as legítimas preocupações securitárias da Rússia quanto à Ucrânia vir a tornar-se um membro da NATO”. 

Ao mesmo tempo, Elise Stefanik, escolha de Trump para embaixadora dos EUA na ONU, que até já tinha defendido a entrada da Ucrânia na aliança atlântica, mais cedo do que tarde, já fez marcha-atrás. A embaixadora "apoia totalmente a agenda política da paz através da força do presidente Trump e irá seguir o comandante-chefe quanto às melhores práticas para acabar com a guerra na Ucrânia", disse a sua porta-voz, à CNN Internacional, numa declaração que não só se alinha com a ideia de uma equipa de ultra leais a Trump como também veio alimentar a suspeita de que a não-adesão da Ucrânia à NATO será uma condição sine qua non do futuro presidente, que na campanha chegou a sugerir que iria encorajar a Rússia a atacar aliados da NATO que não invistam pelo menos 2% do seu PIB em Defesa.

Como antecipou Tymofiy Myloyanov, presidente da Escola de Economia de Kiev e ex-ministro ucraniano da Economia, numa reação à eleição de Trump no Facebook, haverá “pressão para negociar com a Rússia em prol da paz, serão impostas condições rigorosas para a receção de ajuda [norte-americana], que poderá ser significativamente reduzida e, em troca, os EUA irão exigir uma maior participação da Europa no apoio à Ucrânia.”

"Uma jogada muito estratégica"

Tudo isto surge a par e passo do ceticismo do presidente eleito e de outros futuros membros da sua administração quanto à NATO. Logo à cabeça, Pete Hegseth, que no livro que publicou no início deste ano, “The War on Warriors: Behind the Betrayal of the Men Who Keep Us Free”, questiona: “Porque é que a América, o ‘contacto de emergência’ da Europa no último século, deve dar ouvidos a nações presunçosas e impotentes que nos pedem para honrar acordos de defesa ultrapassados e unilaterais que elas próprias já não cumprem?”

A controvérsia não é de agora. Quanto Putin ordenou a invasão total da Ucrânia em fevereiro de 2022, Hegseth disse que isso “não se compara” ao “wokismo” (termo pejorativo usado pelos seus conservadores para se referirem à ideologia de esquerda nos EUA). E numa entrevista recente ao podcast Shawn Ryan Show, descreveu a guerra na Ucrânia como um falhanço político comparável às guerras no Afeganistão e no Iraque, em que os EUA “queimaram duas décadas de dinheiro”, estando agora “a tentar fazê-lo outra vez” na Ucrânia.

Na mesma entrevista, o futuro secretário da Defesa foi questionado sobre um dos principais argumentos para manter a ajuda à Ucrânia – o de que, se for permitido à Rússia vencer a guerra, Putin não vai parar por ali. Na resposta, Hegseth disse que Putin provavelmente não irá além da fronteira da Polónia, dando a entender que uma Ucrânia derrotada não é um cenário assim tão mau quanto muitos o pintam.

Alegada proposta de Zelensky ao futuro Presidente dos EUA "mostra que os ucranianos prestaram atenção a uma das poucas coisas em que Trump tem sido mais consistente" Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Volodymyr Zelensky, que há uma semana recebeu de Donald Trump Jr. um recado sobre a sua “mesada” estar a chegar ao fim, já terá apresentado propostas concretas a Trump para garantir a continuação dos apoios dos Estados Unidos, incluindo substituir as unidades americanas destacadas em território europeu por tropas ucranianas assim que a guerra acabar, para reduzir a despesa dos norte-americanos com a segurança e defesa da Europa.

Dando por si numa posição ingrata, é clara a tentativa do presidente da Ucrânia de apresentar o seu país a Trump como uma peça-chave da segurança europeia na ordem mundial pós-guerra, com a sua oferta a apelar diretamente ao que tem sido uma promessa constante de Trump ao longo desta (e da anterior) campanha. Mas a sua aplicação prática depende fortemente de a Ucrânia integrar a NATO, um dos desejos mais distantes neste momento.

“Não é uma proposta muito difícil de fazer, depende do fim da guerra e de a Ucrânia ter garantias de segurança suficientes, mas é bastante claro que, mesmo sem a NATO, essa realidade está bastante longínqua - primeiro precisam de um fim estável da guerra”, diz Simon Schlegel ao telefone a partir de Kiev. “A Ucrânia não tem tempo para todas as fases do luto neste momento, por isso vai oferecer recursos, vai oferecer prestígio, deixando que Trump fique com parte do crédito por aquilo que vier a acontecer.”

Para o analista, a alegada proposta de Zelensky mostra, acima de tudo, “que os ucranianos ouviram atentamente Trump” numa “das poucas coisas em que ele tem sido muito consistente, dizendo o tempo todo que a UE está a sugar os EUA” – “isto mostra que os ucranianos estão prontos, num futuro muito distante, para assumir mais do que aquilo que os EUA estão a fazer agora, mas isso é num futuro muito distante. A Ucrânia está a fazer uma jogada muito estratégica, pois percebeu que Trump quer um acordo e quer sair disto como um negociador muito inteligente.”

Europeus tentam "tomar a iniciativa"

Estratégica também, e em igual medida controversa, foi a recente chamada telefónica do chanceler alemão, Olaf Scholz, com o presidente da Rússia, a primeira conversa entre os dois líderes desde a invasão da Ucrânia – para Volodymyr Zelensky, o “abrir da caixa de pandora” russa, para Simon Schlegel sinal de “um dos grandes receios das nações europeias de poderem vir a ser atropeladas por Trump”, levando Scholz a querer “assegurar que têm uma palavra a dizer” quanto ao futuro da Ucrânia. 

"A Europa não quer ser apanhada de surpresa por algo que, potencialmente, pode ser muito negativo", diz Simon Schlegel, do International Crisis Group, sobre a recenter chamada de Scholz com Putin Foto: Hannibal Hanschke/EPA

“Ter a maior nação da Europa a estender a mão a Putin depois de tanto tempo serve para deixar claro que vão querer estar envolvidas no que quer que seja decidido, em vez de serem apanhadas de surpresa por algo que, potencialmente, pode ser muito negativo para a Europa”, adianta o analista do Crisis Group. “A UE está muito cautelosa em relação a um acordo de território em troca da paz, quer seja temporário ou efetivo… Os europeus estão a sentir o calor e a tentar tomar a iniciativa.”

Essa troca de território pela paz é uma das grandes bandeiras do bilionário Elon Musk, que participou na primeira chamada de Trump com Zelensky após a vitória eleitoral e que, juntamente com o empresário Vivek Ramaswamy, vai liderar o novo Departamento de Eficiência Governamental, nas palavras do presidente eleito para “fornecer aconselhamento e orientação a partir de fora” sobre formas de reduzir a burocracia e as regulações no governo federal.

Ex-rival de Trump nas primárias republicanas deste ano, Ramaswamy tem uma declarada postura anti-Ucrânia. Classifica Zelensky como um “bully antidemocrático” e, em 2023, defendeu na rede social X que os EUA devem ter como “dura linha vermelha” a admissão da Ucrânia na NATO. “É verdadeiramente surpreendente para mim que o resto do Ocidente esteja a comer da mão deste flautista todos os dias”, reforçou noutro momento em mais uma referência virulenta ao líder da Ucrânia. 

Para lá da retórica, Musk suscitou ainda mais polémica ao tornar-se uma das primeiras figuras públicas da América a sugerir que a Ucrânia deve abdicar da península da Crimeia, que os russos estão a ocupar há 10 anos, e aceitar que o estatuto das regiões ocupadas do Leste, que representam cerca de 20% do Estado ucraniano, seja levado a referendo. Mas não é certo, para já, até que ponto os dois homens vão influenciar a política externa ao leme de Trump.

“É muito difícil saber quais vão ser os papeis desempenhados por Musk e Ramaswamy. Não sabemos como é que esta estrutura [de eficiência governamental] vai funcionar, mas estes são homens que já declararam simpatia por Putin. Musk é particularmente franco no que diz respeito à cedência de território e poderão usar isto nos bastidores, até no que toca às sanções à Rússia, que custam muito dinheiro aos EUA e à Europa”, indica Simon Schlegel. “Essa é uma área em que talvez possam vir a interferir.”

Território pela paz e a realidade no terreno

Após a invasão total russa, o dono da SpaceX autorizou a Ucrânia a usar o seu satélite Starlink para repor a internet no país; desde então, Elon Musk tem acumulado declarações controversas sobre o fim da guerra, defendendo que Zelensky deve abdicar da Crimeia e aceitar que a soberania dos territórios ocupados do Leste seja levada a referendo Foto: Alex Brandon/AP

Há crescentes receios de que o acordo de paz proposto por Trump para “pôr fim à guerra num só dia”, como chegou a prometer durante a campanha, envolva a cedência de território ucraniano à Rússia, isto numa altura em que as tropas do Kremlin estão a alcançar grandes avanços no terreno, nomeadamente em Vuhledar, uma cidade estratégica que pode abrir caminho a mais conquistas russas.

Há poucos dias, foi também noticiado que Moscovo está a preparar uma enorme ofensiva com mais de 50 mil tropas, incluindo 11 mil soldados que a Coreia do Norte enviou para o terreno, para reconquistar a região russa de Kursk, tomada pelos ucranianos em agosto, mas cuja manutenção está a provar-se difícil para as tropas de Kiev – mas uma região na qual as tropas ucranianas vão apostar tudo o que têm, para terem “uma posição forte” na mesa de negociações, como referia esta semana a embaixadora da Ucrânia em Lisboa numa entrevista exclusiva à CNN Portugal.

“É possível que, daqui até à tomada de posse de Trump, a Ucrânia perca o oblast de Kursk, na Rússia, e que sofra uma grande pressão nesse território”, antecipa Schlegel. “Para a Ucrânia, é muito importante manter Kursk, agarrar-se ao território russo para o utilizar como instrumento de negociação, pelo que Kiev poderá investir recursos consideráveis ali, talvez mais até do que noutros territórios que enfrentam avanços russos, como Vuhledar e Zaphorizia.”

O que acontecer no terreno daqui até à tomada de posse de Donald Trump, a 20 de janeiro, irá ditar muito do que aí vem – e já todos conhecem a postura imprevisível, intempestiva e transacional do futuro presidente dos EUA. Um plano que lhe permita reduzir a presença de tropas americanas na Europa e reivindicar publicamente um acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia será uma dupla vitória para Trump – mas a realidade, como o demonstrou a recém-anunciada autorização de Biden sobre o uso de armas de longo alcance americanas contra alvos russos, pode mudar até lá.

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