Decisão teve por origem uma investigação de um dos maiores jornais do mundo. Especialista português questiona "o que é que o Ministério Público anda a fazer"
O Youtube suspendeu a conta do grupo 1143 na sequência de uma reportagem do jornal norte-americano New York Times que denuncia incitamento ao ódio nas redes sociais. O artigo foi publicado sob o título "Como o ódio online contra os migrantes estimula a violência no mundo real".
Em causa estão várias denúncias apresentadas àquele jornal norte-americano relativas ao conteúdo partilhado pelo grupo de extrema-direita, nomeadamente publicações contra a imigração, num discurso muitas vezes violento e xenófobo. “Reconquistar Lisboa dos mouros”, “Portugal para os portugueses” e “Morte aos traidores” são alguns dos exemplos de publicações recolhidas pelo New York Times.
Segundo o New York Times, que contactou a plataforma, o Youtube decidiu suspender a conta do grupo liderado por Mário Machado, declarando que “qualquer conteúdo que promova violência ou incentive ao ódio contra pessoas com base em características como etnia ou estatuto de migrante não é permitido na plataforma”.
“Estamos comprometidos em eliminar esse conteúdo o mais rápido possível”, garantiu o Youtube, citado pelo respetivo jornal.
Esta não é a primeira vez que uma conta daquele grupo neonazi é eliminada das redes sociais. Em outubro do ano passado, a conta do grupo 1143 foi suspensa da rede social X, mas acabou por ser reativada dias depois.
Tito Morais, especialista em internet, diz que “é estranho” que tenha sido um jornal norte-americano a chamar a atenção para o tema. Afinal, lembra o especialista, algumas dessas publicações “tiveram repercussões na vida real, nomeadamente na cidade do Porto”, com situações de agressões a estrangeiros. Neste contexto, o especialista questiona “o que é que o Ministério Público português anda a fazer, sobretudo quando falamos neste tipo de organizações que colocam em risco a democracia”.
“O problema que se coloca aqui é que o discurso de ódio pode ser mais ou menos camuflado e o que acontece muitas vezes é que este tipo de conteúdo não é um discurso de ódio direto, mas sim indireto, e é nesse sentido que as autoridades podem ter dificuldade em argumentar perante um juiz pela detenção e pela suspensão deste tipo de canais e de conteúdos”, reconhece Tito Morais.