Há um tipo de gordura que agrava a gripe, diz estudo

21 mai 2022, 14:00
Doente

Investigadores concluíram que o colesterol está ligado à exacerbação de uma infecção viral, como a que causa a gripe

Pela primeira vez, cientistas conseguiram perceber o impacto que altos níveis de colesterol têm na inflamação e no agravamento da gripe. O colesterol dietético pode ter um efeito imunossupressor, aumentando o nível de inflamação e a doença em si, fatores que se mostraram determinantes nas taxas de mortalidade.

O estudo da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, e publicado na revista Journal of Immunology, teve por base uma experiência em ratos de laboratório, que foram divididos em dois grupos: num primeiro, os animais seguiram a sua ração padrão e indicada para roedores, já no segundo foi acrescentada a essa mesma ração uma dose diária de 2% de colesterol dietético via suplementação - de modo a imitar aquele que seria obtido através da alimentação. Após cinco semanas, os animais foram propositadamente infetados com o vírus Influenza A (o dos humanos, mas adaptado a ratos) e foi feita uma monitorização do seu estado desde o primeiro dia da experiência até ao desenvolvimento da doença, que em alguns casos culminou na morte.

Os ratos que receberam suplementação de colesterol “apresentaram consistentemente uma maior morbidade” e “exibiram uma maior perda de peso e comportamento de doença”, explica Allison Louie, autora do estudo, que adianta que esta gordura pode ter um efeito imunossupressor, que é prejudicial durante o curso de uma infecção, mesmo que não haja um aumento do peso corporal (embora a obesidade seja um fator de risco no vírus da gripe).

Mas este efeito de imunossupressão trouxe uma surpresa: o colesterol não provocou um sistema imunitário hipoativo (menos ativo), mas aumentou o número de células imunitárias produtoras de citocinas nos pulmões. “Descobrimos que mais células produtoras de citocinas se infiltraram nos pulmões dos ratos alimentados com colesterol, o que pode ter contribuído para ficarem mais doentes”, uma vez que essa “tempestade de citocinas”, como diz a autora da investigação, provoca “uma inflamação excessiva” que “é prejudicial”.

O lado bom do colesterol 

O estudo dá ainda conta que mudanças alimentares podem demorar tempo a surtir efeitos, uma vez que os ratos que foram suplementados com colesterol apresentaram mais gravidade de doença e risco de morte mesmo depois de terem deixado de tomar o suplemento. A mudança foi feita cinco semanas depois e estes animais continuavam mais vulneráveis do que aqueles que nunca tomaram o suplemento.

Em humanos, padrões alimentares ricos em gorduras saturadas e trans - facilmente presentes em alimentos processados, fritos e doces, mas também em alimentos de origem animal e de charcutaria - podem contribuir para esta associação e para maiores risco de doença.

Visto muitas vezes como um vilão pelo efeito prejudicial que tem na saúde, o colesterol é uma das ‘peças-chave’ da saúde e o seu efeito negativo apenas acontece quando se encontra no organismo em níveis mais elevados do que o recomendado.

“O colesterol é fundamental para a produção de vitamina D, que aumenta a absorção intestinal de cálcio e intervém na regulação do humor, de ácidos biliares, que auxiliam a digestão, e na produção de diversas hormonas, como as hormonas sexuais e o cortisol. Tem também uma importante função estrutural, encontrando-se presente nas membranas de todas as nossas células. O colesterol é produzido pelo nosso organismo e deve também ser obtido através da alimentação, numa dose máxima de 300mg/dia”, explica a Fundação Portuguesa de Cardiologia no seu site.

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