Há perturbações nas escolas, hospitais e recolha de resíduos sólidos em todo o país
A adesão à greve nacional da administração pública, que decorre esta sexta-feira, foi superior aos 80% no turno da noite, com perturbações na recolha de resíduos sólidos em todo ao país e apenas serviços mínimos nos hospitais.
“Os dados que temos da noite mostram um extraordinário arranque da greve, com perturbações na recolha de resíduos sólidos em todo o país e serviços mínimos nos hospitais”, disse o coordenador da Frente Comum, Sebastião Santana.
O dirigente sindical, que falava aos jornalistas à porta do Hospital São José, em Lisboa, disse ainda que, esta sexta-feira de manhã, “já se estão a verificar muitas escolas fechadas, em todo o país, e outras com perturbações”.
“Por exemplo, a Universidade de Lisboa tem a cantina fechada e o infantário fechado”, afirmou, acrescentando que os números de adesão no turno da manhã ainda estão a ser recolhidos.
Referindo-se aos dados conhecidos até ao início da manhã, Sebastião Santana sublinhou: “É revelador que trabalhadores se reveem nesta forma de luta e que sentem necessidade de lutar pelos seus direitos”.
“Estamos a falar num quadro em que os trabalhadores estão a empobrecer e o Governo quer que eles continuem a empobrecer no próximo ano, [pois] não dá resposta à questão das carreiras, não quer alterar de forma decisiva o sistema de avaliação e isto obriga os trabalhadores a virem para a rua”, considerou.
A greve nacional convocada para esta sexta-feira decorre uma semana antes da votação final global da proposta de Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), que prevê aumentos salariais de um mínimo de cerca de 52 euros ou de 2% para a administração pública no próximo ano.
A Frente Comum de Sindicatos exige aumentos salariais de “10% ou um mínimo de 100 euros” para a administração pública no próximo ano e acredita que ainda há tempo para negociar com o Governo.
Questionado sobre o efeito da greve da área da saúde, Sebastião Santana disse que o impacto mostra a luta dos trabalhadores num setor onde há milhares que “trabalham no Serviço Nacional de Saúde e ganham o salário mínimo com 30 anos de serviço”.
Sebastião Santana apontou o caso das carreiras especializadas na saúde – como os médicos, enfermeiros e técnicos de diagnóstico -, que considerou ”muito mal pagas para a responsabilidade e competências que têm”.
“Isto é um problema transversal à administração pública. O Governo diz que quer cativar os trabalhadores, melhorar os serviços públicos, mas não o conseguirá fazer enquanto não alterar estas politicas”, considerou.
Questionado se teme que o ano de 2023 seja de retrocesso para os trabalhadores, o dirigente sindical respondeu: “a continuarem estas políticas por parte do Governo, é uma evidência”.
“O que o Governo propõe é que os trabalhadores empobreçam, não financia os serviços públicos de forma adequada, o SNS tem 55% da sua verba para aquisição de serviços, a escola pública tem menos 6,7% do que o orçamento do ano anterior e não se chega a 1% na cultura. Há um desinvestimento generalizado na administração publica”, afirmou.
O sindicalista disse ainda que esta situação “terá impactos tanto nos trabalhadores da administração pública, como nas funções sociais do Estado, que é outro dos motivos que leva os trabalhadores a estarem em greve”.
Isabel Barbosa, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, presente na conferência de imprensa, disse ainda que os enfermeiros se sentem desvalorizados, com “décadas de serviço não valorizadas” e disse esperar que a adesão à greve de hoje seja maior do que a de quinta-feira.
Apesar que os números de adesão hoje ainda estarem a ser avaliados, Isabel Barbosa disse esperar que os valores fiquem acima dos 70%.
Sobre o impacto no Hospital de São José, adiantou que as consultas externas estão encerradas, assim como a saúde ocupacional, que o serviço de sangue tem apenas dois enfermeiros e que na neurocirurgia (internamentos) todos os enfermeiros fizeram greve.
A conferência de imprensa decorreu à porta do Hospital de São José, em Lisboa, onde estiveram igualmente o deputado Alfredo Maia, em representação do grupo parlamentar do Partido Comunista Português, e a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins.
Greve com 80% de adesão no Hospital de São João no Porto
A greve dos trabalhadores da administração públicaa registar uma adesão de cerca de 80% no Hospital de São João, no Porto, com “maior impacto” nas consultas externas, cirurgias programadas e análises clínicas, revelou fonte sindical.
Em declarações à Lusa, Orlando Gonçalves, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Norte (STFPSN) disse que na região, a adesão no setor da saúde ronda os “70/75%”, mas há hospitais com adesão superior, chegando aos “90%” no hospital de Braga, por exemplo.
No Hospital de São João, no Porto, onde Orlando Gonçalves prestou declarações aos jornalistas, “as salas de espera para consultas externas e recolha de sangue, por exemplo, estavam cheias, mas a maioria dos doentes não foi atendida, devido à falta de assistentes técnicos”.
“Por exemplo, na recolha de sangue, só alguns conseguiram fazer as análises porque um médico ia à sala chamar dos doentes”, sublinhou.
Segundo o sindicalista, “os trabalhadores estão desmotivados com toda a confusão em termos de negociação, com estas fraudes negociais, como é o caso das carreiras especiais”.
“Com este aumento brutal dos preços, quem só ganha pouco mais de 600 euros tem maior dificuldade de aguentar e tem de escolher entre comer ou pagar a renda, que nos últimos quatro anos aumentaram para o dobro”, disse.
Orlando Gonçalves lembrou que “o Governo tem oito dias até à aprovação final do orçamento, tem oito dias para ser justo. Ainda vão a tempo de corrigir algumas injustiças que criaram, porque tem condições para o fazer”.