Vaiado à porta de escola, ministro mostra-se surpreendido com greve de professores

Agência Lusa , SS
16 dez 2022, 12:44
João Costa, Ministro da Educação (Lusa/ António Pedro Santos)

O S.TO.P anunciou na quinta-feira ter convocado greve para todo o mês de janeiro, como forma de protesto pelas últimas decisões do Governo. Outros oito sindicatos de professores ameaçaram convocar uma greve de 18 dias, por distritos, no início do 2.º período letivo. Governo fala em "guerra de sindicatos"

O ministro da Educação, João Costa, mostrou-se esta sexta-feira surpreendido com a greve de professores em curso, argumentando que estão a decorrer negociações com os sindicatos, nas quais o executivo está de boa-fé. Em declarações aos jornalistas após ter sido vaiado por dezenas de professores ao chegar à Escola Secundaria Marques de Castilho, em Águeda, distrito de Aveiro, o governante referiu-se a uma “guerra de sindicatos” para alegar que os representantes dos professores não estão todos unidos nos protestos.

Referindo-se à greve em curso desde 9 de dezembro, convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P.), o ministro acusou o dirigente sindical André Pestana de mentir, garantindo que não há qualquer processo de municipalização da contratação de professores.

“Isso é falso. O líder do sindicato que convoca esta greve sabe que é falso. Já lhe foi dito olhos nos olhos que é falso, mas ele insiste em mentir e por isso só podemos repudiar uma campanha assente na mentira, na desinformação e na manipulação da opinião dos professores”, afirmou o ministro, garantindo que a antiguidade dos professores vai ser o critério no modelo que está a ser negociado com os sindicatos para a vinculação dos professores.

O governante mostrou-se surpreendido com a greve dos professores que está a decorrer, tendo em conta que está em curso um processo negocial em que o Ministério da Educação apresentou “alguns objetivos concretos”, que, no seu entender, não vão contra aquele que é o desejo de grande parte dos professores.

Uma das propostas em cima da mesa passa pela abertura de “mais e muitos” lugares de quadros de escola, por forma a “dar estabilidade aos professores em quadros de escola por oposição aos quadros de zona pedagógica, que obrigam os professores a deslocarem-se por vezes em distâncias superiores a 200 quilómetros”.

O ministro referiu ainda que o Governo pretende avançar com uma “redução significativa das distâncias em que os professores têm de se deslocar e reduzir a precariedade dos professores, propondo em 2023 vincular mais cinco mil professores contratados.

“Respeito sempre o direito à greve e à manifestação. Tenho a maior estima e respeito pelos professores, mas sobretudo tenho também um grande respeito pela concertação social séria e pela negociação sindical que está em curso”, concluiu.

Durante a visita à escola, o ministro parou várias vezes para falar com os alunos e foi ainda interpelado por uma das funcionárias mais antigas do estabelecimento que se queixou de estar a receber o ordenado mínimo, ao fim de 34 anos de serviço.

O S.TO.P anunciou na quinta-feira ter convocado greve para todo o mês de janeiro, como forma de protesto pelas últimas decisões do Governo, nomeadamente a transferência da Educação para as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR).

O despacho do Conselho de Ministros n.º 123/2022, publicado na quarta-feira, determina a transferência, a partilha e a articulação das atribuições dos serviços periféricos da administração direta e indireta do Estado nas comissões de coordenação e desenvolvimento regional.

“Os professores de uma forma clara têm demonstrado com esta luta que não querem, de facto, passar a depender de agradar com perfis ou outros métodos ou critérios subjetivos, e por isso, claramente, queremos manter a graduação profissional como o único critério para a colocação, de uma forma transparente, com uma lista em que qualquer pessoa pode verificar se houve ou não houve ultrapassagens indevidas”, disse André Pestana na quinta-feira.

Para sábado, está convocada uma manifestação nacional na Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, e nessa altura os professores vão discutir a sua suspensão ou continuidade da greve.

Também na quinta-feira, outros oito sindicatos de professores ameaçaram convocar uma greve de 18 dias, por distritos, no início do 2.º período letivo se o Ministério não recuar em algumas das propostas para a revisão do modelo de recrutamento e mobilidade.  

Os oito sindicatos (Fenprof, ASPL, Pró-Ordem, SEPLEU, SINAPE, SINDEP, SIPE e SPLIU) exigem que até ao dia 10 de janeiro João Costa recue em algumas das propostas que apresentou no âmbito da negociação da revisão do modelo de recrutamento e mobilidade, e que inicie novos processos negociais sobre outros temas.

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