43 mortos, 85 feridos, uma demissão, uma detenção: Grécia, "uma tragédia indescritível" - o que se sabe

1 mar 2023, 19:28

Dois comboios circulavam a 160km/h. Colidiram

Quase 24 horas depois do choque entre um comboio de passageiros e um de carga que matou pelo menos 43 pessoas e feriu outras 85, o governo da Grécia continua às voltas para tentar encontrar uma explicação para aquilo que o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, disse ser "uma tragédia indescritível".

O que é que aconteceu? Poderia ter sido evitado? Existe um responsável? Apesar da inexistência de uma causa ou de esclarecimentos concretos, já houve pelo menos uma demissão e uma detenção. O ministro dos Transportes grego, Kostas Karamanlis, assumiu a responsabilidade política pelo caso e apresentou a demissão esta quarta-feira. 

"Era o mínimo que poderia fazer para honrar a memória das vítimas", afirmou num comunicado partilhado com os meios de comunicação social, onde acrescentou que assumia as responsabilidades pelos "fracassos de longa data" do Estado. 

Kostas Karamanlis no local do acidente (George Kidonas/InTime News via AP)

"Um trágico erro humano"

Numa declaração em vídeo publicada no Facebook, já depois de ter visitado o local do acidente, o primeiro-ministro da Grécia disse que "tudo indica que este drama se deve, infelizmente, a um trágico erro humano". 

Kyriakos Mitsotakis contou ainda que esteve com vários familiares das vítimas e de desaparecidos, no hospital de Larissa, que lhe perguntaram "porquê?". "Devemos-lhes uma resposta honesta", disse nessa mesma declaração. 

Tendo o ministro dos Transportes assumido a responsabilidade política, o primeiro-ministro grego disse que falta saber informações por parte da Hellenic Railways Organisation (companhia ferroviária nacional) e da ErgOSE (empresa que realiza os projetos para a ferrovia). Até ao momento, nenhuma das duas entidades emitiu qualquer comunicado. 

Entretanto, Mitsotakis nomeou um ministro de transição para a pasta dos Transportes, Giorgos Gerapetritis, que já tem como missão criar rapidamente uma comissão de peritos independentes e interpartidária para "examinar exaustivamente as causas do acidente", bem como "os atrasos na implementação de projetos ferroviários. 

"Ao mesmo tempo, a Justiça fará seu próprio trabalho. As responsabilidades serão atribuídas", finalizou. 

Kyriakos Mitsotakis (Dimitris Papamitsos/Greek Prime Minister's Office via AP)

Chefe de estação de comboios detido

Durante a manhã desta quarta-feira foi detido o chefe de estação de comboios da cidade de Larissa, acusado do crime de "morte por negligência". A informação foi avançada por uma fonte policial à agência AFP, mas sem mais detalhes. O homem, de 59 anos, negou as acusações, atribuindo o acidente a uma possível falha técnica.

Sabe-se, no entanto, que os dois comboios circularam na mesma linha em direções opostas "durante vários quilómetros". A colisão ocorreu pouco antes da meia-noite de terça-feira (22:00 em Lisboa), a cerca de 354 quilómetros a norte de Atenas.

Alguns dos meios de comunicação social locais dizem que os comboios circulavam a 160km/h e que o software dos sinais luminosos não estava a funcionar e por isso a sinalização teve de ser feita de forma manual.

Perante este cenário, os sindicatos dos transportes já vieram dizer que existe uma "escassez crónica" de recursos humanos no sector, que há registo de vários sinais luminosos avariados e uma desatualização das instalações. 

Quando anunciou a demissão, Kostas Karamanlis disse que já tinha assumido em 2019 que as infraestruturas gregas eram "impróprias para o século 21". Garantiu que tentou que estas melhorassem mas, ainda assim, "esses esforços não foram suficientes". 

A operadora ferroviária Hellenic Railways informou que o comboio de passageiros, que ligava Atenas à cidade de Tessalónica, no norte do país, transportava cerca de 350 pessoas no momento da colisão e que grande parte eram jovens universitários que regressavam de um fim de semana prolongado. 

O governo grego decretou luto nacional de três dias pelas vítimas do acidente e suspendeu a agenda oficial dos governantes, incluindo a da presidente Katerina Sakellaropoulou, até esta sexta-feira. 

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