Ao contrário do que a ministra da Saúde disse no Parlamento, Umo Cami, guineense de 36 anos grávida de 38 semanas, estava mesmo a ser seguida no SNS
A Fita do Tempo
31 DE OUTUBRO, SEXTA-FEIRA DE TARDEA ministra da Saúde, Ana Paula Martins, afirma que a mulher que morreu trata-se de "uma grávida que, efetivamente, não teve acompanhamento até à data em que entrou pela primeira vez no Amadora-Sintra, já com 38 semanas”.
2 DE NOVEMBROO hospital corrige a informação inicialmente dada pela ministra e esclarece que Umo Cami tinha sido afinal acompanhada pelo SNS.
3 DE NOVEMBROPresidente do conselho de administração do hospital apresenta a demissão.
O caso voltou a colocar a ministra da Saúde sob pressão e entretanto o próprio hospital, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) abriram inquéritos para apurar responsabilidades. E já há uma demissão, conhecida esta segunda-feira: a do presidente do conselho de administração do hospital.
O hospital emitiu uma declaração na sexta-feira em que garantia que foi seguido todo o "protocolo clínico". No mesmo dia em que foi revelada a morte, a ministra da Saúde Ana Paula Martins esteve no Parlamento e disse que a mulher que tinha morrido tratava-se de “uma grávida que, efetivamente, não teve acompanhamento até à data em que entrou pela primeira vez no Amadora-Sintra, já com 38 semanas”.
O conselho de administração da Unidade Local de Saúde Amadora/Sintra veio emitir entretanto uma correção às declarações da governante: afinal a grávida estava a ser acompanhada desde julho de 2025, nos cuidados de saúde primários da UCSP de Agualva, onde realizou duas consultas de vigilância da gravidez, nos dias 14 de julho e 14 de agosto. A grávida realizou ainda consultas de Obstetrícia no Hospital Amadora-Sintra nos dias 17 de setembro e 29 de outubro.
A família de Umo Cami reagiu entretanto. Em declarações à CMTV, a cunhada explica que a grávida já estava em Portugal há quase um ano e começou a ser acompanhada no Centro de Saúde de Agualva-Cacém.
Segundo a familiar, em setembro a utente foi reencaminhada para o Hospital Amadora-Sintra, onde teve duas consultas. Na última visita que fez, dois dias antes da morte, apresentava hipertensão, mas foi mandada para casa. Quando começou a sentir-se mal, a cunhada, residente em Portugal há quase 20 anos e com domínio da língua portuguesa, ligou para o 112. Os registos a que a CNN Portugal teve acesso indicam que entre a primeira chamada e a quarta e última antes da chegada do socorro passaram quase 30 minutos.
A família, através de documentos, garante ainda que a grávida tinha autorização de residência desde 27 de dezembro de 2024 e que estava a ser acompanhada desde antes das 26 semanas, estando inscrita no Centro de Saúde de Agualva-Cacém desde 14 de julho de 2025. Segundo os familiares, não houve consultas antes dessa data devido à falta de vagas no SNS.
Esta segunda-feira chegou a notícia da demissão do presidente do conselho de administração. Por sua vez, Ana Paula Martins fala em "falha grave de informação".
“No domingo, o senhor presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde, Amadora Sintra, informou-me de que uma parte da informação que tinha sido dada era incompleta. Ou seja, que a informação que eu tinha veiculado e que me tinha sido dada não era a informação total”, começou por explicar a ministra. “Nessa mesma altura, o senhor presidente do conselho de administração, exatamente porque esta falha é uma falha que é considerada grave, pôs o seu lugar à disposição e eu aceitei a demissão.”
Em comunicado, o hospital fez saber que "as informações adicionais vieram a ser conhecidas apenas em momento posterior, não tendo, por conseguinte, sido do conhecimento do presidente do conselho de administração à data da comunicação inicial, nem podendo, portanto, ter sido transmitidas à tutela". A declaração sublinha ainda que Carlos Sá "reafirma o seu entendimento de que a responsabilidade política e pública é pessoal, indelegável e insuscetível de diluição".